“POR UM MARCO
REGULATÓRIO, JÁ!”
Na
esperteza bárbara do capital, o imaginário foi transformado num lixão. Numa
espécie de celebração de uma completa aniquilação do saber. Digamos que a TV e
o cinema são hoje uma afirmação militar-religiosa de negação da sensibilidade a serviço da
alienação. Basta que se veja aqui, a partilha do culto da barbárie explicitando
com o espetáculo vazio, uma defesa escancarada do nivelamento mais baixo possível do espectador da imagem e do som. E isso nos conduzindo a quê?
Ora,
como entender os excessos no uso do feio, do porco, da anomalia e da violência
nos meios de comunicação, vinte e quatro horas por dia? Meses, anos e décadas
sendo repetindo como as novelinhas e seus papagaios! Que tipo de sensibilidade tem um programa como
o dos senhores Ratinho, Datena, Gugu ou mesmo Faustão? Onde se vê em todo esse
lixo, a exuberância plena do exercício criativo da vida? Na Xuxa? Digamos que a
TV vem transformando o hábito de pensar numa perda de tempo previsível. O
ritual é “se virar nos trinta”, e dar vez a boçalidade dos programas de
auditório e religiosos. Todos, uma circularidade ideológica de aberrações. E
através dessa máscara, o sorriso libidinoso do poder de famílias mais próximas
dos porcos, que dos humanos.
Sim, nos
causa horror o ambiente deformativo da mídia no Brasil, onde o país deixa de
ser ousado e criativo para se transformar numa retransmissão de velhos
discursos fascistas de Sarney, aos enfadonhos programas religiosos na TV. E
existe pior crueldade para o telespectador que ver e ouvir pedirem dinheiro em
nome de deus? Não conseguimos explicar a nós mesmos, tal estado de fanatismo e
atraso servindo aos canais de televisão. Honestamente, é o quê?
Também
não somos visionários, nem delirantes mas queremos a curto prazo, uma política para as
comunicações bem ousada e
criativa. Ora, como se pode formar um povo mais preparado e profundo com essa
enxurrada de aberrações todos os dias. Como podem, declarados inimigos da
cultura brasileira, serem donos de redes de televisão, rádios e jornais?
Televisões, rádios e jornais que só trabalham o embrutecimento como forma de
pensar e viver. Que lucram muito com os desvios de uma mídia comprometida com o espetáculo vulgar, venal e intimidador!
Bem,
antes defendíamos um país verdadeiro para todos. Não confundir com “o país de
todos”. Hoje, o balizamento do saber passa pela monstruosidade de uma
burocracia infernal, beneficiando claro, as velhas múmias do passado. Também
não lamentamos, nem defendermos o lixo como luxo. Ainda ontem queríamos uma
real reforma agrária da terra e do ar. Hoje defendem a polícia fantasiada de
pacificadora, dimensionando-se uma “normalidade” enloquecida para com o
dinheiro, aliado ao “sucesso” sem consistência alguma. Temos sim, uma mídia
corrupta e comprometida com escândalos e inutilidades. Mas...como podem querer
um país e um povo melhor?
Com
muitas dificuldades, volta a se falar num Marco Regulatório para a mídia!
Marca, marco, chão! Nossas origens e as famílias econômicas, políticas,
culturais e tradicionais; excedentes em poder, prepotência e capital.
Despotismo e cinismo, estão a necessitar de um novo marco diferente da marca de
seu marketing. Para que passem a exceder menos e a regular menos. E como marco
de um povo adulto e que já busca autonomia como negação de sua história de
dependência, submissão e escravidão de agrados e compensações de suas
necessidades administradas e dinamizadas pela economia, a cultura, a divisão de
trabalho e sob essa solidez que temos que fazer se desmanchar no ar – os meios
absolutos e particulares de comunicação!
E sempre
que um processo social e mais democrático evolui para uma melhor participação
do andar de baixo, tudo se acelera para uma negação, como ocorreu com o neoliberalismo
e a desregulamentação dos bancos, do mercado e da própria mídia. E hoje já não
possuímos mais blocos históricos pensando nessa história e na força de uma
dialética como fenômeno, razão, significação e mudanças dessa trágica e
permissiva realidade. A semana de Arte Moderna de 22, poderia nos ter sido o
maior marco de nosso bloco histórico. Mas não foi. E Mário de Andrade soube
rebelar-se contra isso, definindo a Semana de aristocrática e perigosa, num
país de povo sem identidade. E o que se buscava ali, naquela Semana, era uma
pequena diferença numa identidade que já tinham: riqueza, poder e execedências!
E se a nossa realidade se tornar aina mais difícil, apelemos para um
plebiscito!
Mario de
Andrade saiu em campo, removeu o solo tentando encontrar nossas raízes
emblemáticas, sem forma, distorcidas e comprometidas. Já envenenadas com
agrotóxicos e transgênicos no DNA, endurecendo sua macroestrutura de futuras
análises e alterações. Com esse Marco Regulatório que se busca e com as
dificuldades já esperadas também na superestrutura de prepotências no solo e no
ar. Na física e metafísica e nas significações. Naturais, fundamentalistas e
absolutistas de religião, poder, capital e comunicação. Mario rodou o Brasil,
rodopiou, chegando até o Peru. Com vontade, conhecimento e solidão; foi longe
demais! Produziu muito. Criou muito. Inclusive inimizades! Ficando sem porto.
Num país com tantos. E nenhum, para o seu barco cheio de arte, beleza e poesia.
E para que, no lugar de um povo só exótico e do futuro, a imagem do presente
não escapasse e para que esse futuro não fosse tão distante e tão irreal como
essa realidade das televisões e das comunicações da mídia criminosa. Em meio a
tantos marcos intransponíveis, Mario teve de seguir a tradição de Édipo, refugiando
em Colono. Refugiando-se em sua solidão!
Mario,
Florestan Fernandes, Celso Furtado, Caio Prado, Glauber Rocha... tantos outros,
já nos iniciaram. Mexer com esse marco essencial em nosso DNA, só com vara
mágica. A de nossos mitos. A de nossa música e de nossa mística – com todos,
tudo e nada! Esta significação de um novo tempo. Enquanto nos mantemos vivos e
crentes em nossos princípios, meios e fins. Tão distantes e que não podem
terminar. Só como transfiguração, o solo de Nietzsche. Aquele que ele teve em
Turim, onde hipotecou o seu quadragésimo quarto aniversário: na loucura! Na
descoberta de si mesmo. Com esse nada que conseguiu ultrapassar! Assentando-se
definitivamente em seu próprio solo, como já disse Antonio Olinto, sobre o
próprio Nietzsche. Em Turim, cidade que Olinto conhecia bem, a mais grave das
leis: a da gravidade. Que havia prendido os pés do filósofo ao chão com mãos,
corpo e cada parte de si mesmo. Ligando a ele um inteiro sistema de vida, de
frutos e pensamentos, sonhando ao mesmo tempo e fazendo-o, sentir-se. E
existir!
Daí a
importância de nossa territorialidade, do nosso comportamento e de nossa
existência bem estruturada histórica e culturalmente. E é assim que precisamos
nos sentir com esse novo Marco Regulatório das Comunicações. Ou seja,
precisamos desfazer este país de famílias, de milícias, de máfias e ocupações
militarizadas. E nenhuma delas interessa ao povo. Econômica, política e
cultural. Todas de solo, de ar, de marcas e marcos envenenados. Necessitamos de
uma Lei da gravidade como assentamento de nossos pés no chão. E como um nosso
regulamento de existência e realidade. E, daquilo que também nunca tivemos,
visibilidade de um pensamento mais transparente e sólido. Pois o que existe e
resiste desde a Proclamação da República são máscaras que justificam a barbárie
como espetáculo nos meios de comunicação!
Luiz Rosemberg Filho e Sindoval de Aguiar
RJ, 2012
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