CAMINHANDO SOBRE O
DESERTO
ROBERTO ROMANELLI
MAIA
ESCRITOR,
JORNALISTA E POETA
Em minha
última
viagem, estive meditando sobre alguns aspectos relativos à natureza e ao
comportamento do ser humano.
São
observações
feitas durante cerca de 40 anos como escritor e jornalista que conheceu
pelo
menos 72 países, alguns mais, outros menos.
Elas
tratam da
aridez,
da indiferença, da omissão, da monotonia
e da
rotina como fatores impeditivos na busca pela felicidade.
Do encontro, por
tantos,
em número cada vez maior, de um vazio existencial e
de
uma extrema e visível solidão.
Constatei a ausência
do
verdadeiro amor, como sentimento dominante, entre aqueles que nos
cercam, no
dia a dia de nossas vidas e mesmo quando distante do meu país pude
observar
a presença da violência, do desamor, da guerra sem sentido, e do ódio
entre
seres humanos.
Eu me vi, não
raras vezes, diante da ausência de
uma preparação interior, para enfrentar o deserto em que se
tranformam
muitas vidas, ao se sentirem perdidas, inseguras, isoladas e
sós!
Verifiquei
que a
crença da maioria, sobre esse deserto interior, está equivocada e
distorcida, já que ele é muito mais
que um
lugar tórrido e seco, com tempestades de areia.
É o habitat
de
diversas formas de vida e de comportamento, que devem
ser
observadas!
Chamo de deserto espiritual o tempo em que deveríamos
aprender a nos recolher interiormente, adentrando no nosso
eu,
para conhecê-lo melhor.
Sem o medo do desconhecido, que conduz à
paralisia e
à anestesia interior e exterior.
Sim, somente
através de uma profunda introspecção chegaremos a um auto-conhecimento,
que nos fará
capazes de enfrentar os nossos medos
interiores e de percorrermos caminhos, muitas vezes plenos de uma aridez
emocional,
não
raramente acompanhada de dor, de
tristeza,
de decepção e de
sofrimento.
Nessa
caminhada,
certamente encontraremos
lembranças ruins, traumas e cicatrizes, que foram vividos e
sentidos,
mas que não nos impedirão,
se
não permitirmos, de buscar os verdadeiros caminhos que nos levam à
felicidade.
E ao olharmos
para as estrelas, perceberemos que assim como aquele que caminha no
deserto,
devemos caminhar em nosso interior com toda cautela, para que tudo
aquilo de
negativo que encontrarmos pelo caminho, não nos cause um mal
maior, do
que aquele para o qual estamos, ou acreditamos estar preparados, em
nosso
dia a dia.
Precisamos
saber
enfrentar cada adversidade com esperança e uma fé profunda em nossa
capacidade de reação e de renovação interior.
Se para tanto
tivermos que viver em um deserto espiritual, transformemos esse momento,
em
que nos recolhemos ao nosso interior, num momento para o
auto-conhecimento, para a busca de uma cura interior, e para um encontro
com
a nossa própria libertação.
Sim, somente
em
base a uma crença e a uma fé profunda, em um Ser Supremo real e
verdadeiro, dentro de nós, e não aquele criado e construído pelos
homens, à
sua imagem e semelhança, poderemos caminhar em nosso interior,
enfrentando toda espécie de desafios e de adversidades que possam surgir
em
nossas vidas.
Faz parte
deste
processo de aprendizado e de treinamento para a vida o
reconhecimento
de que passamos por momentos difíceis, que nos deixam marcas profundas,
e
criam fantasmas em nosso interior. Com a
certeza de que temos de encarar tudo isso, enfrentando estas
situações, para que possamos alcançar nossa meta principal : o
encontro com o nosso eu .
Esse "ego
"
está em algum lugar, dentro de nós, muitas vezes perdido, sufocado e
escondido por traumas e medos, por fantasmas que nos
assombram.
Sim, erra
quem
nega ou ignora que o nosso eu interior é como um oásis em meio ao
deserto, difícil de encontrar, mas de importância fundamental para
o
nosso equilíbrio físico e mental.
E deixa de
viver
mais plenamente quem desconhece que a sobrevivência depende de
encontrá-lo. Porque
ninguém pode
ser
feliz, nem pode buscar a felicidade, se não encontrar primeiro a si
mesmo!
Somente
através
desse deserto, que muitas vezes temos de atravessar em nossa vida,
alcançaremos o maior dos nossos encontros: aquele com o nosso eu
interior.
Um encontro
definitivo e marcante, que vai nos permitir conhecer a nós mesmos,
para que assim possamos chegar a
nossa
verdadeira e
mais profunda identidade.
E, por
mais difícil e doloroso que possa ser, não podemos fraquejar, nem
desanimar em nossa busca.
Temos que seguir em frente, superando esses medos e fantasmas
interiores.
Assim,
ao enfrentarmos
todos os
nossos
traumas e
cicatrizes interiores, poderemos de fato tapar as feridas do
nosso interior, mesmo que em razão desse enfrentamento
venham as lágrimas,
que
deixaremos rolar à vontade!
Sim, que elas
venham, e irriguem a
aridez
de nossos deserto. Que o limpem
e
que o purifiquem, retirando toda a areia espiritual que possa estar
incrustada no eu, em nossas vidas.
Que estas
lágrimas possam nos transformar num real e verdadeiro oásis e numa fonte
de
água cristalina, para aqueles que fazem parte de nosso convívio.
Para que nós
possamos ajudá-los, também, em seus momentos de aridez e de deserto
espiritual!
No final, o
que
conta é sabermos que através desta travessia pelo deserto
estaremos
mais fortalecidos e preparados para encarar "as realidades" deste mundo,
mais firmes e
fortes para enfrentar as adversidades que surjam.
E estaremos
prontos para ser um amparo, e uma mão aberta e estendida, para nós
mesmos e
para os nossos irmãos, que ainda não passaram por este momento de aridez
e
de deserto físico, mental e espiritual .
Um comentário:
Acabo de voltar de uma boa temporada por todo o Chile e tive a mesma sensação. Você continua escevendo como nunca.
Bjs
Edi
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