SEMPRE ENCONTRAREMOS UMA
FLOR SE SOUBERMOS PROCURAR
Roberto Romanelli Maia
Escritor, Jornalista e Poeta
O jardim da praça
estava
deserto!
Ao notar um banco vazio
me
sentei para sentir o perfume das plantas e das flores e observar os
passantes
que traduziam em suas faces, de forma clara e transparente, o que
estão
vivenciando.
Dizer que me sentia no
melhor dos mundos não seria verdadeiro pois quando se reflete demais sobre
os
acontecimentos do dia e sobre aqueles que impactam nossa vida a curto, médio
e
longo prazo, tudo parece ser menos alegre e luminoso e a própria luz em
nosso
interior esmaece um pouco.
Surpreendi-me; saí de
um
estado de puro êxtase e de uma quase anestesia com a chegada, próximo a mim,
de
um menino, idade aproximada de 7/8 anos, que talvez cansado de brincar
sozinho,
parou na minha frente.
Suas palavras, repletas
de
alegria, soaram como aquelas vindas de um anjo:" veja o que encontrei, disse
ele!"
Na sua mão trazia uma
flor, com suas pétalas já caídas, prestes a fenecer.
Sorri, talvez com um
sorriso pálido, e voltei a me concentrar no livro que estava a ler.
Mas o menino não
se
fez de rogado; sentou-se ao meu lado, como se quisesse me transmitir algo
superior, que ainda não tinha sido revelado.
Ele levou a flor ao
nariz e
declarou com autêntico estranhamento:
Sinta, o olor é ótimo,
e
ela é bonita também... Por isso a apanhei nesse jardim: ela é sua.
Claro que a flor
à
minha frente estava morta ou morrendo, pois não apresentava mais nenhuma de
suas
lindas cores vibrantes.
Não se via mais o
laranja,
o amarelo, nem o vermelho, mas eu senti que não poderia deixar de recebê-la
e de
pegá-la em minhas mãos.
Então, agradeci e
disse-lhe
que a aceitava de coração.
No entanto, percebi que
ao
invés de colocá-la na minha mão, ele a segurou no ar, sem que percebesse de
imediato a razão.
Observando melhor
a
face do menino, Só então pude notar, pela primeira vez, que o garoto
era
cego e que, consequentemente, não podia ver o que tinha em suas mãos.
Minha voz sumiu.
Lágrimas desceram pelo
meu
rosto, revelando-se ao sol, enquanto lhe agradecia por ele ter escolhido a
mais
bela e a melhor flor daquele jardim.
Ele sorriu para mim e
disse
apenas: de nada.
Afastou-se e então voltou a brincar, sem perceber a importância do que tinha feito e do significado que esses momentos, vivenciados por mim, teriam em meu dia.
Afastou-se e então voltou a brincar, sem perceber a importância do que tinha feito e do significado que esses momentos, vivenciados por mim, teriam em meu dia.
Sentei e pus-me a
pensar
como ele teria conseguido me enxergar embaixo daquele velho carvalho que se
escondia no jardim da praça.
Percebi que certos
acontecimentos em nossa vida não necessitam de explicações e que aquele
menino,
dentro de seu coração, tinha sido abençoado com uma verdadeira visão
divina.
Entendi, através dos
olhos
de uma criança cega, que nós, humanos, esquecemos que o problema não está no
mundo, e sim dentro de nós.
Caí em mim, agradecendo
a
Deus por todos os momentos em que mesmo tendo sido cego, pude ver e sentir a
beleza da vida, apreciando-a dentro de minhas
limitações.
Encontrei dentro de
minha
alma, através dessa experiência única, a certeza de que cada segundo é só
meu,
mas que também posso compartilhá-lo com outros a quem quero
bem.
Mas que, sem dúvida,
cabe a
mim saber vivê-lo com autenticidade, naturalidade e sabedoria.
Só então levei aquela
flor,
aparentemente sem maiores atrativos, às minhas narinas, e pude então sentir
a
plenitude da fragrância de uma bela rosa, tão única e
especial.
Pude de fato, pela
primeira
vez em muitos dias, sorrir de forma plena, enquanto do outro lado da praça
aquele garoto, com outra flor em suas mãos, estava certamente prestes a
mudar a
vida de outro ser humano, que necessitava dessa flor em sua
vida.
Sim, através dessa flor
descobri que ainda existem Verdades e Princípios definitivos e eternos.
Que o verdadeiro amor está na maneira como
enxergamos as coisas; e que basta olharmos com carinho para os outros e para
o
que está a nossa volta, que tudo ficará menos triste e mais alegre,
saudável,
feliz e reconfortante...
Até mesmo uma flor que
morreu ou que está morrendo....
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