segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

ALMANDRADE

*A PERSISTÊNCIA  DO NUDISMO ABSTRATO*

Pensei em elementarismo, despojamento, abecedarismo geométricos mas acabei
por optar pela idéia do nudismo abstrato, para tentar caracterizar a
postura e a impostação de Almandrade ante suas criações  e criaturas
sígnicas que hesitam entre a bi e a tridimensionalidade, em duas ou três
cores, em duas ou três texturas.

A parcimônia desses objetos franciscanamente contundente, desenhados,
signados (designed), compostos segundo uma grafia de cartilha, porém
enganosamente sig-nificada e simplista, posto que metafísica.

Criam um campo significante que parece rechaçar instruções extratexto,
mesmo quando inclui algum elemento metafórico *in memorian* Dadá.

Meteoritos geométricos do pensamento, taquigrafia precisa de uma claríssima
visão cuja totalidade se ofuscou, indício e impressão minimal de um evento
artístico-mental; ocorrido no panorama ecológico da arte  do  século XX,
como  um  pássaro em extinção,  aparição de  ordem  inegavelmente
metafísica, essência e forma divinas (diria Baudelaire) do pássaro nu da
poesia e de seus amores descompostos.

Um nudismo Proun (El Lissitsky) nos trópicos, lembranças metonímica do
paraíso, graciosas construções-instalações não habitáveis, amostras
quase-duchampescas, quase-vandoesburguesas de um ex-Éden artístico, onde a
provável ironia embutida não passa de meio-sorriso.

Esses seres correta e rigorosamente nus, o olho os colhe por inteiros, como
objetos cabíveis no bolso. E há música neles, mas não é sequer de câmara -
é de cela, nicho e escrínio: são microtonais, minideogramas sólidos à
Scelsi.

O Almandrade capricha nas miniaturas de suas criaturas, cuja nudez implica
mudez, límpido limpamento do olho artístico, já cansado da fantástica
história da arte deste século interminável, deste milênio infinito.

*Décio Pignatari*



*edicaolimitadadegravuras.com.br/almandrade.html*

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   *Almandrade* :: Expoart <http://www.expoart.com.br/almandrade/>

www.expoart.com.br/*almandrade*/

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       *ALMANDRADE* | *PORTAL
ARTES*<http://www.portalartes.com.br/artistas-do-portal-artes/1115-almandrade.html>

www.portalartes.com.br › Artistas do Portal
Artes<http://www.google.com.br/url?url=http://www.portalartes.com.br/artistas-do-portal-artes.html&rct=j&sa=X&ei=sSNfUMrEMY788QSN2oHQCg&ved=0CD8Q6QUoADAF&q=artistas+do+portal+arte+Almandrade&usg=AFQjCNG4f0OCZuF_9TkSNPHnpUC0pz9mQg>


 O nome *Almandrade* está associado a uma estratégia singular dentro
daquilo que costumamos designar *arte* contemporânea.


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Almandrade


Francisco Antônio Zorzo

Professor da Ufba


 Essa é uma excelente oportunidade para se constatar a coerência do projeto
estético do multi-artista e festejar o seu reconhecimento nacional.


Desde a década de 1970, Almandrade incorporou às suas peças a atitude
crítica da arte contemporânea. Tendo uma formação universitária como
arquiteto pós-Brasilia, veio a assumir uma posição autônoma em relação à
geração anterior, que foi muito festejada na Bahia.

Nos primeiros tempos, orientou-se pela abstração construtivista, mas depois
derivou por um caminho próprio. Em suas relações com artistas que
circulavam ao nível nacional, se aproximou bastante dos criadores Hélio
Oiticica e de Lígia Clark e de poetas como Dias Pino e Ferreira Gullar.


Uma lâmina de barbear pendurada dentro de uma garrafa compõe um objeto
criado por Almandrade que gerou fértil polêmica. Como interpretar um objeto
que incorpora significados múltiplos e cortantes, do vidro e do aço da
realidade? Cada objeto construído depende do sentido agregado pelo artista
e pelo espectador. Da parte do escultor, uma atribuição de sentido que lhe
correspondeu a uma experimentação e a uma reflexão singular. No olhar do
expectador a leitura pode ir do vértice do absurdo ao erotismo-vulgar de um
corte na pele.


No livro que publicou recentemente reunindo análises realizadas no correr
de sua trajetória, Escritos sobre Arte, Almandrade deu a pista para muito
de seus truques e procedimentos operativos. O importante, no caso da
produção desse artista “cult” baiano é que obras e discursos se traduzem um
ao outro, bem como conservam sintonia com sua proposta estética. Essas
reflexões são importantes, porque a estética engendrada não atendeu a
nenhuma chamada gregária no sentido de banalizar a arte baiana.


Como pode um objeto ser capaz de, ao mesmo tempo, causar uma fruição direta
e uma decodificação crítica? As obras de Almandrade primam pela
simplicidade e pela economia de meios. Ele certamente está entre os menos
barrocos produtores visuais do período entre os anos 1980 e 2000 no Brasil.
Os objetos e pinturas discutiram sempre os conceitos em voga e instalaram a
cunha de resistência de um pensamento rigoroso.


Para deixar mais um exemplo de suas criações, vale retomar um objeto que
expôs numa galeria do Rio Vermelho, anos atrás. Um instrumento quadrado
composto de duas peças sobrepostas, uma grande azul e uma pequenina dourada
no meio, sendo a primeira delas vazada e riscada com linhas brancas. Esse
objeto poético-visual foi denominado “Violão da Bossa Nova”. Ao fazer soar
esse violão quadrado soar, Almandrade conduziu, como um mestre, seu olhar
reflexivo e solitário sobre os campos das artes e da cultura contemporânea
no país.

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*ALMANDRADE*

(Antônio Luiz M. Andrade)

Artista plástico, arquiteto, mestre em desenho urbano e poeta. Participou
de várias mostras coletivas, entre elas: XII, XIII e XVI Bienal de São
Paulo; "Em Busca da Essência" - mostra especial da XIX Bienal de São Paulo;
IV Salão Nacional; Universo do Futebol (MAM/Rio); Feira Nacional (S.Paulo);
II Salão Paulista, I Exposição Internacional de Escultura Efêmeras
(Fortaleza); I Salão Baiano; II Salão Nacional; Menção honrosa no I Salão
Estudantil em 1972. Integrou coletivas de poemas visuais, multimeios e
projetos de instalações no Brasil e exterior. Um dos criadores do Grupo de
Estudos de Linguagem da Bahia que editou a revista "Semiótica" em 1974.
Realizou cerca de vinte exposições individuais em Salvador, Recife, Rio de
Janeiro, Brasília e São Paulo entre 1975 e 1997; escreveu em vários jornais
e revistas especializados sobre arte, arquitetura e urbanismo. Prêmios nos
concursos de projetos para obras de artes plásticas do Museu de Arte
Moderna da Bahia, 1981/82. Prêmio Fundarte no XXXIX Salão de Artes
Plásticas de Pernambuco em 1986. Editou os livretos de poesias e/ou
trabalhos visuais: "O Sacrifício do Sentido", "Obscuridades do Riso",
"Poemas", "Suor Noturno" e Arquitetura de Algodão". Prêmio Copene de
cultura e arte, 1997. Tem trabalhos  em vários acervos particulares e
públicos, como: Museu de Arte Moderna da Bahia e Pinacoteca Municipal de
São Paulo.

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*AS ESCULTURAS DE ALMANDRADE
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Cada uma das peças compõem-se de duas placas encaixadas que foram colocadas
diretamente sobre o chão. As placas são recortadas e vazadas e não se
empregam pregos, colas ou emendas.


Para se traçar um paralelo dentro da arte contemporânea dessas peças com
objetos de outros artistas, seria interessante dizer que as esculturas de
Almandrade mantém uma certa identidade com as de Franz Weissman e Amílcar
de Castro. O construtivismo, a economia material e a escolha de cores
simples são conceitos presentes na obra dos três artistas. No entanto, há
elementos de distinção. Franz Weissman e Amílcar de Castro usam solda ou
dobra na confecção de seus objetos.


Almandrade usa como procedimento de montagem o encaixe direto, onde os
planos de madeira laminada se interpenetram e se apoiam mutuamente.


O fato de não haver dobra nas peças de Almandrade é um índice importante
para a análise de sua obra. Almandrade intencionalmente mantém uma
distância do barroquismo, do expressionismo e de outras tendências do tipo
sensual muito recorrentes na arte baiana e brasileira.


O barroco tem muitas seduções. A dobra que vai ao infinito é um artifício
barroco que ultrapassa sua própria moda e seus limites históricos (ver
Deleuze em A Dobra, Leibnitz e o Barroco). Com a dobra, a escultura ganha
uma vibração especial, estendendo-se à arquitetura e alcança espaços cada
vez mais amplos. Trata-se de uma ilusão de ótica que realmente abre um
campo de significados.


As peças de Almandrade não possuem a dobra, evitando o seu ilusionismo. A
dobra na escultura permite a mudança de plano sem rupturas de continuidade.
O olhar que acompanha um plano ao passar pela dobra aceita a mudança de
direção e é convidado a avançar sucessivamente até deslizar em uma outra
dobra. A dobra provoca um despistamento que, se por um lado seduz, por
outro distrai o expectador. Pode-se dizer, além disso que a ambivalência da
dobra percorre uma espiral que vai do desejo à melancolia. Ao suprimir a
dobra Almandrade parece estar procurando evitar a dispersão intelectual e o
efeito de superfície.


Curiosamente, nos retábulos barrocos brasileiros, no entanto, as peças de
madeira que sustentavam as dobras e curvas das superfícies ornamentadas,
eram montadas com encaixes. Esses encaixes tinham que ser perfeitos em sua
geometria. O barroco recorreu em suas bases construtivas a técnica do
ensamblamento. Ensamblar significava, no dicionário de arquitetura e
ornamentação, reunir, juntar, encaixar peças de diversos materiais. Um
glossário do barroco mineiro traz uma referência documental, datada de
1771, referente à construção de uma igreja em Sabará, de um “ensamblamento”
de pedras, com ferro e chumbo.


As peças reunidas nos retábulos de madeira das igrejas barrocas deviam ser
ensambladas, quer dizer, encaixadas uma nas outras, sem a necessidade de
recorrer-se a pregos ou colagens.


Nesse sentido as peças de Almandrade contém um ar clássico que, pode-se
afirmar, continua atravessando até hoje, energicamente, o mundo material
das artes plásticas. Esse trabalho parece estar respondendo a pergunta
fundamental, o que assegura a expansão expressiva infinita (da arte, da
imaginação, das dobras) em relação ao portador finito (a madeira, o ferro,
a pedra)? Qual é estrutura construtiva, quais são os encaixes e as
articulações que permitem a realização de uma obra?


*Francisco Antônio Zorzo*

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Bibliografia

*Ávila, Affonso et. Al. Barroco Mineiro Glossário de Arquitetura e
Ornamentação*

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