segunda-feira, 12 de julho de 2010
ROBERTO PIVA
PIVA ACREDITAVA QUE A POESIA É LIBERTAÇÃO TOTAL
Rubens Jardim
Nenhum dos poetas da chamada geração de 60 assumiu com tanta coragem as contradições e os conflitos da nossa época. Piva era monarquista e reacionário e se achava um bárbaro, uma força arcaica. Não admitia sininhos no pescoço e transitava na contramão de tudo: família, igreja, estado, sociedade, moral, etc.
Segundo suas próprias palavras, “não sou um homem normal, isto é, um racista, um colonialista.” E advertia com seu ar de autêntico poeta maldito: ” os poetas brasileiros têm de deixar de ser broxas para serem bruxos”.
Acreditava na inspiração e um dos motes de sua atitude transgressiva era este:" só acredito em poeta experimental que tenha vida experimental”. Piva repudiava a pilatização, essa constante cerimônia de lavar as mãos. Ele tinha um compromisso radical com a vida. E sempre esteve empenhado em destruir tudo aquilo que impede o homem de viver plenamente a condição humana.Ele queria “a destruição de tudo que é frágil: cristãos fábricas palácios juízes patrões e operários.”
E manteve a postura de rebelde mesmo dentro do hospital. Segundo um amigo, “há dez dias, ele tentou fugir do hospital. Arrancou as sondas, estava bravo e queria sair fora. Ele detestava hospital, achava que era tudo magia negra.”Piva morreu na tarde de sábado, dia 3 de julho, de falência múltipla dos órgãos. Estava internado no InCor (Instituto do Coração), em São Paulo, desde o dia 13 de maio. O poeta sofria de mal de Parkinson há cerca de dez anos e descobriu um câncer na próstata, em metástase, durante a internação.Selecionei alguns versos para que os leitores possam avaliar as imagens delirantes, a irreverência e a virulência crítica de sua poesia. E não se esqueçam que boa parte destes versos foram escritos e publicados nos anos 60. “a epopéia do amor começa na cama com os lençóis desarrumados feito um campo de batalha”
“este é o banquete do poeta sempre querendo penetrar no caroço da verdade”
“mestre Murilo Mendes tua poesia são os sapatos de abóboras que eu calço nestes dias de verão”
“vou incinerar teu coração de carne & de tuas cinzas vou fabricar a substância enlouquecida das cartas de amor”
“abandonar tudo. Conhecer praias, amores novos. Poesia em cascatas floridas”
“todo trabalhador é escravo. Toda autoridade é cômica.”
“sou um navio lançado ao alto-mar das futuras combinações”
O arco-íris é o colar do feiticeiro”
“poesia é desatino abrindo a noite ao excesso do dia”
‘amo os garotos que cospem o sangue das amoras”
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