Eu Gosto do Ringo´s Rotogravure
O disco Rotogravure de Ringo Starr, lançado em 1976, encontrei em vinil nos
anos 80. Estava criando teias de aranha numa prateleira da lojinha de discos.
Gostei da capa, uma foto do Ringo com uma luneta. Ao abrir o álbum, você se depara com fotos de seus
amigos, que participaram do disco: como John Lennon, Paul & Linda
McCartney, George Harrison, Eric Clapton, Peter Frampton entre outros. No meio
dos anos 70, os velhos roqueiros me declaravam que se tratava de um disco fraco,
que Ringo era brega, sem talento, péssimo baterista, e o disco mostra um pop
simples, que poderia ser ignorado perto do que os Beatles ou qualquer disco
solo deles pudesse representar!
Engraçado, naquela época, já havia
ouvido muita música, mas não concordava com a maioria das opiniões - é
evidente, que sempre preferi discos de John/Paul ou Harrison, que fizeram
trabalhos soberbos em suas carreiras solos, porém, o disco Rotogravure, tem
momentos muito bons como em Hey Baby,
um pop cativante que te instiga a entrar no clima do balanço - quem já viu o
clipe também sabe que é legal de se ver, simples e bem-humorado como a figura
de Ringo Starr.
Há
coisas pops como A Dose of Rock and
Roll/Pure Gold/Crying/Cookin in The Kitchen of Love, I Still Love You/This be
Called Song... Claro
que, se comparado aos discos da época, Rotogravure
não é tão brilhante como “Venus &
Mars” (Paul McCartney & Wings), “33
& 1/3” (George Harrison), ou mesmo ao “Rock and Roll” (John Lennon) - entretanto, o tempo é mesmo o
melhor conselheiro, e se você for ouvir o que se produziu no mundo pop dos anos
posteriores, perceberá que “Rotogravure” é melhor que muita coisa pop e bandinhas
que surgiram na Inglaterra e no mundo ao longo dos anos.
Muito se diz, que Ringo Starr nunca
foi um bom baterista - quem leu o livro de George Martin (ex-produtor dos
Beatles) saberá que Ringo foi elogiado e admirado por grandes bateristas da
música pop, de Phill Collins ao Kraftwerk! Ringo jamais foi um solista, mas seu
talento está comprovado durante toda a carreira beatle, principalmente, em Tomorrow Never Knows/Strawberry Fields
Forever/I I´am The Walrus/With a
Little Help From My Friends/A Day in The Life... e várias outras, seu kit
de bateria era envolvente, e ele ainda cantava rocks como Boys/I Wanna be Your Man/What Goes On... tinha o magnetismo que as crianças
sempre percebem em espíritos de profunda simpatia. Seu acompanhamento é
certeiro, matemático no ritmo, isso é fundamental para quem faz a "cozinha
sonora". Pode não ser o mais produtivo entre os Beatles, mas sua atuação
foi essencial desde Please Please Me (o primeiro disco dos Beatles).
Em Ringo's Rotogravure ainda há este aspecto beatle de mostrar algo
simples e belo, com bom-humor. Mesmo a faixa bizarra "Las Brisas" com
ritmo e banda mexicana, é aceitável, pela inventividade e coragem do Ringo. Ela
é difícil de se acostumar, com o tempo, você descobre que faz parte do mundo
pop, com a necessidade de consciência da abertura mental, sem preconceitos e
birras, desde que haja algum propósito legal e, ficou boa a interpretação do
Ringo. Relembremos que Elvis Presley fez o mesmo com ritmos havaianos nos anos
60 e em seus filmes. John Lennon e Yoko Ono se esbaldavam com os gritos primais
em seus primeiros discos solos. E Harrison também executava seus mantras orientais
bem bizarros, porque Ringo não poderia cantar algo em cores mexicanas.
O disco termina com outra bizarrice Spooky Weirdness", efeitos de estúdio,
parecendo uma breve trilha para filme de suspense... Na contracapa, a foto de
uma porta com diversos rabiscos e nomes, entre eles, um apelo de Ringo ao
governo norte-americano, pela concessão do Green-Card para a permanência de
Lennon nos states, uma batalha árdua para John Lennon durante os anos 70. Ringo
Starr sempre foi um cara legal, os músicos de sua geração gostam dele. John
Lennon dizia, que sem ele, dificilmente os Beatles iriam adiante, porque havia
brigas internas e Ringo tinha o poder de reconciliá-los, ao seu estilo de brincalhão.
Everi
Rudinei Carrara
site
telescopio.vze.com
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