“ O espetáculo é o capital num grau tal de
acumulação que se torna imagem.”
GUY DEBORD
“SOBRE
O CONCEITO DE ESPETÁCULO”
Na epistemologia, saber e poder
manusear, poder compreender, poder dispor. O saber está vinculado ao mundo
prático, o qual não é somente condição de possibilidade para qualquer
enunciado, mas também o lugar efetivo onde a enunciação pode ser produzida.
Portanto, a investigação do saber como conceito epistêmico remete ao prático
pois o saber revela-se em instância que vincula o homem ao mundo. Daí não aceitarmos
o uso sensacionalista, massificador, retrógrado, tacanho – sendo o espetáculo a
continuação da velha forma de se fazer política e cultura.
E mesmo só sendo uma indução econômica e
militar ao fascismo, sabe bem como cristalizar-se como mercadoria desejada, no
lusco-fusco das imagens. O espetáculo é soberano. Inexpressivo, mas potente
ideológicamente. Infinito como recomeços, age nos Partidos e meios de
comunicação. Comovente se necessário, é uma expressão patética da indiferença
pelo saber. Preexistente na política das guerras, e trapaceador na comunicação
de massa sua glória é ser um culto ao idiotismo de “celebridades” fabricadas
pelo capital acumulado.
Digamos que a máquina de guerra do
espetáculo age politicamente do cinema à TV, passando pela publicidade e mesmo
pela fotografia. Poderoso e “rico” se afirma também como poder, atuando na
política como necessário, para impor os seus abortos e Partidos vergonhosos, em
pleno século XXI. E tal soma de irrealidades nos remete a quê? Só ao abismo do
vazio como afirmação do espetáculo pobre e empobrecedor. O injustificável
tornando-se razão soberana. O inexpressivo como interioridade do investimento.
E, é só o que justifica o espetáculo: o dinheiro! Mas não é pouco? E o triunfo
da técnica sobre as idéias, é o quê?
Os ideólogos do banal, dizem que é a
cristalização do progresso como obra de arte. Como pode lixo ser transformado
em arte? Automatizado, o capitalismo volta a se transformar em fascismo,
interiorizando a tacanhez truculenta da classe dominante. Digamos que o
espetáculo faz parte dos discursos vazios apresentados ou defendidos, pelos
meios de comunicação. Servindo para amedrontar e impor à ideologia dominante.
Que com a globalização, passou a ser ostentação de uma infinidade de idiotas, e
que no jogo da vida, empenharam-se a só fazer “sucesso”. E o que é o sucesso na
ortodoxia do dinheiro? Talvez, uma reprodução de fascismos como base de
formulações conservadoras necessárias à insalubridade das idéias.
E, é onde reina o espetáculo: na
imobilidade forçada do outro, a consumir seu próprio lixo devidamente
globalizado. Como afirma o sociólogo Zygmunt Bauman: “ Como todas as outras
sociedades, a sociedade pós-moderna de consumo é uma sociedade estratificada.”
Não havendo por tanto, espaços para o sonho, o prazer e à criação. Quão pesado
nos é, viver num tempo de ignorâncias predatórias! Ora, que significado tem
esse lastro anti-civilizatório da barbárie como espetáculo? Como se pode lucrar
com a industrialização do horror? À luz dessas questões é que compartilhamos da
superação do “complexo econômico colonial” arcaizante e ultra-egoístico, para
reconstruirmos um saber inovador vinculado à nossa verdadeira história da luta
de classes. Que se vá pensar e fazer o espetáculo em Hollywood, que ao invés de
desaparecer segue privilegiando tiranias e lacaios vindos da publicidade e da
TV.
Digamos que a função primeira do
espetáculo se afirma na substituição das idéias, e se realizando na erosão do
saber dando primazia ao vazio ideológico do nosso tempo. E, ao reduzir tudo ao
silêncio, torna-se absoluto como postura. E, é preciso repetir sempre que a
falsidade reina em nosso sistema político e cultural. Não só como fraude, mas
como verdade única do capital. E “como o melhor não se ilumina com palavras”, é
preciso voltar a privilegiar no cinema, o movimento da linguagem que atua
silenciosa na história. Ou seja, saber como revelar “o silêncio na palavra”. O
silêncio-linguagem, articulado com um novo pensamento. É preciso reconhecer
como falta, um pensamento mais justo para as imagens.
Sem mudanças ficaremos com “Avatares”,
“Cidades de Deus”, “Tropas de Elite”, “Se Eu Fosse Você XIV”, “Cilada.com”... e
outras besteiras. E mais: em nosso país, digamos que o espetáculo é a única
herança da guerra, reminiscente excedente do fascismo. E sua extensão vai da
lucrativa indústria bélica, à velocidade da informação moderna marcada pelo
progresso mediado pela desumanização da comunicação, tipo os programas religiosos
na TV. Todos, verdadeiros lixo! Ora, como materializar a transformação desse
mundo? Como dar significação à poesia? Que função tem a beleza? Seria possível
uma desmaterialização do horror permanente?
Ora, se o planeta não é nada em relação
as dimensões do espaço, porque seríamos alguma coisa em relação ao espaço
terrestre? Mas,insistimos! Queremos respostas para tudo. Como se tudo pudesse
ser respondido nessa homogeneização medíocre em que se vive vendo a TV, e
votando em Partidos-espetáculos descritos falsamente pela mídia como sendo
diferentes entre eles. Na verdade, o espetáculo é um espaço artificial
convenientíssimo as tantas manipulações do poder, a remodelar e ordenar
fascismos.
Ousaríamos até dizer que invasão e
espetáculo estão intimamente ligados no desenlace fatal rumo à barbárie.
Procurar suas origens, pará-se no capita através do qual tudo se justifica: Malafaias,
Datenas, Ratinhos, The Partie, Amaury Jr... Ora se tudo é mercadoria, tudo tem
seu preço. Quanto vale uma novelinha na TV, um time de futebol ou uma campanha
eleitoral? Alguma diferença? Tudo e todos clichês visíveis de um Estado
militarizado, a defender a burrice aliada a mesmice. Mas é justamente onde atua
o espetáculo: numa espécie escancarada de ressurreição de fascismos. E que, o
inchaço de inverdades é a supremacia do espetáculo. E se é verdade que “o caos é o sagrado em
nós”, como afirmava Heidegger, como fazer da linguagem uma rica experiência
poética, permanente?
Entre escombros e ruínas a história vai
sendo vivida. Mas... poderia ser diferente? Respeitosamente falava o escritor
Lima Barreto: “Neste país viçoso a mania das letras é perigosa e fatal. Quem
sabe sintaxe aqui é como quem tem lepra. Cura-se! Isto é um país de cretinos!
convença-se... letras, só as de câmbio...” Enfim, status aqui é só o da
mediocridade sempre espetacularizada. Mas...é uma espécie de controle perverso
do saber. O vazio opaco que antecede a morte. Uma total falta de lucidez a
desmantelar resistências. Fantoches brincando de representar como se aqui fosse
Hollywood, com a TV usando e abusando da sua não-expressividade, num
reality-show formatando o espectador num pós-graduado em malandragem e
alienação, vendido numa falsa Idade de Ouro.
Já o cinema, como sendo a nova indústria
do cosmético, se afunda no seu próprio lodaçal. Conceito bastante interessante
para um possível Oscar. Mas com isso, perdeu-se a singularidade de um cinema
mais intenso e criativo a serviço da imaginação, da linguagem e da poesia como
faziam Humberto Mauro, Glauber Rocha, Fernando Campos, Joaquim Pedro, Rogério
Sganzerla... E como ainda fazem a duras penas Tonacci, Sergio Santeiro, Ana
Carolina, Eduardo Coutinho, Fabio Carvalho, Isabel Lacerda, Ricardo Miranda...
e alguns poucos mais. Já os afoitos, subservientes e oportunistas migraram para
a TV, e seus muitos clichês. Não fazem mais cinema, e sim novelões e novelinhas
medíocres! Asnos que pararam num tempo constrangedor e estéril, a consumir e
produzir um aperfeiçoamento do coco como mercadoria do espetáculo. Pena... _____________________________________
Luiz Rosemberg Filho/Rô
Janeiro de 2011 a julho 2012
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