segunda-feira, 23 de julho de 2012

LUIZ ROSEMBERG FILHO E SINDOVAL AGUIAR

          ERA LULA OU FABRICANDO O PRODUTO 

               Para os eternamente Jovens EVERI CARRARA e Elis Galvão

Política, democracia e espetáculo. Tríade que completa os mecanismos dos meios de produção. E ninguém está fora. Somos todos partes deste universo que não consegue fechar a sua hegemonia. Pela renitência, a visão crítica e alguma loucura. E os exemplos são infinitos. De filósofos, escritores, jornalistas, artistas e cientistas. Fiquemos com exemplo de Cristo. O que dizem ter superado a si mesmo, com a sua mitologia. Digamos, o exemplo maior que os governantes esquecem. E, quando qualquer referência, vem só para mistificar. Amenizando o espetáculo. 
        Ernest Bloch diz que o amanhã vive no hoje. Então, poderíamos dizer que o hoje, com a eleição/reeleição de Lula, estaríamos vivendo o ontem? Mais precisamente, o seu primeiro mandato? Muito provável! Triste sina, triste fim de um povo que virou produto antes de encontrar o seu país. Quais seriam então, as razões deste hoje e de sua mitologia, de tempo nunca entendida, na busca de uma melhor humanidade? A resposta poderia ter sido fácil, rápida e ambígua como tem sido tudo que temos tentado questionar, ficando no desentendimento para um melhor entendimento! Um sentido duplo do dito pelo não dito. E, insistindo muito, nada mais do que isto. Com toda arqueologia se tornando arcaica para a volúpia do que está entronizado e não é possível mudar. Um ideal muito abaixo da nossa esperança.
        Teria sido conveniente não se aderir com tanta pressa à qualquer manifestação de totalidade. Mesmo se vivida como um arquétipo, uma manifestação da beleza. E tão necessária como a manifestação da esperança. Significação da utopia. A de que alguma coisa teria que valer a pena! O país não estaria passando por este encanto? Um país de sortilégios. Dentro e fora. De duas histórias: a de que não possuía. E a da que estavam produzindo para ele. E como é belo e perigoso que tenha sido e seja assim. O ontem, o hoje e o amanhã. Nossas manifestações coletivas vão se tornando um rito sem história, sem folclore e sem mitologia. Sem o arquétipo a que podemos recorrer em momentos raros, de construção e de necessidades.
        Como no final de um processo de disputas, confrontos e manifestações como o das eleições. Felizmente, entre nós, sem história e sem memória, ser arquétipo de país, os princípios de uma natureza imprescindível tem se sustentado, corajosa e solitária, na manutenção do mais elementar de todos os arquétipos: o da liberdade de expressão. O da movimentação da mídia. O de um pacote quântico em fuga das inutilidades de um universo que tem se estruturado no processo de barbárie, difícil de escapar. Pela hegemonia, necessidades e construção. As referências agora, não serão mais as do período FHC, como dizia Lula. Serão as suas, as que disse construir, a que ele induz ser a Era Lula.
        Não vamos falar do princípio de Bloch, o do amanhã, no hoje. O do período Lula, ou mesmo de FHC. O de um presente sem memória. O do pagamento de mais de 1 trilhão de juros em seis anos, custeando a dívida pública. Os dados da auditoria fiscal do sindicato de São Paulo, em que os auditores da Receita Federal pareciam estar discorrendo sobre um filme de ficção científica. Com a ficção que sobrava para o país, nos mantendo no ar, como o encantamento e decepções, dos períodos eleitorais. Um arquétipo da tragédia. Ora, como o amanhã de Lula poderia ser diferente do hoje, se a política, a democracia e o espetáculo, continuam os mesmos que fabricam o produto? Os presidentes e os eleitores. Os que sabem e os que não sabem votar, produtos de uma mesma fornalha.
        Neste momento de euforia, congraçamento ou decepções, um instante de transparente lucidez, deveria ser referenciado e reverenciado em nome da mídia. Amestrada ou não. Crítica ou não. Um momento simbólico de extrema grandeza, uma das últimas homenagens na defesa do humanismo. O que parece se acomodar e se intimidar diante da prepotência da tríade a que fazem parte: política, democracia e ela mesma: a mídia. Ela tem sido o que sobra como referência de qualquer circunstância ou regime. Ditatorial ou de subjetiva e amestrada liberdade! O de uma mitologia e que ainda não se acomodou à terrível fusão da tríade, submissa também, a fábrica de todos os produtos. E de sentido desumano. Uma democracia de produtos do capital enloquecido. A “ética” de um “novo” governo saindo da fôrma!


          Luiz Rosemberg Filho e  Sindoval Aguiar
                                       RJ, 2012
     

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