SOU
LOUCO. NADA MAIS.
Roberto Romanelli Maia
Escritor, Jornalista e Poeta
Sou louco, mas num mundo
como
este em que vivemos, quem assim se considera, não comete um pecado capital,
digno de ser levado em conta pela maioria.
Sim, sou louco, um louco
manso, que se transforma a cada dia, avançando calma e tranquilamente em uma
loucura sã.
Assim, se pensam ou se
declaram que sou louco, é verdade!
E para que eu desistiria
de
ser louco?
Afinal, se a loucura é
minha,
deixem-me vivê-la e degustá-la, como posso e devo...
Os lúcidos e racionais
não
são felizes, a não ser que tirem suas máscaras, que escondem a hipocrisia
com
que vivem, e sentem quase tudo o que está a sua volta.
Não há maldade na
loucura; a
vida sem loucura seria triste e sem um propósito maior e
melhor.
Nós, os insanos, é que
assim
somos, porque a descobrimos, uma vida de alegria onde o sorriso é autêntico,
espontâneo e natural.
Sendo assim, permitam-me
saboreá-la a cada instante, para que possa
descobrir que tipo de loucura é aquela que me
domina.
Aliás, muito já descobri
sobre o teor da minha loucura, nessa minha estada terrena, ao me questionar
sobre quem pode dizer o que é a normalidade e a razão! Como se para ser o
homem
“normal”, que os outros esperam que eu seja, tenha que me separar de meus
sonhos
e me fazer descrer de minha capacidade de tê-los e de
concretizá-los.
Sim, que graça a vida
pode
ter, sendo e agindo de forma tão “normal”; que risco corro convivendo
sabiamente
com essa minha loucura?
Será que por ser louco,
vou
deixar de adentrar no paraíso, ou parar de sentir que não fui compreendido
por
muitos que me cercam, mesmo sabendo que se mudar, para satisfazê-los, não
serei
feliz?
Não, não vale a pena,
pois me
ausentar de mim mesmo será descobrir que não vivi, não sou, não senti, não
amei,
como quero viver, ser, sentir e amar.
Sei que entre baixos e
altos,
alegrias e tristezas, realizações e decepções, amor e desamor, eu tentei e
consegui!
Descobri que os que não
tentam viver, ser, sentir, pensar e amar, de forma natural, verdadeira e
espontânea, nada vão ter para contar, quando olharem para trás. Ao
perceberem que passaram por este mundo sem nada mais, a não ser a frustração
do
que não viveram, não foram, não sentiram, não pensaram, não amaram, e nada
descobriram. Numa autoflagelação que somente será percebida quando for
tarde, e
não houver mais momentos para serem vividos dentro de um conteúdo e de uma
essência de viver em sua maior e mais profunda plenitude.
Tudo fruto da acomodação,
da
omissão, da indiferença e da covardia dos que preferiram optar por manter
uma
filosofia de vida hipócrita, repleta de mesmices, de lugares comuns, de
chavões
e de caminhos já trilhados e conhecidos, sem buscar na verdadeira loucura o
sonho e a utopia que pode conduzir à felicidade.
Sim, existe alguma dúvida
pior e mais triste do que não ter tentado alcançar a felicidade? E a triste
certeza de que se parou no meio do caminho, ou se deixou desviar de seus
objetivos de vida?
Sim, sou louco, por
vontade,
por opção e por decisão! Um louco cada dia mais feliz!
E o que pensar da maioria
dos
“normais”, que nem desconfia que somente os loucos sobrevivem,
nesse
mundo globalizado, porque somente nós, os loucos, sabemos
ousar!
Ir até onde a maioria não
vai, por comodismo, medo ou insegurança.
Fugir dos parâmetros, dos
estereótipos, dos “pratos prontos” e das certezas e verdades discutíveis e
questionáveis que, por vezes, revelam apenas falsidades e
mentiras!
Para muitos que não
importam,
nem se interessam por essas reflexões, é preferível seguir os padrões
convencionais, para que durante a vida criem ainda mais desamor, violência e
guerras insanas.
Nós, os loucos, ao
contrário,
não nos vergamos ao primeiro impacto do vento escaldante, que vem do sul,
nem ao
frio congelante que vem do norte.
Não buscamos, retas,
planos,
sistemas, regras e normas porque descobrimos algo bem melhor: o saber
contornar e vencer as curvas, sem pensar apenas no espaço e no tempo
físico, que pode significar uma redução das nossas expectativas de vida sem
ampliá-las.
Afinal, para que
desconhecer
ou negar que mesmo que o sol seja de todos, podendo aquecer a maioria,
sua
sombra deve ser necessariamente descoberta e
conquistada.
Sim, não viemos a esse
mundo
a passeio, nem de férias! Nem muito menos para agradar aos “normais” com as
suas
idiossincrasias, esquisitices, debilidades, anomalias, exigências, maus
hábitos,
incompreensões, desvios de conduta, invejas, etc.
A melhor das certezas,
que
não é um patrimônio dos “normais”, está não apenas em sentir a firmeza do
solo,
que nos aventuramos a pisar, mas em descobrir que até nas estrelas existem
caminhos que valem a pena ser trilhados.
Sim, sou louco porque me
amo,
acredito em mim mesmo e na existência de um Ser Divino, não criado nem
construído pelo Homem. Por isso me preocupo, ao ver em meu reflexo no
espelho as
marcas de noites mal dormidas e de dias onde as preocupações são uma rotina
desagradável, quase sempre criada pelas circunstâncias e pelos
acontecimentos de
vida, que me tornam, dia a dia, ainda mais louco!
Não me preocupam os que
não
acreditam em si mesmos, nem no mundo que compartilham, sem nenhuma glória
nem
esforço, por acreditarem ser privilegiados, porque conseguiram bens
materiais e
financeiros e um poder, sempre efêmero, para conquistá-los e
mantê-los.
Fugitivos, quanto a se
olharem de fato no próprio espelho, sem atentar para os dias, meses e anos
que
passam, porque optaram por não abandonar a mediocridade dos acomodados, a
lividez mórbida dos que pensam estar vivos, mas que morreram dentro de si
mesmo,
na compaixão dos enlutados, ainda em vida. Sem que nunca tenham usufruído
dos
sentimentos, das emoções e das sensações criadas pela insubstituível e
necessária loucura que os levaria, um dia, a descobrir que tudo valeu a
pena!
E como
valeu!
Ainda mais se
recuperarmos a
falsa liberdade, que a sociedade retirou de nós, loucos, para que ela
retorne,
mesmo limitada e descaracterizada, a tantas vidas de onde nunca deveria ter
saído.
Um comentário:
parabéns, amado poeta.
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