sábado, 29 de setembro de 2012

FILME DE SYLVIO BACK

O CONTESTADO – RESTOS MORTAIS

 

Filme de Sylvio Back



(Digital, Cor/PB, 118 min.)

Sinopse

Com o testemunho de trinta médiuns em transe, articulado ao memorial sobrevivente e à polêmica com especialistas, “O Contestado – Restos Mortais”, é o resgate mítico da chamada Guerra do Contestado (1912-1916). Envolvendo milhares de civis e militares, o sangrento episódio conflagrou Paraná e Santa Catarina por questões de fronteira e disputa de terras, mesclado à eclosão de um surto mes­siânico de grandes proporções.


Ficha técnica

 

Equipe
 
Fotografia e câmara Antonio Luiz Mendes
 
Diretor assistente Zeca Pires
 
Som-direto Juarez Dagoberto
 
Montagem/edição Sylvio Back/PH Souza
 
Abertura/efeitos visuais Fernando Pimenta
 
Produção PH Souza
 
Produção executiva Margit Richter
 

Produção Usina de Kyno/Anjo Azul Filmes


Pesquisas, roteiro e direção Sylvio Back

Apoio
   Governo do Paraná
Secretaria de Estado da Cultura do Paraná
Governo de Santa Catarina
Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte
 de Santa Catarina
Universidade Federal de Santa Catarina
Fundação de Amparo à Pesquisa Universitária
(FAPEU-UFSC)
Secretaria da Cultura (UFSC)
 
 
Patrocínio
    Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC)
       Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL)
     Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR)
 
Lei do Audiovisual
Agência Nacional do Cinema (ANCINE)
 



Contestado, o que é?
                              (resumo histórico)
Sylvio Back

A Guerra do Contestado (1912-1916), o maior e mais trágico levante pela posse e contra a usurpação da terra no sé­culo XX no Brasil, com nítido substrato de fanatismo religioso, cunho separatista e ânsia de poder, e cujo desenrolar incendiou os estados do Paraná e de Santa Catarina, provocando a morte de mais de 20 mil pessoas, continua pouco estudado e reconhecido nas escolas e universidades, além de inteira­mente desterrado da historiografia e do in­consci­ente coletivo nacionais.

Inúmeras vezes associado à Canudos (1896-1897), dadas as raízes messiânicas, sociais e bélicas comuns, embora o viés geopolítico, multinacional, xenófobo e terrorista de luta nos sertões catarinenses os distancie, inclusive, pelo número de mortos e feridos, o Contes­tado soa como um acontecimento fan­tasma no processo civili­zatório brasileiro, em especial, do Sul.

Quando não é, inclu­sive, con­fundido com a Revolução Farrou­pilha (1835-1845) e com os Mucker (1872-1874), aquela, por­que chegou a estender seu raio de ação até Santa Catarina (Laguna e Lages), este, pelo fervor religioso que norteou seu nas­cimento e derrocada frente às tro­pas imperiais.

Há quase cem anos, exatamente em 1915, com a prisão de seu último lí­der, Adeo­dato, o chamado “Flagelo de Deus”, terminava a (ainda) tão mal co­nhecida e esparsamente estudada “Campanha do Contestado”, uma guerra civil sem pre­cedentes na História do Brasil, e que, durante quatro anos, entre 1912 e 1916, conturbou o Centro Oeste de Santa Catarina numa área do tamanho do Estado de Alagoas. Era esse o territó­rio rei­vindicado pelo Paraná, cujas fronteiras iam até a atual divisa do Rio Grande do Sul, e contestada no Supremo Tribunal Federal, daí a expressão, “Contestado”.

Numa violenta, épica e desigual luta fraticida, quando se chegou a cogitar o inédito uso da aviação para bombardear os revoltosos, antigos possei­ros e fa­náticos religiosos, que se reuniam nos chamados “redutos” (toscas cidadelas onde aceitavam uma “vida concentracionária”, rezando o dia inteiro, passando fome e na total insalaubridade, e até submetendo-se a castigos físicos) sob lideranças místicas e paramilitares que vinham de outras refregas institucionais da região, como a Revolução Federalista (1893-1895), que também almejava separar-se do resto do país.

Todos, juntamente, com pequenos fa­zendei­ros, er­vateiros e la­vradores, peões, deserdados de vários quadran­tes, comerciantes, profissionais li­berais, desempregados, imi­grantes, quilombolas, desertores e fugi­ti­vos da lei, se bateram (e revidaram com idêntica virulencia) contra a ex­plo­ração de empresas estrangei­ras aliadas a latifundiários, mer­ce­ná­rios e aos detentores do poder político e militar no Paraná e Santa Catarina.

E, depois, no ápice dos acontecimentos, do Go­verno Federal, com a entrada em cena do Exército (quase setenta por cento do seu efetivo nacional) em 1914, temeroso de que ali havia rastilho de retorno à monarquia, especialmente, quando se espalhou pela região em guerra a explosiva noticia da criação da Monarquia Sul-Brasileira, que se estenderia do Uruguai ao Rio de Janeiro.

O pivô de tudo foi a concessão de terras úberes e forra­das de pi­nheiros e outras árvores nobres à multinacio­nal Brazil Rai­l­way Com­pany (financeiramente monitorada pelo chamado Sindicato Far­quhar, hol­ding internacional do americano Percival Far­quhar, dono de um império ferroviário e de energia elétrica no país)  que, para cons­truir uma extensa e dispendiosa estrada de ferro, cor­tando, a partir de São Paulo, o Paraná e Santa Catarina até o Rio Grande do Sul, ganhou da República quinze quilôme­tros de cada lado do traçado. Um au­têntico maná.

No en­tanto, ao invés de povoar com colonos europeus as terras vizinhas à ferrovia, se­gundo obrigação contra­tual, a Brazil Railway decidiu otimi­zar seus lucros, cri­ando a Sou­thern Brazil Lumber and Colonization Com­pany, conhecida por Lumber – uma gi­gantesca serraria que rapida­mente trans­formou-se na maior da América do Sul.

Enquanto as discussões sobre fronteiras entre catari­nenses e para­naenses se arrastavam nos tribunais, os cons­trutores da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, os adminis­tra­dores da Lumber e os grandes proprietários de terras dos dois Es­tados (na época, “provín­cias”), investiam no au­mento de seus res­pectivos horizontes tanto para a extensiva expropri­ação das ri­que­zas naturais (araucária, imbuía, cedro, planta­ções de erva-mate, e pastagens férteis para o gado) como para a cobrança de impostos.
      
A expulsão da caboclada e que tais (milhares deles contratados no Nord­este e no Rio de Janeiro, sem trabaho após a con­clusão da ferrovia em 1910) de seus ranchos, plantações e pi­nheirais, fazia parte do ne­gócio. E para quem ocupava aqueles imen­sos e ricos sertões, título de propriedade era uma ficção ou então encarado com um instrumento dos “coronéis” para en­ganá-los.
Mas naqueles idos de 1912, quando a arbitrariedade no campo era mo­eda corrente, nem o latifúndio nem os estrangeiros conta­vam com uma súbita, depois grada­tiva, organi­zada e ferrenha reação armada dos espolia­dos. O alento provinha de um catolicismo rús­tico mes­clado a nebulosas convicções mitoló­gi­cas rememoradas por dois “monges” viandantes e curandei­ros, João e José Maria, cada um a seu tempo, líderes carismáti­cos convertidos pelos fiéis em “santos guerrei­ros”, mesmo de­pois de mortos. Instigado e munici­ado por cis­mas políticos regionais, o segundo deles, José Maria, que “vendia” fraudulentamente terras devolutas aos posseiros, pregava e prometia à multidão de seguidores a implantação de uma “mo­narquia celestial” (inspirado na mitológica figura de Carlos Magno) para se con­trapor à Re­pública, execrada como sendo uma “inven­ção do di­abo”, respon­sável pela fome, miséria e êxodo a que tinham sido condenados.   

No princípio revestido e travestido de um messianismo de corte ordeiro e autodefensivo, mas que logo foi evoluindo para uma luta de vida e morte tanto de caráter rei­vindicatório quanto de poder, com laivos terroristas na afir­mação social e en­frenta­mento béli­co – um ce­nário institucio­nal desconhecido numa re­gião até então rara e ralamente habitada.
Assim, a Guerra do Contestado acabou adubando com sangue e selvageria inaudita o chão onde antes vi­viam pacifica­mente milhares de famílias, de vez em quando visitadas pela Igreja, cujos padres, pura ironia, ora benziam as armas das tropas, como durante o conflito alcaguetavam ao Exército as prelazias dos caboclos para os ataques do general Setembrino de Carvalho, que desconhecia topograficamente a região.
Rodea­dos hoje por gigantescas e silenciosas extensões de pinus elliottii, onde antes se viam vastas po­pulações de animais silvestres, de pinheiro, plantações de erva-mate e milharais, cri­ação e lavouras de sub­sistên­ica, atualmente, cruzei­ros fan­tas­mas de “pelados” e soldados inse­pultos conti­nuam clamando por salvação divina e justiça terrena. –
O Diretor

Sylvio Back é cineasta, poeta, roteirista e escritor. Filho de Imigrantes hún­garo e alemã, é natural de Blumenau (SC). Ex-jornalista e crí­tico de cinema, au­todidata, inicia-se na direção cinematográfica em 1962, tendo escrito, dirigido e produzido até hoje trinta e oito filmes – entre curtas, médias e onze longas-metragens, esses, a saber: Lance Maior” (1968), A Guerra dos Pe­lados” (1971), Ale­luia, Gretchen” (1976), Revo­lução de 30” (1980), Repú­blica Gua­rani” (1982), Guerra do Bra­sil” (1987), Rádio Auriverde” (1991), Yndio do Brasil” (1995), Cruz e Sousa O Poeta do Des­terro” (1999), “Lost Zweig” (2003), “O Contestado – Restos Mortais” (2010); e “O Universo Graciliano” (2012, em finalização).

Tem editados vinte e um livros entre poesia, ensaios, contos e os argu­men­tos/roteiros dos filmes, Lance Maior”, Aleluia, Gret­chen”, Re­pública Guarani”, Sete Quedas”, Vida e Sangue de Po­laço”, O Auto-Retrato de Bakun”, Guerra do Brasil”, Rá­dio Auriverde”, Yndio do Brasil”, Zweig: A Morte em Cena”, Cruz e Sousa O Poeta do Desterro” (tetralíngüe), Lost Zweig” (bilíngue) e A Guerra dos Pelados”.

Obra poética: O ca­derno eró­tico de Sylvio Back” (Tipografia do Fundo de Ouro Preto, Minas Gerais, 1986); Moedas de Luz” (Max Limo­nad, São Paulo, 1988); A Vinha do De­sejo” (Geração Editorial, SP, 1994); Yndio do Brasil” (Poemas de Filme) (No­nada, MG, 1995); bou­doir” (7Le­tras, Rio de Janeiro, 1999); Eurus” (7Letras, RJ, 2004); Traduzir é poetar às avessas” (Langston Hughes traduzido) (Memorial da América Latina, SP, 2005), Eurus” bilíngüe (português-inglês) (Ibis Libris, RJ, 2006); kinopoems” (@-book) (Cronópios Pocket Books, SP, 2006); e As mulheres gozam pelo ouvido” (Demônio Negro, SP, 2007).

Com 74 láureas nacionais e internacionais, Sylvio Back é um dos mais premiados cineastas do Brasil. Em 2011, recebe a insígnia de Oficial da Ordem do Rio Branco, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, pelo conjunto de sua obra cinematográfica e de roteirista. –

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