quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

LÉO CAVALCANTI


RELIGAR E DAR OUVIDOS AO MISTÉRIO:
O POP TRANSCENDENTAL DE LEO CAVALCANTI
Por TATÁ AEROPLANO

Leo Cavalcanti foi um desses encontros mágicos. Tulipa sempre dizia: “Tatá! Você tem que conhecer o Leo! Você tem que conhecer o Leo!” O que aconteceu no final de 2005 em
São Lourenço, MG; foi amizade e afinidade musical dessas que pouquíssimas vezes
acontecem. E agora estou aqui com a missão de escrever sobre e totalmente absorvido por esse lindíssimo trabalho, que não cabe em palavras e sensações porque é metafísico, é plural, é movimento, é arte no seu estado mais elevado.
“Religar” tem que ser escutado com calma, como se estivesse numa sessão de cinema, só
você e a tela, só você e as músicas, palavras, sons, sensações, imagens, amores, danças, ritmos, lugares,essências, sabores e quando você se dá conta, o disco acabou,
o filme terminou. É uma película sonora que vai te embalar, um clássico!
Então você dilata o tempo para apreciar mais e mais vezes.
Projeto realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura - Programa de Ação Cultural - 2009.
DELEDELA
As canções são fortes, viciantes, dançantes, com melodias e letras lindas. E você quer mais, quer mostrá-las aos mais próximos e naturalmente elas ganharão a dimensão das rádios, embalarão trilhas e histórias de vida mundo afora. O disco do Leo é exatamente assim, genuinamente “Pop”, ou melhor, “Pop Transcendental”.
Dar “Ouvidos ao Mistério” é o nome da primeira faixa, e dar ouvidos ao grande mistério é fundamental para prosseguir viagem em “Religar”, disco produzido por
Leo, Décio 7 e Cris Scabello, mixado por Gustavo Lenza e masterizado por Felipe Tichauer Betão Aguiar também participou da produção de algumas faixas que estão no disco. Os arranjos em geral foram criados por Leo, assim como a concepção sonora que foi desenvolvida inicialmente em seu estúdio caseiro e totalmente integrada ao processo de composição. É um trabalho criado e confeccionado a partir de muitas edições, misturando elementos acústicos e eletrônicos como retalhos – religados, resultando num disco de camadas. Outra coisa muito bem acertada em Religar, foi a maneira como Leo trabalhou as camadasde vozes, sempre com muita criatividade e propriedade. A banda formada por; Guilherme Held (guitarra), Marcelo Dworecki (contrabaixo) e Décio 7 (Bateria), marcou presença com personalidade, acrescentando uma série de elementos sonoros de modo a refinar e tornar orgânicos os arranjos produzidos por Leo. O disco conta com a participação de Tulipa em “Sem (des)esperar”, Marcelo Jeneci em “Acaso”, Douglas Felis tocando Alaúde e Derbak, entre muitos instrumentistas. Eu tive a felicidade de participar em “Chuvarada”, música nossa, única parceria do álbum todo composto por Leo. Religar é um álbum tecnicamente primoroso, épico, místico e conceitual, concebido com paixão,
questionamentos, embates do eu com o outro, onde Leo se entrega de corpo e alma, traz o mundo para dentro de si e recria suas influências com originalidade.
Alaúdes, castanholas, música oriental, djambes, flamenco, violinos, trompetes, música
norte-americana, estalos, afoxés, bandolins, cellos, programações eletrônicas estão em plena harmonia com a banda e cada palavra cantada por Leo: Artista sublime! Cantor extraordinário!
O mestre Glauber é reverenciado com vinhetas do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Fernando Pessoa com o Livro do Desassossego ganha citações na canções “Soldado” e “Vou Ser Você”, e Frederico Garcia Lorca aparece na “Vinheta: Cantos Novos” Cada canção de “Religar” dialoga com a procura incessante de mudar, de buscar o mundo mas sem deixar também de olhar pra dentro. Em “Inalcançável Você”, Leo diz:
E se eu disser que eu quero aprender a me amar
e te amar também ao mesmo tempo
Você teria tempo?
e depois emenda:
Eu inventei o Inalcançável Você
me fiz escravo do meu medo de ser.
Já a belíssima música que dá nome ao álbum começa com os versos
Me cansei do cansaço
de não buscar meu mais sincero porque dói demais
outros trechos da mesma canção são muito reveladores
Ensaios de encontro com Deus
Mas é um ego velho que desenha os sonhos seus
e em seus traços a verdade se escondeu (…)
o meu frágil é meu forte
morte é sempre um renascer
o milagre é uma constante
é só querer ver
pra ser”.
“Religar” é a sétima faixa do disco e está justamente no centro, no meio, religando o início ao fim.
Conversando via email com o Leo sobre o processo de criação e concepção do disco, transcrevo um
trecho que acho ser fundamental para “Religar”:
“A constante necessidade de transformação, do superar-se… do deixar-se nu para si mesmo, com
suas fraquezas e forças… creio ter a ver com isso. Colocar-se em xeque para poder ser realmente
espontâneo e amar-se verdadeiramente. Essa é uma questão que todos vivem em algum nível:
a grande dificuldade de se enxergar e de ser realmente livre consigo mesmo. Uma questão desta
era, que está atingindo seu limite… penso que essa é a principal mensagem do disco.
Assumir o absurdo e a beleza da existência, a fraqueza e as limitações do estado atual de
autoconsciência e o grande potencial disso tudo. Religar é o que podemos fazer”.
O mundo precisa ser apreciado com tempo, com olhos atentos, com calma e paciência, com
“A Tal da Paciência”. É preciso estar atento e forte, respirar fundo, recomeçar e religar.
Leo nos presenteia com canções lindas, ensinamentos pra nossa geração, música feita
pro corpo e pra alma com muito amor, ciência, desprendimento e (in)consciência.
Leo, obrigado por me fazer voar esses dias. Obrigado por esse belo disco.
Tatá Aeroplano
Mercedes Tristão / Carola González
namídia assessoria de comunicação
(11) 3034-5501. ramal 217
DELEDELA
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