ERA LULA OU FABRICANDO O PRODUTO
Para os eternamente Jovens EVERI CARRARA e Elis Galvão
Política, democracia e espetáculo. Tríade que completa
os mecanismos dos meios de produção. E ninguém está fora. Somos todos partes
deste universo que não consegue fechar a sua hegemonia. Pela renitência, a
visão crítica e alguma loucura. E os exemplos são infinitos. De filósofos,
escritores, jornalistas, artistas e cientistas. Fiquemos com exemplo de Cristo.
O que dizem ter superado a si mesmo, com a sua mitologia. Digamos, o exemplo
maior que os governantes esquecem. E, quando qualquer referência, vem só para
mistificar. Amenizando o espetáculo.
Ernest Bloch diz que o amanhã vive no
hoje. Então, poderíamos dizer que o hoje, com a eleição/reeleição de Lula,
estaríamos vivendo o ontem? Mais precisamente, o seu primeiro mandato? Muito
provável! Triste sina, triste fim de um povo que virou produto antes de
encontrar o seu país. Quais seriam então, as razões deste hoje e de sua
mitologia, de tempo nunca entendida, na busca de uma melhor humanidade? A
resposta poderia ter sido fácil, rápida e ambígua como tem sido tudo que temos
tentado questionar, ficando no desentendimento para um melhor entendimento! Um
sentido duplo do dito pelo não dito. E, insistindo muito, nada mais do que
isto. Com toda arqueologia se tornando arcaica para a volúpia do que está
entronizado e não é possível mudar. Um ideal muito abaixo da nossa esperança.
Teria sido conveniente não se aderir com
tanta pressa à qualquer manifestação de totalidade. Mesmo se vivida como um
arquétipo, uma manifestação da beleza. E tão necessária como a manifestação da
esperança. Significação da utopia. A de que alguma coisa teria que valer a
pena! O país não estaria passando por este encanto? Um país de sortilégios.
Dentro e fora. De duas histórias: a de que não possuía. E a da que estavam
produzindo para ele. E como é belo e perigoso que tenha sido e seja assim. O
ontem, o hoje e o amanhã. Nossas manifestações coletivas vão se tornando um
rito sem história, sem folclore e sem mitologia. Sem o arquétipo a que podemos
recorrer em momentos raros, de construção e de necessidades.
Como no final de um processo de
disputas, confrontos e manifestações como o das eleições. Felizmente, entre
nós, sem história e sem memória, ser arquétipo de país, os princípios de uma
natureza imprescindível tem se sustentado, corajosa e solitária, na manutenção
do mais elementar de todos os arquétipos: o da liberdade de expressão. O da
movimentação da mídia. O de um pacote quântico em fuga das inutilidades de um
universo que tem se estruturado no processo de barbárie, difícil de escapar.
Pela hegemonia, necessidades e construção. As referências agora, não serão mais
as do período FHC, como dizia Lula. Serão as suas, as que disse construir, a
que ele induz ser a Era Lula.
Não vamos falar do princípio de Bloch, o
do amanhã, no hoje. O do período Lula, ou mesmo de FHC. O de um presente sem
memória. O do pagamento de mais de 1 trilhão de juros em seis anos, custeando a
dívida pública. Os dados da auditoria fiscal do sindicato de São Paulo, em que
os auditores da Receita Federal pareciam estar discorrendo sobre um filme de
ficção científica. Com a ficção que sobrava para o país, nos mantendo no ar,
como o encantamento e decepções, dos períodos eleitorais. Um arquétipo da
tragédia. Ora, como o amanhã de Lula poderia ser diferente do hoje, se a
política, a democracia e o espetáculo, continuam os mesmos que fabricam o
produto? Os presidentes e os eleitores. Os que sabem e os que não sabem votar,
produtos de uma mesma fornalha.
Neste momento de euforia, congraçamento
ou decepções, um instante de transparente lucidez, deveria ser referenciado e
reverenciado em nome da mídia. Amestrada ou não. Crítica ou não. Um momento
simbólico de extrema grandeza, uma das últimas homenagens na defesa do
humanismo. O que parece se acomodar e se intimidar diante da prepotência da
tríade a que fazem parte: política, democracia e ela mesma: a mídia. Ela tem
sido o que sobra como referência de qualquer circunstância ou regime.
Ditatorial ou de subjetiva e amestrada liberdade! O de uma mitologia e que
ainda não se acomodou à terrível fusão da tríade, submissa também, a fábrica de
todos os produtos. E de sentido desumano. Uma democracia de produtos do capital
enloquecido. A “ética” de um “novo” governo saindo da fôrma!
Luiz Rosemberg Filho e Sindoval Aguiar
RJ, 2012
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