quinta-feira, 27 de setembro de 2012

TEOREMA

parte de texto do Miguel Pereira:
[...]


"Já se tornou lugar comum chamar Teorema de um filme simbólico. Os inserts
do deserto que cortam continuamente a narração são apenas uma das formas usadas
por Pasolini para fazer as passagens do plano “realista” para o simbólico. O tempo
não é cronológico, mas mítico. A correlação com o sagrado é pois, quase que espontânea
numa estrutura narrativa assim pensada. O alegórico se junta ao mítico e ao
sagrado para construírem um espaço de desfecho de cada personagem da família
burguesa visitada pelo divino hóspede que toca a todos com a sua graça. Se Teorema
causou escândalo em muitos lugares, assistido hoje parece um inocente caso de
atração fatal por uma luz magnética e iluminadora de novos horizontes para o homem.
Ao contrário do desespero, o ser humano de Teorema encontra seu caminho
pela ânsia de vida e não de morte. Para cada figura visitada, Pasolini propõe uma
saída simbólica. Mas, talvez a mais profética seja a da criada da família que representa
o mundo popular de fé, milagres e transcendência. Não apenas chegamos ao auge
da excitação religiosa, como por ela hoje se fazem guerras que, na verdade, escondem
interesses econômicos bem mais profundos. Mas, de qualquer modo, é indiscutível
o avanço dos fundamentalismos de todas as origens e formatos. Alguns ele25
mentos do filme parecem datados ou românticos, como o gesto do empresário de
doar a sua fábrica aos operários. Na verdade, porém, Pasolini estava mais interessado
na provocação radical do que num fato possível. Por isso, esse gesto está inserido
no espaço dramático da purgação de seu personagem que perambula pelo deserto
sem rumo, no final do filme.FONTE: comunidade pier paolo pasolini

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