sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
NEIL FERREIRA
PAC 2: Programa de Ampliação da Craco(Lu)lândia
Neil chapado Ferreira
Craco(Lu)lândia: “Acende-puxa-prende-passa”. Kassab não dá nó sem ponto; pensou com a cabeça do bandido e deu um nó górdio no lulo-petismo. O ponto foi de placa, no jogo que suas ambições políticas jogam, ao assentar a pedra fundamental da Craco(Lu)lândia, obra do PAC 2.
Bêbado equilibrista, tento explicar o que consigo enxergar, mesmo com a cabeça obnubilada pela maresia.“Maresia, sente a maresia/ Maresia uhuh/ Acende-puxa-prende-passa”. Quando Gabriel o Pensador lançou “Cachimbo da Paz”, a molecada que lotava seus shows cantava em êxtase, como se aquelas cabecinhas todas estivessem embevecidas pelo fumacê. Estavam.
O refrão grudou nos ouvidos, a memória mastigou-o como se fosse chicletes. Os profissionais do jingle, que passam dias e noites de trabalho insano procurando chicletes parecidos, raramente alcançam essa glória suprema, talvez uma ou duas vezes na vida, se tanto.
Gabriel o Pensador conseguiu colocar no momento certo o refrão certo nas cabecinhas certas. Os adolescentes, seu público, talvez se sentissem reprimidos por pais e mães, que gozaram de total liberdade na juventude. Queriam romper as amarras. Quais amarras ? Se eu soubesse, engarrafava a sabença e vendia nas drogarias, daria mais grana do que o “Facebook”. Filho não vem com Manual do Proprietário.
Acho que eram as amarras de pais caretas, que tinham queimado tanta erva lá atrás, nos bons tempos da revolução dos costumes dos anos sessenta, e agora véideguerra ficam descomendo regras pra riba dos seus rebentos.
“Cachimbo da Paz” é um jingle da maconha e contem um pouco de crítica ao cigarro e álcool, drogas permitidas usadas sob a proteção da lei. “Apaga a fumaça do revólver e da pistola / Manda a fumaça pra cachola” dá cana; transportou-vendeu-comprou-acendeu-puxou-prendeu-passou,teje preso. O “Cachimbo da Paz”(& Amor, Bicho) é um fora da lei.
O fumito deixa um perfuminho que é a maior bandeira. Uzômi vinham farejando e rosnando e nada achavam. A molecada descolada, naquele tempo ainda não havia essa palavra (nem “imperdível”, a lingua era tipo mais manera de escrever e de falar, meu ) estava sempre cheirosinha do inocente patchuli, colocado nas gavetas das blusas, cuecas, calcinhas, meias, bermudas, camisetas.
Cheirou a patchuli, tá marcando presença mermão. Mas não há bem que sempre dure, uzômi se tocaram também nessa. Aí, acende-puxa-prende-passa-cheirou-a-patchuli, teje preso mano. Jogo de gato e rato; esquecer, quem há de.
“Aviõezinhos” aterrisam nas escolas e fornecem a carga aos colegas de classe. Depois do tapa no banheiro, é ir comer uma coisinha no carrinho ali no portão, que poderia ostentar o sugestivo nome de “Larica”.
Depois... nada; vida adulta careta, trampo, uma chatice; cadê a vida bandida cheia de graça, o senhor é conosco, vinde a nós as vossas meninas de minissaias... cadê a mesada ?
Formados em cigarrinho e cervejinha no Fundamental e em fumito no Colegial, a impressão é que se parava por aí. A fumaça do fumito já é quase aceita; tem até passeata de maconheiros exigindo a legalização da diamba. Não é o que traficantes querem. Ao perder o sabor da ilegalidade, perde metade do sabor, perde metade dos usadores. Adeus metade do lucro.
O cachimbo, porém, continuou sua carreira vertiginosa, passou pelo Vestibular, Curso Superior, Mestrado, PhD e Pós-Doc, graduando-se em Arma de Suicidio – é Cachimbo de Crack Magna Cum Laudae.
Os viciados atiram-se ao crack como se fosse a última coisa que fazem na vida; e é. Traficantes e viciados invadem pontos da cidade, que se transformam nas cracolândias. E você conhece a lei fundamental do capitalismo selvagem “Enquanto houver um otário comprando, haverá um esperto vendendo”.
A cracolândia de Sumpólo há pouco tempo recebeu as atenções da Prefeitura e do Governo do Estado. Houve uma gritaria histérica do lulo-petismo, acusando de “ação arbitrária e violenta” a prisão dos traficantes pela PM e a oferta de apoio aos viciados. Ocuparam as tevês, rádios, jornais e blogs amansados da internet com a sua pregação, parecia que a cracolândia é um gueto de resistência e o viciado, um herói antifacista.
Duas coisas aconteceram, inesperadas para quem queria tranformar os viciados em assunto da campanha do brimo Haddad: (1) uma pesquisa mostrou que 84% da população apoiavam a ação da PM; e (2) Kassab deu um terreno de 4.400 metros quadrados no coração da cracolândia, para um improvável e inexistente Instituto Lula de não sei qual finalidade. Seria, digamos, a Craco(Lu)lândia.
Kassab deu um cala-boca nos lulo-petistas, que poderiam atrapalhar suas ambições políticas. As bocas calaram-se. Nem as hordas do padre Lancellotti são vislumbradas de novo nas ruas. O PT, quem diria, virou base alugada do Kassab.
Ao Cara, resta fazer o que sempre fez na vida, dar mais um golpe de marketing e anunciar que vai construir no local as tais Clínicas de Reabilitação, tão prometidas na campanha que elegeu o Poste. Só anunciar como sempre fez; nada fará, como nunca fez. O cachimbo continuará fumegando altaneiro, acendendo-puxando-prendendo-passando – e matando. Quem duvidar, que fume a primeira pedra.
PS: Espero o Gilberto Carvalho dizer que “Salvador é uma praça de guerra” e a chefa dele dizer que “é uma barbárie”, como já disseram antes de eventos muito menos graves, sem saques nem mortos, ocorridos no Estado de Sumpólo.
“STONED, EVERYBODY MUST GET STONED” (Bob Dylan).
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