UM NOVO MODELO EDUCACIONAL
Eu esperava uma
resposta aos anseios da proposta contida em meu livro O AMOR QUE FICOU sobre a
necessidade de adoção de um novo modelo educacional para o País. Minha
expectativa é que a proposta gerasse uma reflexão, não só da Área da Educação,
como de diversos segmentos da sociedade e o assunto fosse colocado em
discussão, propiciando assim a elaboração de diretrizes para um novo projeto
educacional.
Não me
cabe aqui analisar
e questionar as
causas do que
posso chamar de desprezo à proposta, e nem mesmo gerar uma
polêmica em torno do assunto. Prefiro admitir que faltou à proposta um
definição mais clara de minhas expectativas para esse novo modelo.
Acredito que
o estabelecimento de
parâmetros possam fornecer
referencias maiores de reflexão, avaliação e desenvolvimento de idéias
para um melhor definição de um novo modelo. Por isso passo a expôr meus
sentimentos esperando poder contribuir mais especificamente e, finalmente,
gerar a necessidade da reflexão e discussão a respeito.
No meu ponto de
vista, a partir do ensino médio, haveria de se incluir 4 novas matérias ao
programa curricular: Filosofia, Literatura, OSPE(Organização Social, Política e
Econômica) e Educação Física.
FILOSOFIA – A Filosofia
á a ciência dos princípios de das causas, é a
área de estudos que envolve a investigação, análise, discussão, formação e
reflexão das idéias. A inserção da filosofia no programa educacional, já a
partir do ensino médio com ênfase, sobretudo à metafísica e à axiologia, seria
de fundamental importância na formação moral e ética de nossos jovens.
Explicando
melhor, a temática da ética e da
moralidade humana, e de construção de valores pessoais socialmente justificados
não tem sido muito valorizada em nossa sociedade e até mesmo na estrutura de nossas
escolas. De maneira indireta, consciente ou inconsciente, as escolas trabalham
valores em seus alunos e alunas, mas isso vem sendo feito de forma
desarticulada, incipiente e, de fato, com base nos valores de cada grupo ou de
cada professor. Isso se torna problemático, já que os valores de determinado
grupo ou de um determinado indivíduo podem não estar de acordo com os
interesses gerais da sociedade. É o caso, por exemplo, da defesa de valores
discriminatórios por parte de algumas pessoas.
Portanto, o estabelecimento da
matéria Filosofia no programa do ensino médio, exigiria levar à
comunidade escolar, reflexões e propostas de trabalho que ajudem seus
participantes a compreender os pressupostos da ética e da moral, e a construir,
dentro da comunidade escolar, o que vem sendo chamado de valores universalmente
desejáveis. Ou seja, reconhece-se que existem alguns valores, como a
democracia, a justiça, e aquelas presentes na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, que, apesar de não deverem ser impostos a toda e qualquer cultura
existente no planeta, para nós brasileiros são desejáveis e devem ser
universalizados no contexto social. Para isso há de se desenvolver ações
visando atingir dois objetivos:
1. Compreender os fundamentos da
ética e da moralidade, como os seus
princípios e
normas podem ser trabalhados no cotidiano das escolas e
da comunidade.
2. Compreender e
introduzir no dia-a-dia
das escolas o
trabalho
sistemático e
intencional sobre valores desejados por nossa sociedade.
Neste
segundo objetivo, o programa deve
assumir a existência de alguns valores desejáveis em nossa sociedade e cultura
neste momento histórico e tão difícil que o País atravessa. Democracia,
justiça, solidariedade, cidadania, igualdade de oportunidades e respeito às
diferenças são alguns desses valores desejáveis pela sociedade brasileira e
devem ser alvo das atenções do programa.
Há de
se acrescentar que
o aprofundamento em
estudos de valores
como a cidadania se faz
essencialmente necessário, já que a cidadania indica a posição política de uma
pessoa e os direitos que essa pessoa tem e pode exercer. “A cidadania expressa
um conjunto de direitos que dá a pessoa a possibilidade de participar
ativamente da vida e do governo de um povo. Quem não tem cidadania está
marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa
posição de inferioridade dentro do grupo social.” (Dalmo Dallari-Direitos
Humanos e Cidadania). No Brasil, de uma forma geral, não sabemos o que é
exercer a cidadania, achamos que é votar, pagar impostos (da forma como nos são
impostos), apanhar calado, “engolir sapos”, acostumar às injustiças, dar um
“jeitinho” para tudo, acreditar que direitos não estão associados à deveres, pensar
que Deus é brasileiro e se as coisas estão como estão é por vontade D' Ele.
O que tem
caracterizado a ausência
da organização, da
participação e da intervenção da
sociedade nos destinos do País tem sido exatamente a falta de conhecimento
específico, e um programa educacional introduzindo a Filosofia é que permitiria
ao jovem em formação, de todas as classes e de todos os níveis adquirir essa
capacidade.
LITERATURA – A adoção
da Literatura como uma matéria específica, e não como um
capítulo dentro da matéria da Língua Pátria irá permitir um aprofundamento
maior à contribuição que ela dá ao jovem em formação no seu desenvolvimento
como cidadão, trazendo benefícios incalculáveis.
O que
temos notado em
nossa sociedade é que a leitura
não se constituiu em um hábito, e conseqüentemente, os benefícios gerados por
ela estão ausentes da formação do povo brasileiro. O desenvolvimento da capacidade de interpretação,
o desenvolvimento de valores desejáveis à sociedade, a assimilação ortográfica
e gramatical, a história, a geografia, enfim todos os ensinamentos que a
Literatura propicia elevaria a capacitação do jovem em formação e poderia
constituir-se em importante aliada não só da base filosófica requerida, mas do
aspecto sociológico, político e econômico exigidos.
OSPE –
A introdução de
uma matéria, que
poderia também um desdobramento, uma parte que tratasse da
Sociologia e Política; outra que tratasse das noções básicas da Economia; é
tudo aquilo que faltou ao povo brasileiro em seu processo de formação e que o tem tornado um alienado do processo
sócio-político-econômico do País, e conseqüentemente o mantém no mais absoluto
obscurantismo, incapaz de se organizar,
participar e intervir na vida nacional.
Podendo até se afirmar que foi o que gerou homens públicos tão incapacitados no
exercício de suas funções.
Prefiro a
definição de Sociologia como “todo grupo ou agregado social que vive
submetido às mesmas leis e cujas
instituições fundamentais são determinadas por padrões culturais comuns”. Por
isso, a matéria exerceria fundamental importância no desenvolvimento do sentimento
coletivo, da solidariedade social e do espírito de cooperação nos indivíduos
associados, tirando do povo brasileiro esse espírito de individualismo a que se
acostumou e o impede de se associar e se organizar em defesa dos interesses
comuns da Nação.
No que
tange à Política, não
deveria abordar apenas a política nacional, mas a história política
universal, desde os primórdios da civilização até os nossos dias. Deixar de ser
tratada como um capítulo ligeiramente pincelado dentro do conteúdo da matéria
História, para adquirir um status de um importante estudo no contexto
sócio-político-econômico. Rever sim, a história política brasileira, recontá-la
acrescida da crítica aos equívocos cometidos, desmistificar os falsos heroísmos
construídos na ignorância e desinformação da sociedade brasileira, enfim,
investigar a realidade de sua trajetória.
E, no
que se refere
à Economia, definir
as noções e conceitos básicos que regem sua
contribuição a administração de um país, de uma nação. Fazer entender ao jovem
em formação como funciona a gestão econômica, seu processo de desenvolvimento e
como é administrada. Qual a sua participação dentro da Economia Nacional como
cidadão do futuro. Os tributos que vai pagar, como ele participaria com
contribuinte desde a hora em que se levanta até a hora em que vai dormir, quais
os retornos que deveria exigir da administração pública. Como esse dinheiro é
arrecadado, como é distribuído, O que é distribuição de riquezas, porque existe
um desequilíbrio tão acentuado no País, o que deveria ser feito para
equilibrá-la, de que forma ele, como cidadão, poderia contribuir para isso. O
que é economia interna e economia externa. Enfim, dar ao jovem em formação um
embasamento, um conhecimento que nunca foi dado antes.
EDUCAÇÃO FÍSICA
– Rever e reformular a Educação Física. Desde o ensino fundamental até o último
ano da Universidade. Sua contribuição ao desenvolvimento do jovem em formação é
importantíssimo e inqüestionável, e tem sido tratada com um descaso
indescritível. Há de se reformulá-la radicalmente, instituindo uma nova
conceituação para sua prática em todas as escolas e todos os níveis de
escolaridade. Depois dessa reformulação, instituir a competição entre escolas,
cidades e estados, com a organização de
torneios estudantis e universitários, campeonatos municipais e estaduais;
observando-se que nos países de primeiro mundo a base das equipes participantes
dos Jogos Olímpicos (e tantas outras competições compatíveis) é universitária, e começa o seu desenvolvimento no colégio
básico. Sem deixar de mencionar, inclusive que a prática da Educação Física é
uma inqüestionável construtora de valores no indivíduo. “Mens sana, corpore
sano.”
CONSIDERAÇÕES
FINAIS –
Ainda que a
proposta indique as inserções
à partir do ensino médio, há de
se criar um programa introdutório/preparatório a partir do ensino fundamental.
Nei
Silveira de Almeida
15.10.2007
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