sexta-feira, 13 de maio de 2011

CHACAL




Poesia e vida em close
Dentro do mundo pós-industrial,
líquido e descartável
Chacal fez um documento sociológico sobre a geração marginal
Rubens Shirassu Júnior

No próximo dia 21 (sábado) às 22 horas, no Centro Cultural Matarazzo, na Vila Marcondes, o poeta carioca Chacal estará batendo um papo descontraído com os poetas, estudantes e público em geral.
Ricardo de Carvalho Duarte, o Chacal, completou 61 anos: é que, permanecendo fiel ao espírito jovem, irreverente e contestador que marcou a sua primeira produção, na década de 70, época da Nuvem Cigana e da geração mimeógrafo, ele continua escrevendo e vivendo como quem começa, e não como quem conclui um livro ou uma aventura. Antecipando-se ao número redondo e talvez assustador, Chacal lançou, no ano passado, o livro de memórias Uma história à margem, um balanço informal de sua trajetória como poeta e agitador cultural.

O livro de memórias é o complemento perfeito e em prosa a Belvedere (Cosac & Naify, 384 pág.), volume que reúne sua poesia completa – 13 títulos ao todo, lançados entre 1971 e 2007. Recapitulando com franqueza as circunstâncias nem sempre fáceis de cada criação, com destaque especial para suas inúmeras viagens (interiores e exteriores), Chacal faz de suas memórias um documento quase sociológico sobre uma geração que, nas brechas e no contrapé da repressão política, conseguiu produzir uma obra relevante e arrojada, levando a poesia para a vida e a vida para a poesia (gente como Cacaso, Ana Cristina César, Waly Salomão e outros).



“O espantalho é um falso inimigo. Está do lado de fora e não questiona nossos vacilos e fraqueza. Derrotá-lo é uma questão de força, inteligência e persistência. Já o agrotóxico, a droga do mundo pós-industrial, dessa cultura líquida, como quer Bauman, é muito mais difícil de vencer. Ele é invisível, inodoro e letal. Quando assimilado, transforma-se em cinismo, em autoindulgência. Quando você vê, já está usando a voz do dono. Mas creio que com saúde, discernimento e entusiasmo, você consiga achar de novo sua voz. Os jovens de todas as idades saberão sempre onde o calo dói e inventarão seu jeito de dar um jeito.”

( Longa Jornada Poesia Adentro )
Lúdico
O poeta Paulo Leminski afirmou sobre a obra de Chacal, que é de tendência contemporânea: "A palavra lúdico é a chave para a poesia de Chacal". Leminski também via em seus poemas a presença "da Poesia Concreta, das letras de música popular, do mundo industrial e urbano que se abateu, irremediavelmente, sobre nós."



FELIZ 2008



narrar um assassinato é quase tão

difícil como dizer que te amo

como falar do sangue que se esvai ou

vc cantarolando numa aléia do horto de vestido florido

como descrever o terror dos olhos e o grito sequelado ou

vc vendo tv de calcinha de algodão

ou como dizer da arma ainda quente ou

seu corpo mole na cama

essas coisas do amor e do ódio

são impossíveis de narrar.



(Chacal)





“Poetas, escritores de diversos estilos e gerações, têm que ir às escolas, conversar com os alunos, falar de seus trabalhos e ouvir os trabalhos dos alunos, estimulados pela escola a ler e criar. Essa troca é fundamental. Ela criou o CEP 20.000, um sarau multimídia, que é um excelente modelo de disseminação poética. Educação e cultura são uma coisa só. Aumentando o interesse pela poesia, a mídia e as editoras vão se interessar em programá-la e publicá-la. Como aconteceu com o rap. Os poetas poderiam ajudar se tivessem um pouco mais intenção de se comunicar do que apenas expressar suas caraminholas.”

( Longa Jornada Poesia Adentro )



Biografia



Chacal (Rio de Janeiro RJ, nasceu em 1951) publicou seu primeiro livro de poesia, Muito Prazer, Ricardo, em 1971. No ano seguinte, colaborou na revista Navilouca e publicou seu livro/envelope Preço da Passagem. Passou a integrar, em 1975, a coleção literária Vida de Artista, com Cacaso, Eudoro Augusto, Francisco Alvim, entre outros; ainda em 1975, foi lançado seu livro América. De 1976 a 1977 integrou o grupo Nuvem Cigana, com Bernardo Vilhena e Ronaldo Bastos, entre outros poetas. Formou-se bacharel em Comunicação pela UFRJ em 1977. Entre 1978 e 1983, foi co-autor das peças teatrais Aquela Coisa Toda, com o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone e Recordações do Futuro, com a companhia Manhas & Manias. Na década de 80, trabalhou como cronista do Correio Brasiliense e da Folha de S. Paulo, além de roteirista da TV Globo.

Nos anos 90, teve a função de produtor do Centro de Experimentação Poética - CEP 20000, da Rioarte, coordenador de oficinas de poesia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), no Parque Lage e, editor da revista O Carioca. Sua obra poética inclui Nariz Aniz (1979), Boca Roxa (1979), Comício de Tudo (1986) e Letra Elétrika (1994) e Belvedere (obra completa, 2010).



(http://www.rubensshirassujr.blogspot.com/ )

Nenhum comentário: