Há uns dois anos li os poemas inéditos de Claudio Willer que compõem o livro “ A verdadeira história do século XX.” Na época, fiz um texto com minhas impressões. Segue um trecho, acho que combina com este momento, quando acaba de ser lançado o filme “Claudio Willer, poesia em estúdio." Segue um fragmento do meu texto e o link do vídeo.
Imagens sobre imagens
“São poemas para se ler num só gole, eles nos chamam. Depois voltamos para uma segunda, terceira leitura para tentar apreender significados mínimos, filigranas de palavras e seus sentidos. “A verdadeira história do século XX” traz a respiração de um livro invisível e também se abre para o que é visível em nosso tempo: afetos e angústias, nas imagens que se sucedem nos cinemas, eclodindo em nossas cabeças como um chamado também ao filme interno. Você diz: “cinema, seu verdadeiro nome é confissão” e nossas impressões se ampliam. Não estamos sozinhos nesta sala, as vozes se somam, como se Reichenbach, Hitchcock e Bergman fossem interlocutores nos ensinando a ver os símbolos de perto, com o devido respeito também ao que não se revela. A arte sempre terá sentidos obscuros.
Fazer poemas sobre filmes é como um relato de sonhos, psicanálise delicada. Você tão artista quanto os diretores, como se fizesse o filme sobre os filmes, revestindo de camadas a eficácia estética. Das imagens à sintaxe ganha a poesia. E nosso olhar se derrete como “montanhas de manteiga ao sol.”
Depois ainda há um salto para dentro de emoções singulares. Entram o poeta surrealista e o poeta beat. O primeiro trançando cabelos e pensamentos sobre as cidades, poeta urbano dos monumentos sentimentais construídos com as musas, tantas, como num passeio de mãos dadas com uma galeria feminina. Nenhuma tem nome, todas são poesia, o tempo é subvertido, não há passado nem futuro, tudo corre num presente inapreensível, um tempo líquido, mobilidade sôfrega ainda em linguagem de cinema. Mas é a vida que passa, em cenas surreais sem o crocodilo de Pierre Schöller porque não há propriamente angústia. O exercício é lírico, de uma liberdade surpreendente, com a beleza acachapante dos colírios de palavras.
Depois ainda há um salto para dentro de emoções singulares. Entram o poeta surrealista e o poeta beat. O primeiro trançando cabelos e pensamentos sobre as cidades, poeta urbano dos monumentos sentimentais construídos com as musas, tantas, como num passeio de mãos dadas com uma galeria feminina. Nenhuma tem nome, todas são poesia, o tempo é subvertido, não há passado nem futuro, tudo corre num presente inapreensível, um tempo líquido, mobilidade sôfrega ainda em linguagem de cinema. Mas é a vida que passa, em cenas surreais sem o crocodilo de Pierre Schöller porque não há propriamente angústia. O exercício é lírico, de uma liberdade surpreendente, com a beleza acachapante dos colírios de palavras.
Vem o poeta beat, celebra o sexo e as orgias silábicas, a transgressão pelo corpo e pelo verbo, a construção de um mundo novo que ficou nos parques e nas praias, nos acampamentos onde havia tempo para o por do sol e o levantar da lua. Leviatãs do risco, magos da ousadia estética misturada à vida, experimentalismo na própria pele.
Poema depoimento, poema testemunha, poema como a respiração que buscamos de olhos fechados para abrir as portas da percepção. Sobretudo, a síntese de um grande caleidoscópio filosófico. Eis minha impressão sobre o livro.
Você agradece ao diretor de Persona por lhe dar a chance de criar o “mais hermético dos seus poemas.” Eu te agradeço por não te decifrar inteiramente. A arte sempre terá sentidos obscuros.
Poema depoimento, poema testemunha, poema como a respiração que buscamos de olhos fechados para abrir as portas da percepção. Sobretudo, a síntese de um grande caleidoscópio filosófico. Eis minha impressão sobre o livro.
Você agradece ao diretor de Persona por lhe dar a chance de criar o “mais hermético dos seus poemas.” Eu te agradeço por não te decifrar inteiramente. A arte sempre terá sentidos obscuros.
Célia Musilli.
O filme Claudio Willer, Poemas em Estúdio" acaba de ser lançado no Portal Cronopios. Traz a força da poesia de um mestre nas leituras deNatalia Barros, Celso de Alencar, Paulo Sposati Ortiz, Maria Leite e do próprio Willer. A produção é de Valdir Rocha, com direção, pesquisa musical e montagem de Pipol Cronopios
LANÇAMENTO ONLINE. AGORA NO CRONÓPIOS.
http://cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=5819
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