terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

ROBERTO ROMANELLI MAIA




SOU LOUCO. NADA MAIS.

Roberto Romanelli Maia
Escritor, Jornalista e Poeta


Sou louco, mas num mundo como este em que vivemos, quem assim se considera, não comete um pecado capital, digno de ser levado em conta pela maioria.

Sim, sou louco, um louco manso, que se transforma a cada dia, avançando calma e tranquilamente em uma loucura sã.

Assim, se pensam ou se declaram que sou louco, é verdade!

E para que eu desistiria de ser louco?

Afinal, se a loucura é minha, deixem-me vivê-la e degustá-la, como posso e devo...

Os lúcidos e racionais não são felizes, a não ser que tirem suas máscaras, que escondem a hipocrisia com que vivem, e sentem quase tudo o que está a sua volta.

Não há maldade na loucura; a vida sem loucura seria triste e sem um propósito maior e melhor.

Nós, os insanos, é que assim somos, porque a descobrimos, uma vida de alegria onde o sorriso é autêntico, espontâneo e natural.

Sendo assim, permitam-me saboreá-la a cada instante, para que possa  descobrir que tipo de loucura é aquela que me domina.

Aliás, muito já descobri sobre o teor da minha loucura, nessa minha estada terrena, ao me questionar sobre quem pode dizer o que é a normalidade e a razão! Como se para ser o homem “normal”, que os outros esperam que eu seja, tenha que me separar de meus sonhos e me fazer descrer de minha capacidade de tê-los e de concretizá-los.

Sim, que graça a vida pode ter, sendo e agindo de forma tão “normal”; que risco corro convivendo sabiamente com essa minha loucura?

Será que por ser louco, vou deixar de adentrar no paraíso, ou parar de sentir que não fui compreendido por muitos que me cercam, mesmo sabendo que se mudar, para satisfazê-los, não serei feliz?

Não, não vale a pena, pois me ausentar de mim mesmo será descobrir que não vivi, não sou, não senti, não amei, como quero viver, ser, sentir e amar.

Sei que entre baixos e altos, alegrias e tristezas, realizações e decepções, amor e desamor, eu tentei e consegui!

Descobri que os que não tentam viver, ser, sentir, pensar e amar, de forma natural, verdadeira e espontânea,  nada vão ter para contar, quando olharem para trás. Ao perceberem que passaram por este mundo sem nada mais, a não ser a frustração do que não viveram, não foram, não sentiram, não pensaram, não amaram, e nada descobriram. Numa autoflagelação que somente será percebida quando for tarde, e não houver mais momentos para serem vividos dentro de um conteúdo e de uma essência de viver em sua maior e mais profunda plenitude.

Tudo fruto da acomodação, da omissão, da indiferença e da covardia dos que preferiram optar por manter uma filosofia de vida hipócrita, repleta de mesmices, de lugares comuns, de chavões e de caminhos já trilhados e conhecidos, sem buscar na verdadeira loucura o sonho e a utopia que pode conduzir à felicidade.

Sim, existe alguma dúvida pior e mais triste do que não ter tentado alcançar a felicidade? E a triste certeza de que se parou no meio do caminho, ou se deixou desviar de seus objetivos de vida?

Sim, sou louco, por vontade, por opção e por decisão! Um louco cada dia mais feliz!

E o que pensar da maioria dos “normais”, que  nem desconfia que somente  os loucos sobrevivem, nesse mundo globalizado, porque somente nós, os loucos, sabemos ousar!

Ir até onde a maioria não vai, por comodismo, medo ou insegurança.

Fugir dos parâmetros, dos estereótipos, dos “pratos prontos” e das certezas e verdades discutíveis e questionáveis que, por vezes, revelam apenas falsidades e mentiras!

Para muitos que não importam, nem se interessam por essas reflexões, é preferível seguir os padrões convencionais, para que durante a vida criem ainda mais desamor, violência e guerras insanas.

Nós, os loucos, ao contrário, não nos vergamos ao primeiro impacto do vento escaldante, que vem do sul, nem ao frio congelante que vem do norte.

Não buscamos, retas, planos, sistemas, regras e  normas porque descobrimos algo bem melhor: o saber contornar e  vencer as curvas, sem pensar apenas no espaço e no tempo físico, que pode significar uma redução das nossas expectativas de vida sem ampliá-las.

Afinal, para que desconhecer ou negar que mesmo que o sol seja de todos, podendo aquecer a maioria,  sua sombra deve ser necessariamente descoberta e  conquistada.

Sim, não viemos a esse mundo a passeio, nem de férias! Nem muito menos para agradar aos “normais” com as suas idiossincrasias, esquisitices, debilidades, anomalias, exigências, maus hábitos, incompreensões, desvios de conduta, invejas, etc.

A melhor das certezas, que não é um patrimônio dos “normais”, está não apenas em sentir a firmeza do solo, que nos aventuramos a pisar, mas em descobrir que até nas estrelas existem caminhos que valem a pena ser trilhados.

Sim, sou louco porque me amo, acredito em mim mesmo e na existência de um Ser Divino, não criado nem construído pelo Homem. Por isso me preocupo, ao ver em meu reflexo no espelho as marcas de noites mal dormidas e de dias onde as preocupações são uma rotina desagradável, quase sempre criada pelas circunstâncias e pelos acontecimentos de vida, que me tornam, dia a dia, ainda mais louco!

Não me preocupam os que não acreditam em si mesmos, nem no mundo que compartilham, sem nenhuma glória nem esforço, por acreditarem ser privilegiados, porque conseguiram bens materiais e financeiros e um poder, sempre efêmero, para conquistá-los e mantê-los.

Fugitivos, quanto a se olharem de fato no próprio espelho, sem atentar para os dias, meses e anos que passam, porque optaram por não abandonar a mediocridade dos acomodados, a lividez mórbida dos que pensam estar vivos, mas que morreram dentro de si mesmo, na compaixão dos enlutados, ainda em vida. Sem que nunca tenham usufruído dos sentimentos, das emoções e das sensações criadas pela insubstituível e necessária loucura que os levaria, um dia, a descobrir que tudo valeu a pena!

E como valeu!

Ainda mais se recuperarmos a falsa liberdade, que a sociedade retirou de nós, loucos, para que ela retorne, mesmo limitada e descaracterizada, a tantas vidas de onde nunca deveria ter saído.

Um comentário:

Anônimo disse...

parabéns, amado poeta.