sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

NEIL FERREIRA


Neil Ferreira

O crack está na sua porta

Neil apavorado Ferreira

E entra sem bater, só não enxerga quem não quer; vamos enfiar o dedo nessa ferida. O perigo, insidioso, começa quando você senta-se com seu filho de uns 12 anos para assistir a um inocente jogo de futebol pela tevê. Sua sala é invadida por estridentes comerciais de cerveja, com pessoas que aparentam invejável saúde e felicidade, divertindo-se a valer.
Estrelados publicitários discursam que há horários estipulados para a exibição de propaganda de produtos alcoólicos, impróprios para dimenór; há. Mas há as “exceções”, como o patrocínio de eventos esportivos.
Não me atrevo a falar de Brahma, Skol, Schincariol. Entre outras potências econômicas, elas se incluem no G 4 das fábricas de cerveja; cito a “Champions League”, a “non plus ultra” do futebol mundial, patrocinada e recheada de comerciais da Heineken, alguns geniais. Os jogos na Europa são realizado no máximo às 18h00 de Brasília, horário mais que infantojuvenil.
Os nossos comerciais são com meninas e meninos donos de RGs e CPFs dimaiór, mas de idades subjetivas cada vez mais jovens e plenas de beleza e alegria. Idade subjetiva é aquela que se percebe na aparência e não nos documentos. Nessa gloriosa etapa da vida, você aparenta menos do que realmente tem.
Não é o meu caso; a minha idade subjetiva, estabelecida por um especialista de uns 8 anos de idade, é desapontadora: “—Quantos anos você tem ?”, perguntou-me, cheio de intimidade. “—68”, respondi com sinceridade. “-- Poxa, não te dava nem 67”, sentenciou o de cujus, pleno de sabedoria. Eu não dou nem 16 para os meninos e meninas que cantam, dançam, paqueram, namoram, correm pra lá e pra cá de biquini, nas praias e piscinas dos comerciais de cerveja.
Minha mente suja, que reside no lado Negro da Força, percebe apenas os biquinis cada vez mais biquininhos, obra de milagres da nanotecnologia praticados por estilistas, que os criam com lentes de aumento ou óculos mais fundo de garrafa do que os meus.
O jovem espectador ao seu lado vê mais; vê a aprovação irrestrita do seu mundinho adolescente para a primera cerveja, rito de passagem para a tribo onde encontra a felicidade aqui na Terra.
O que descobre com a galera, entre um copo e outro e outro de cerveja ? A propaganda boca a boca das qualidades de sabor, amadurecimento pessoal e atrativos irresistíveis, proporcionados pelos cigarros marca Tal ou marca Qual. São a primeira cerveja e o primeiro cigarro invadindo cada vez mais cedo a vida da meninada. E a sua casa.
Depois que a cerveja e o cigarro são aceitos como mais um fato da vida, um brôu “mais vivido” sugere outro rito de passagem, um cigarrinho de maconha, um “tapinha no fumito”. A primeira “dose” é digrátis.
Nada de errado; errados são os caretas que engolem, impotentes, as fumegantes passeatas a favor da diamba e o vídeo que bombou na Internet com o então ministro Minc visivelmente “viajado”, cantando, dançando e discursando sobre as maravilhas da erva.
Pelos depoimentos que li de dependentes químicos de álcool e/ou drogas e de renomados terapeutas, esses pobres farrapos que perambulam pedindo esmola, fazem o Fundamental e o Segundo Grau com a primera cerveja e o primeiro cigarro. Com a maconha, o “bagulho”, passam no Vestibular para o Curso Superior, com Mestrado e posterior Doutorado (PhD) em cocaína e heroína. Daí para o Pós-Doc em crack é um pulinho de nada; do crack para a sarjeta basta um escorregão e o pobre diabo e a pobra diaba caem fora da vida.
Quando o Governo do Estado, a Prefeitura e a PM decidem tomar uma atitude de defesa da sociedade com a prisão de traficantes e a tentativa de oferecer ajuda aos dependentes químicos (ah vai, são viciados mesmo), o mundo cai-lhe sobre as cabeças.
A encenadora Martaxa Relaxa e Goza, sob cujo mandato na Prefeitura de Sumpólo foi lançada a pedra fundamental da Cracolândia, escreveu um artigo que vou te contar.
Parecia gostirraitado (de “ghost writer”) por algum escriba a serviço das pedras e dos cachimbos, tal a candência com que defendeu o direito de ir e ficar dos inocentes vendedores e consumidores naquelas ruas imundas.
Fazem girar as rodas da produção, distribuição, vendas e consumo do crack, criando uma valiosa economia subterrânea, porém importante para o nosso Pibinho.
O padre Lancellotti ocupou o palanque oferecido pelas emissoras de tevê e rádio, para pronunciar suas demagógicas homilias de manutenção do “status quo”, uma ofensa ao bom senso por fazerem indisfarçavel defesa dos traficantes.
As cenas de rua foram filmadas e serão editadas para certamente figurar na campanha do “brimo” Haddad à Prefeitura de Sumpólo, o candidato do “quanto pior, melhor”, veja-se o que ele fez no Enem e nem recebeu nota zero.
Atribuo, como você viu, enorme perigo aos jogos de futebol pela tevê pela pletora de comerciais de cerveja, que podem abrir sub-repticiamente a porta da sua casa para drogas mais pesadas.
Você pode achar que estou exagerando e que isso não faz mal à saúde. Talvez não faça mesmo, mas o Galvão Bueno faz.

PS: Este é mais um texto de ficção que me atrevo a escrever sobre este assunto. Qualquer semelhança etc etc etc.

DEZ ANOS DO ASSASSINATO DE CELSO DANIEL... E NADA.
tela: chagall

Um comentário:

Unknown disse...

Excelente matéria!