O carioca Tanussi Cardoso explora em sua poesia diversos temas universais. A Morte encontra reserva especial nos poemas realizados por Tanussi Cardoso, onde o beletrista revela as suas indagações de mundo:
quando o primeiro amor morreu
eu disse: morri
quando meu pai se foi
coroção descontrolado
eu disse: morri
quando as irmãs mortas
a tia morta
eu disse: morri
depois, a avó do Norte
os amigos da sorte
os primos perdidos
o pequinês, o siamês
morri, morri
estou vivo
a poesia pulsa
a natureza explode
o amor me beija na boca
um Deus insiste que sim
sei não
acho que só vou
morrer
depois de mim
A imagem construída em torno da morte impressiona, o que Tanussi Cardoso quer dizer transcende:
Tudo permanece em seu lugar.
A tartaruga
estática, sábia
contempla a cena.
Quem morre antes,
o morto ou seus objetos?
Tudo permanece em seu lugar.
O morto é um poema
acabado
solto
completo.
O elo absoluto que a morte provoca em nosso interior é esculpido por Tanussi Cardoso em radiantes versos:
Um olho paira no ar
gigantesco me espia
Espelhos expiam
suas culpas
Cristais partidos
dividem as dores do mundo
Uma noite intensa
baixa sobre tudo
O fio do novelo
o fio da navalha
A mãe morta
é o deus morto
As sombras, as Mortes que chamam Tanussi Cardoso ao poema são extraordinárias, daí, o apuramento do belo:
Estranhos, meus mortos abrem as janelas
penetram em meu quarto
e me sufocam.
Insinuantes, me beijam e sangram em mim
alegrias e pecados
acariciando, sem pudor
meus sonhos, minhas partes e meus ossos.
Meus mortos e seus gemidos
têm rostos, sinais
e olhos que fagulham calafrios.
Ousados, vêm no breu do sono
e dormem em minha cama
e me despem
e se debruçam sobre meu corpo
silentes e queridos
e rezam e choram por mim
como a lua clamando sua outro metade
como um espelho colando os próprios vidros.
Meus mortos sem censura
meus delicados mortos
que, à noite, penteiam meus cabelos
e, solidários, preparam o meu jardim.
Poemas de Tanussi Cardoso
Minuta de Diego Mendes Sousa
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