sexta-feira, 14 de março de 2008

JOSÉ MARIA LEAL PAES


Dói, Brasil
josémariaLealpaesÀ ruína moral some a desordem dos bandos facinorosos que assaltam trens, caminhões, invadem e destroem propriedades produtivas, legal e regularmente estabelecidas, sem que a lei e seu aplicador, o Judiciário, imponham-se à baderna. À diarréia verbal dos bailarinos e sirigaitas do poder acrescente a noção esmoler e circence que o governo tem de bem-estar, de desenvolvimento. À indulgência presidencial para com o delito de ministros e apaniguados adicione a inversão das prioridades - favela com teleférico e escola ruim, pedagogia ultrapassada, professores intelectualmente deficientes, financeiramente desamparados, profissionalmente desestimulados. À universidade destroçada, do ensino à pesquisa, contraponha o enriquecimento acintoso dos mascates da educação nutridos pela inação do estado. Ao deslumbramento permissivo da corte, da cúpula de todos os poderes, confronte náusea, nojo, descrença e desencanto do brasileiro trabalhador, honesto, consciente, apto à crítica, confronte-os, em ira, com a tara dos tributos exacerbada pela ineficiência criminosa dos serviços públicos. Ao medo de morrer pelo cuspe da alma raiada do trabuco junte o pânico cotidiano de pôr os pés na rua, no metrô, no ônibus, nas paradas, no estacionamento, no túnel, nas linhas de qualquer cor, no congestionamento, porque o arrastão da bandidagem impera nas cidades e nos campos. Celebra-se a patifaria com o tilintar das taças. Devora-se o erário na gula irrefreável e interminável dos escândalos. O poder cobre-se com o trapo da galhofa e só os que dele se servem fingem que o respeitam. Os intestinos das instituições apodreceram e desconhecem-se, no curto prazo, supositórios que os lavem. Não há plantação ética no país oficial. Nele, a moral é um pum, flatulência ou "vox flatus", que os apresentadores dos telejornais reverberam. Não há líderes adornados pelo reconhecimento unânime da integridade. A decência e os decentes se encolheram na cápsula que lhes resta, o lar anônimo e perplexo ante a prostituição cujo acesso e volta ao aconchego dos palácios são feitos por concurso, pelos DAS e, também, pelo voto. Dói dizer que este é o meu, o seu, o nosso país.

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