domingo, 30 de setembro de 2012

ROBERTO ROMANELLI MAIA

Dizem que tudo passa
e que tudo acaba...
 
Que os problemas e as dificuldades, também...
 
Que os dias de alegria, de sorrisos
e de felicidade não duram para sempre...
 
E que os dias de sofrimento,
de amargura e de solidão,
às vezes, se eternizam
dentro de nós...
 
Mas que as lágrimas e as dores vividas
e sentidas não durarão...
 
Junto com as decepções
e as frustrações que nos fazem chorar... ...
 
Chegando ao ponto de dizer
que a dor pela perda de um ser querido, passará.
 
E que só permanecerá,
dentro de nós a saudades...
 
Mas,  verdade ou não
o fato é que necessitamos viver
e sentir momentos de felicidade
e também de tristeza...
 
Só assim  nosso espírito imortal receberá todas
as nossas experiências vivenciadas
e acumuladas.
 
Assim, se hoje é para nós  um  dia
repleto de alegria ou de dor,
paremos um instante.
 
E elevemos os nossos pensamentos,
desejos e crenças...
 
A um Deus que deveria ser,
para todos nós, um só!
 
Certos que se não há alegria
e felicidade que sempre dure,
  também não há mal nem dor
que não acabe, ou que dure
para sempre.


     

ROBERTO ROMANELLI MAIA

ESCRITOR, JORNALISTA E POETA

TELA: CHAGALL


SILAS CORREA LEITE

In Memoriam
Para Everi Carrara
A voz de Nara Leão
O rosto de Nara Leão
A artista que cantava como se dedilhando
O encordoamento vocal
O repertório de Nara Leão
O tom o timbre – a música
A voz que sabia a perfeição do canto
Portentosa jóia rara
A ternura de Nara Leão
Como se lavasse lágrimas
Pondo-as em teclas de um piano íntimo
Soando estrelamentos-blues
...............................................
O silêncio de Nara Leão
Ainda evoca saudades
Como um símbolo de repertório e interpretação
Magnificamente Estrela!
-0-
Silas Correa Leite

sábado, 29 de setembro de 2012

FILME DE SYLVIO BACK

O CONTESTADO – RESTOS MORTAIS

 

Filme de Sylvio Back



(Digital, Cor/PB, 118 min.)

Sinopse

Com o testemunho de trinta médiuns em transe, articulado ao memorial sobrevivente e à polêmica com especialistas, “O Contestado – Restos Mortais”, é o resgate mítico da chamada Guerra do Contestado (1912-1916). Envolvendo milhares de civis e militares, o sangrento episódio conflagrou Paraná e Santa Catarina por questões de fronteira e disputa de terras, mesclado à eclosão de um surto mes­siânico de grandes proporções.


Ficha técnica

 

Equipe
 
Fotografia e câmara Antonio Luiz Mendes
 
Diretor assistente Zeca Pires
 
Som-direto Juarez Dagoberto
 
Montagem/edição Sylvio Back/PH Souza
 
Abertura/efeitos visuais Fernando Pimenta
 
Produção PH Souza
 
Produção executiva Margit Richter
 

Produção Usina de Kyno/Anjo Azul Filmes


Pesquisas, roteiro e direção Sylvio Back

Apoio
   Governo do Paraná
Secretaria de Estado da Cultura do Paraná
Governo de Santa Catarina
Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte
 de Santa Catarina
Universidade Federal de Santa Catarina
Fundação de Amparo à Pesquisa Universitária
(FAPEU-UFSC)
Secretaria da Cultura (UFSC)
 
 
Patrocínio
    Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC)
       Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL)
     Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR)
 
Lei do Audiovisual
Agência Nacional do Cinema (ANCINE)
 



Contestado, o que é?
                              (resumo histórico)
Sylvio Back

A Guerra do Contestado (1912-1916), o maior e mais trágico levante pela posse e contra a usurpação da terra no sé­culo XX no Brasil, com nítido substrato de fanatismo religioso, cunho separatista e ânsia de poder, e cujo desenrolar incendiou os estados do Paraná e de Santa Catarina, provocando a morte de mais de 20 mil pessoas, continua pouco estudado e reconhecido nas escolas e universidades, além de inteira­mente desterrado da historiografia e do in­consci­ente coletivo nacionais.

Inúmeras vezes associado à Canudos (1896-1897), dadas as raízes messiânicas, sociais e bélicas comuns, embora o viés geopolítico, multinacional, xenófobo e terrorista de luta nos sertões catarinenses os distancie, inclusive, pelo número de mortos e feridos, o Contes­tado soa como um acontecimento fan­tasma no processo civili­zatório brasileiro, em especial, do Sul.

Quando não é, inclu­sive, con­fundido com a Revolução Farrou­pilha (1835-1845) e com os Mucker (1872-1874), aquela, por­que chegou a estender seu raio de ação até Santa Catarina (Laguna e Lages), este, pelo fervor religioso que norteou seu nas­cimento e derrocada frente às tro­pas imperiais.

Há quase cem anos, exatamente em 1915, com a prisão de seu último lí­der, Adeo­dato, o chamado “Flagelo de Deus”, terminava a (ainda) tão mal co­nhecida e esparsamente estudada “Campanha do Contestado”, uma guerra civil sem pre­cedentes na História do Brasil, e que, durante quatro anos, entre 1912 e 1916, conturbou o Centro Oeste de Santa Catarina numa área do tamanho do Estado de Alagoas. Era esse o territó­rio rei­vindicado pelo Paraná, cujas fronteiras iam até a atual divisa do Rio Grande do Sul, e contestada no Supremo Tribunal Federal, daí a expressão, “Contestado”.

Numa violenta, épica e desigual luta fraticida, quando se chegou a cogitar o inédito uso da aviação para bombardear os revoltosos, antigos possei­ros e fa­náticos religiosos, que se reuniam nos chamados “redutos” (toscas cidadelas onde aceitavam uma “vida concentracionária”, rezando o dia inteiro, passando fome e na total insalaubridade, e até submetendo-se a castigos físicos) sob lideranças místicas e paramilitares que vinham de outras refregas institucionais da região, como a Revolução Federalista (1893-1895), que também almejava separar-se do resto do país.

Todos, juntamente, com pequenos fa­zendei­ros, er­vateiros e la­vradores, peões, deserdados de vários quadran­tes, comerciantes, profissionais li­berais, desempregados, imi­grantes, quilombolas, desertores e fugi­ti­vos da lei, se bateram (e revidaram com idêntica virulencia) contra a ex­plo­ração de empresas estrangei­ras aliadas a latifundiários, mer­ce­ná­rios e aos detentores do poder político e militar no Paraná e Santa Catarina.

E, depois, no ápice dos acontecimentos, do Go­verno Federal, com a entrada em cena do Exército (quase setenta por cento do seu efetivo nacional) em 1914, temeroso de que ali havia rastilho de retorno à monarquia, especialmente, quando se espalhou pela região em guerra a explosiva noticia da criação da Monarquia Sul-Brasileira, que se estenderia do Uruguai ao Rio de Janeiro.

O pivô de tudo foi a concessão de terras úberes e forra­das de pi­nheiros e outras árvores nobres à multinacio­nal Brazil Rai­l­way Com­pany (financeiramente monitorada pelo chamado Sindicato Far­quhar, hol­ding internacional do americano Percival Far­quhar, dono de um império ferroviário e de energia elétrica no país)  que, para cons­truir uma extensa e dispendiosa estrada de ferro, cor­tando, a partir de São Paulo, o Paraná e Santa Catarina até o Rio Grande do Sul, ganhou da República quinze quilôme­tros de cada lado do traçado. Um au­têntico maná.

No en­tanto, ao invés de povoar com colonos europeus as terras vizinhas à ferrovia, se­gundo obrigação contra­tual, a Brazil Railway decidiu otimi­zar seus lucros, cri­ando a Sou­thern Brazil Lumber and Colonization Com­pany, conhecida por Lumber – uma gi­gantesca serraria que rapida­mente trans­formou-se na maior da América do Sul.

Enquanto as discussões sobre fronteiras entre catari­nenses e para­naenses se arrastavam nos tribunais, os cons­trutores da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, os adminis­tra­dores da Lumber e os grandes proprietários de terras dos dois Es­tados (na época, “provín­cias”), investiam no au­mento de seus res­pectivos horizontes tanto para a extensiva expropri­ação das ri­que­zas naturais (araucária, imbuía, cedro, planta­ções de erva-mate, e pastagens férteis para o gado) como para a cobrança de impostos.
      
A expulsão da caboclada e que tais (milhares deles contratados no Nord­este e no Rio de Janeiro, sem trabaho após a con­clusão da ferrovia em 1910) de seus ranchos, plantações e pi­nheirais, fazia parte do ne­gócio. E para quem ocupava aqueles imen­sos e ricos sertões, título de propriedade era uma ficção ou então encarado com um instrumento dos “coronéis” para en­ganá-los.
Mas naqueles idos de 1912, quando a arbitrariedade no campo era mo­eda corrente, nem o latifúndio nem os estrangeiros conta­vam com uma súbita, depois grada­tiva, organi­zada e ferrenha reação armada dos espolia­dos. O alento provinha de um catolicismo rús­tico mes­clado a nebulosas convicções mitoló­gi­cas rememoradas por dois “monges” viandantes e curandei­ros, João e José Maria, cada um a seu tempo, líderes carismáti­cos convertidos pelos fiéis em “santos guerrei­ros”, mesmo de­pois de mortos. Instigado e munici­ado por cis­mas políticos regionais, o segundo deles, José Maria, que “vendia” fraudulentamente terras devolutas aos posseiros, pregava e prometia à multidão de seguidores a implantação de uma “mo­narquia celestial” (inspirado na mitológica figura de Carlos Magno) para se con­trapor à Re­pública, execrada como sendo uma “inven­ção do di­abo”, respon­sável pela fome, miséria e êxodo a que tinham sido condenados.   

No princípio revestido e travestido de um messianismo de corte ordeiro e autodefensivo, mas que logo foi evoluindo para uma luta de vida e morte tanto de caráter rei­vindicatório quanto de poder, com laivos terroristas na afir­mação social e en­frenta­mento béli­co – um ce­nário institucio­nal desconhecido numa re­gião até então rara e ralamente habitada.
Assim, a Guerra do Contestado acabou adubando com sangue e selvageria inaudita o chão onde antes vi­viam pacifica­mente milhares de famílias, de vez em quando visitadas pela Igreja, cujos padres, pura ironia, ora benziam as armas das tropas, como durante o conflito alcaguetavam ao Exército as prelazias dos caboclos para os ataques do general Setembrino de Carvalho, que desconhecia topograficamente a região.
Rodea­dos hoje por gigantescas e silenciosas extensões de pinus elliottii, onde antes se viam vastas po­pulações de animais silvestres, de pinheiro, plantações de erva-mate e milharais, cri­ação e lavouras de sub­sistên­ica, atualmente, cruzei­ros fan­tas­mas de “pelados” e soldados inse­pultos conti­nuam clamando por salvação divina e justiça terrena. –
O Diretor

Sylvio Back é cineasta, poeta, roteirista e escritor. Filho de Imigrantes hún­garo e alemã, é natural de Blumenau (SC). Ex-jornalista e crí­tico de cinema, au­todidata, inicia-se na direção cinematográfica em 1962, tendo escrito, dirigido e produzido até hoje trinta e oito filmes – entre curtas, médias e onze longas-metragens, esses, a saber: Lance Maior” (1968), A Guerra dos Pe­lados” (1971), Ale­luia, Gretchen” (1976), Revo­lução de 30” (1980), Repú­blica Gua­rani” (1982), Guerra do Bra­sil” (1987), Rádio Auriverde” (1991), Yndio do Brasil” (1995), Cruz e Sousa O Poeta do Des­terro” (1999), “Lost Zweig” (2003), “O Contestado – Restos Mortais” (2010); e “O Universo Graciliano” (2012, em finalização).

Tem editados vinte e um livros entre poesia, ensaios, contos e os argu­men­tos/roteiros dos filmes, Lance Maior”, Aleluia, Gret­chen”, Re­pública Guarani”, Sete Quedas”, Vida e Sangue de Po­laço”, O Auto-Retrato de Bakun”, Guerra do Brasil”, Rá­dio Auriverde”, Yndio do Brasil”, Zweig: A Morte em Cena”, Cruz e Sousa O Poeta do Desterro” (tetralíngüe), Lost Zweig” (bilíngue) e A Guerra dos Pelados”.

Obra poética: O ca­derno eró­tico de Sylvio Back” (Tipografia do Fundo de Ouro Preto, Minas Gerais, 1986); Moedas de Luz” (Max Limo­nad, São Paulo, 1988); A Vinha do De­sejo” (Geração Editorial, SP, 1994); Yndio do Brasil” (Poemas de Filme) (No­nada, MG, 1995); bou­doir” (7Le­tras, Rio de Janeiro, 1999); Eurus” (7Letras, RJ, 2004); Traduzir é poetar às avessas” (Langston Hughes traduzido) (Memorial da América Latina, SP, 2005), Eurus” bilíngüe (português-inglês) (Ibis Libris, RJ, 2006); kinopoems” (@-book) (Cronópios Pocket Books, SP, 2006); e As mulheres gozam pelo ouvido” (Demônio Negro, SP, 2007).

Com 74 láureas nacionais e internacionais, Sylvio Back é um dos mais premiados cineastas do Brasil. Em 2011, recebe a insígnia de Oficial da Ordem do Rio Branco, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, pelo conjunto de sua obra cinematográfica e de roteirista. –

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

SILAS CORREA LEITE

Bob Dylan, o Maldito Blues-Man Rompendo Sombras e Escuridões


(Improviso para uma Crônica-homenagem)


“Quando ouvi Bob Dylan, pensei:
Então ainda não chegamos ao fim da linha...”

Allen Ginsberg, Poeta dos Beatniks



Robert Allen Zimmerman do Minnesota, oeste Americano, judeu peregrino que cantou suas marés altas e baixas, violão e gaita de boca, alma desterrada do Mississipi, poeta denuncista, humanitário, louco sonhador, chuva varrida pelo vento. As pedras rolarão. As chuvas cairão. Com ele, Bob Dylan, os loucos reaprenderam a sonhar.

Um mito dos Anos 60/70/80/90... E não existe outro. O maior poeta da rica música norte-americana. A verve de Faukner, era determinado e destemido na sua sozinhez de tímido gritante, válvula pulsante, gigante. E nunca lucrou muito com seus trabalhos. Lenda vida, espírito-que-anda do rock, subiu, desceu, foi ateu, cristão, judeu, mirabolante experimentou tudo o que pôde para permanecer ele mesmo, carne e coragem.

Hippye pop com sua metralhadora musicoletral, atacando as guerras lucrativas-infames, contra elas todas, os podres poderes; fugiu de armadilhas e não se assinou dono da verdade, qualquer verdade-vaidade. Não aceitou becos ou guetos, bandeiras. A contracultura não como cofre cheio, mas com seu ascoletral contra totens. Poesia nas letras, obsessão, sarcasmo, regurgitando o que via, fio terra, sacava – a realidade é um revólver quente, (parafraseio The Beatles) - cantava, lia, ouvia, sentia e declinava para permanecer mutante, música braba na corrente sanguínea.

Trabalhava a língua-linguagem. E profetizava enquanto poeta do caos (e pré-caos ou pós-caos) arrancando do enraizado country-folk puro e simples para fazer escalas e escolas, cifras & partituras. Escrever sobre Dylan é um perigo. Benzadeus. Rios, braços, correntes, nosso capitão. Inspirado nele faz tempo escrevi Negredos:


“Negredos e Correntes” (Poema)


Libertar, eles libertaram, pelo menos no papel entre moinhos e arados/
Mas se indenizaram; indenizaram os escravocratas de roubos vezeiros/
Em vez de nos indenizarem; à nós, os trabalhadores afrobrasileiros/
E de alguma maneira ainda estamos a uma coivara Acorrentados/
Os pés presos a terra, os tornozelos, os braços, os punhos cerrados/
Os olhos viajam, a mente abstrai e o espírito nos traz de longínquos degredos/
Mesmo que na nossa negritude de amalgamados/
Sejamos agora os Negredos/
Pobres Negros abandonados/
Depois de levas de escravizados/
Temos nossas memórias, lamentos, banzos e medos/
Dos filhos deste solo de mestiços com seus forcados/
Mas os olhos, a boca, os sentidos, as mãos, os dedos/
Ainda gritam contra os dezelos sociais deste Brasil de acorrentados.

.............................................................................................................................

Nunca teve um sucesso dando lucro em primeiro lugar no hit parade. Não se deu lucro como seu meio. Influenciou Caetano e Belchior, o que por si só diz tudo e mostra a grandeza de ter sido o que foi e é & sempre será. Alma bem alimentada de raízes. Um branquelo judeu cor de mandioca vassourinha descascada cantando musica negra feito um pré-rapper?. A alma! a alma!. Já pensou?

Pretos, pobres, prostitrutas, moradores de rua, lutadores de boxe, gatos pardos, doidos, atirados, todos lavavam a alma no seu cantorio feito um folk-pop-banzo anglo-saxônico norte-americano. A América é um blefe? Deu vida aos miseráveis, feito um Walt Whitman pássaro preto da música em pé de guerra e letramentos contra uma América rica e injusta e amoral. Sentir dói. Testemunha de nódoas cantou-as, pulso a pulso. Um gênio na essência da palavra e também literalmente falando (por isso mesmo) tirou de letra.

Fizeram-no um mito mas ele se humanizou o mais que pôde. Não se perdeu como outros tantos, entre drogas e egos insarados nas insofrências. Não quis aura ou signoficante. Merece e faz tempo um Prêmio Nobel da Paz, da Literapura, qualquer coisa joiada assim. 

Seu canto contra a guerra:

SENHORES DA GUERRA
  Bob Dylan
"Vós, senhores da guerra
Que construís canhões
Que construís aviões da morte
Que construís grandes bombas
Que vos escondeis atrás de muros
Que vos escondeis atrás de secretárias
Quero que saibam
Que vejo através das vossas máscaras

Vós, que jamais fizestes outra coisa
Para além de construir para destruir
Jogais com o meu mundo
Como se fosse um brinquedo
Dais-me uma arma na mão
E escondeis-vos do meu olhar
E virais as costas e fugis bem depressa
Quando as rápidas balas cruzam o ar

Como o velho Judas
Mentis e enganais
Quereis que acredite
Que uma guerra mundial pode ter vencedor
Mas vejo para além dos vossos olhos
E vejo para além da vossa mente
Como vejo através da água
Que escorre pelo meu cano de esgoto

Vós preparais os gatilhos
Para que outros os puxem
Depois recostais-vos e apreciais
Quando o número de mortos aumenta
Escondeis-vos nas vossas mansões
Enquanto o sangue escorre
Dos corpos dos jovens
E se mistura com a lama

Vós espalhastes o pior pavor
Que poderia ser lançado
O medo de trazer crianças
Ao mundo
E por ameaçar meu filho
Não nascido e sem nome
Vós não valeis o sangue
Que corre em vossas veias

Eu sei de muitas coisas
Para falar fora da minha vez
Talvez me chameis de jovem
Ou de ignorante
Mas há algo que sei
Embora seja mais novo que vós
Mesmo Jesus jamais
Perdoaria o que fazeis

Quero perguntar-vos algo
Se é vosso dinheiro que vale
Para comprar vosso perdão?
Se achais isso possível
Penso que descobrirão
Quando a morte vos chegar
Que todo dinheiro ganho
Não vos devolverás a alma
"
 
________________________
(Tradução livre de "Masters of War",
do álbum "Freewheling Bob Dylan" de Bob Dylan,
lançado em 1963, tempo de guerra dos EUA contra Vietnã)

Cortou a carne da América, na sua própria. Era parte branca e opressora dela, como também era filho de imigrantes (russos-lituanos) e sabia a dor da saga, de cada um com sua diáspora, cada ser-ilha com suas mensagens de socorro em garrafas, palavras, sons, enfrentações e enfrentamentos íntimos fechados, ciclais.

Parafraseando o próprio Bob Dylan, quando o ouço, em seu sussurro vento-singer, penso que tudo o mais é sacrilégio e a minha alma voa.  Uma forte chuva vai cair?

-0-

Silas Correa Leite, Itararé-SP, Brasil
E-mail: poesilas@terra.com.br

LIVRARIA ALPHARRABIO

Abertura da Mostra
COLEÇÃO “ÁRVORE DO DIA” de CRISTINA BOTTALLO

A mostra traz 125 serigrafias tendo como base um único desenho: o de uma árvore, mais especificamente uma guabirobeira. Originalmente esta proposta fez parte do SP Estampa, evento dedicado a gravura que aconteceu no último mês de maio. De 1 de janeiro a 4 de maio de 2012 Cristina produziu diariamente uma obra diferente. Tendo como base 12 estampas prontas, também  usou intervenções diretas nas matrizes, criando desenhos únicos e gravuras únicas.

Serviço: Abertura: 6/10/2012 – 11h 
                Alpharrabio Espaço Cultural
                Rua Eduardo Monteiro, 151 – Santo André – SP
                4438-4358
                visitação: 7/10 a 15/12/2012 – seg a sex 13 às 19h | sab 9h30 às 13h
 


Cristina Bottallo - Convite.jpg
 
Cristina Bottallo é andreense, vive e trabalha em São Paulo, onde possui seu atelie, que este ano foi aberto a exposições e workshops, com a proposta de ser um espaço de troca e convivência. A “Coleção Árvore do Dia” que trazemos para o Alpharrabio foi concebida para o SP Estampa deste ano e inaugurou o projeto expositivo do seu espaço. Entre 1 de janeiro a 4 de maio de 2012 a artista produziu diariamente uma obra diferente. Tendo como base 12 estampas prontas, também usou intervenções diretas nas matrizes, criando gravuras únicas.
 

CARLOS E. BARROS RODRIGUES

Lavagem de dinheiro
As divergências de interpretação do ilustre ministro Ricardo Lewandowski (revisor) com relação ao ilustre ministro Joaquim Barbosa (relator) no que se refere à Ação Penal 470 (mensalão), a meu ver, não são pertinentes. Houve mesmo lavagem de dinheiro, está evidente, e até mesmo no voto que o revisor leu isso se evidenciou. O dinheiro foi obtido "à sorrelfa", usando a expressão do sr. ministro revisor, e distribuído a parlamentares, não se sabe a quem exatamente, mas foi amplamente divulgado - e isso nada mais é do que lavagem de dinheiro -, para aprovarem rapidamente os projetos de interesse do governo Lula - o mesmo que conseguiu esquivar-se desse processo pelas benesses da oposição e mais alguns; mesmo assim ele se dirigiu à Nação para pedir desculpas do que dizia nada saber (mas certamente, cremos, sabia de tudo). Estamos aguardando com certa ansiedade o final desse julgamento para que possamos ficar em paz, acreditando que ainda há Justiça no Brasil e que a moral brasileira foi preservada.
CARLOS E. BARROS RODRIGUES

MYRIAM MACEDO

 
                      Quem é o objeto indireto?    

     Quem se lembra das aulas de português vai se lembrar do verbo transitivo direto e indireto: quem recebe, recebe “alguma coisa” “ de alguém”.  Essa frase de Marco Aurelio Mello, além de trazer boas lembranças da escola ( muita gente vai achar o contrário!), traz também a boa expectativa de que desta vez, em havendo crimes, haverá finalmente criminosos – nomes, mãos, rostos. De quem os parlamentares envolvidos no processo do mensalão receberam o dinheiro que já foi reconhecido como público? Eis a questão! E, num alento ao povo brasileiro, vem  a ministra Cármen Lúcia firmar sua crença na existência de políticos corretos, dizendo esperar que o jovem não desacredite da política. E eu acrescento, com a máxima vênia,  aludindo ao mesmo desejo, que para que isto ocorra é necessário que a Justiça seja feita, pois um país onde não há justiça é sempre e inevitavelmente um país de bandidos. E somente a Justiça em seu mais puro, belo e legítimo exercício pode dar ou devolver  essa crença aos jovens. Srs. ministros do STF, muito se tem feito nos últimos dias para desqualificá-los ou intimidá-los. Porém, a  postura de Vossas Excelências em sua maioria permanece irretocável, irrepreensível, numa ação constante dentro dos autos, das leis, da competência, sem heterodoxias como alguns querem fazer crer. Tenho certeza de que os jovens, hoje, estão reformulando suas convicções. É o futuro se iluminando para todos os brasileiros?

                                 Myrian Macedo
                                 São Paulo

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

TEOREMA

parte de texto do Miguel Pereira:
[...]


"Já se tornou lugar comum chamar Teorema de um filme simbólico. Os inserts
do deserto que cortam continuamente a narração são apenas uma das formas usadas
por Pasolini para fazer as passagens do plano “realista” para o simbólico. O tempo
não é cronológico, mas mítico. A correlação com o sagrado é pois, quase que espontânea
numa estrutura narrativa assim pensada. O alegórico se junta ao mítico e ao
sagrado para construírem um espaço de desfecho de cada personagem da família
burguesa visitada pelo divino hóspede que toca a todos com a sua graça. Se Teorema
causou escândalo em muitos lugares, assistido hoje parece um inocente caso de
atração fatal por uma luz magnética e iluminadora de novos horizontes para o homem.
Ao contrário do desespero, o ser humano de Teorema encontra seu caminho
pela ânsia de vida e não de morte. Para cada figura visitada, Pasolini propõe uma
saída simbólica. Mas, talvez a mais profética seja a da criada da família que representa
o mundo popular de fé, milagres e transcendência. Não apenas chegamos ao auge
da excitação religiosa, como por ela hoje se fazem guerras que, na verdade, escondem
interesses econômicos bem mais profundos. Mas, de qualquer modo, é indiscutível
o avanço dos fundamentalismos de todas as origens e formatos. Alguns ele25
mentos do filme parecem datados ou românticos, como o gesto do empresário de
doar a sua fábrica aos operários. Na verdade, porém, Pasolini estava mais interessado
na provocação radical do que num fato possível. Por isso, esse gesto está inserido
no espaço dramático da purgação de seu personagem que perambula pelo deserto
sem rumo, no final do filme.FONTE: comunidade pier paolo pasolini

PASOLINI/FILME TEOREMA

"Teorema", de Pier Paolo Pasolini
Este filme, quando lançado na segunda metade da década de 60, provou frisson, a despertar, aqui e ali, polêmicas. A família burguesa de um industrial (Massimo Girotti) recebe o comunicado da chegada de um anjo (Terence Stamp). Estabelecido este no seio familiar, tem início, então, a um processo de desintegração. O anjo tem relações carnais com todos os elementos da casa, inclusive com a empregada (Laura Betti). A estrutura narrativa obedece ao arquétipo do elemento deflagrador, quando um personagem desconhecido chega a determinado lugar e provoca transformações, a causar uma espécie de desintegração de certos preceitos estabelecidos. Vê-se isso, e para ficar em poucos exemplos, em filmes dos mais variados gêneros e dos mais diferentes autores. Em Os brutos também amam (Shane, 1953), de George Stevens, clássico do western, o pistoleiro interpretado por Alan Ladd surge, de repente, e sua presença vem como um justiciamento para uma terra sem lei. William Holden em Férias de amor (Picnic, 1956) também abala preconceitos arraigados com a sua chegada e a sua presença viril. Geralmente esses personagens chegam e vão embora a deixar, com suas presenças, uma marca para nunca mais ser esquecida. Vê-se também o elemento deflagrador, como mola propulsora do processo de esfacelamento, em filmes baianos, como é o caso de O anjo negro (1973), de José Umberto, quando um negro (Mário Gusmão), tal qual o anjo pasoliniano, chega não se sabe de onde e provoca uma aguda crise de identidade numa família colonial e barroca.
A família de Teorema é constituída de um pai, uma mãe (Silvana Mangano), e dois filhos: um homem e uma mulher, além da empregada. Após a carnal knowledge com o filho, este entra em conflito e começa a pintar quadros abstratos. A filha entra em estado de catatonia. A mãe sai, pelas ruas de Roma, à procura de amantes numa sede de sexo insaciável. O industrial, o chefe da família, doa a sua fábrica aos operários e corre nu, e desesperado, pelo deserto. A única que se salva, por assim dizer, é a empregada, que se retira da casa em direção a sua aldeia e entra em levitação, admirada como santa pelos habitantes do lugarejo.
Teorema foi realizado logo depois de O evangelho segundo São Matheus, que pode ser considerado um dos mais belos filmes sobre a vida de Cristo. A crítica ficou perplexa pela beleza de suas imagens e também pelo fato de Pasolini, marxista convicto, materialista, ter feito um filme de tanta religiosidade, dedicado, inclusive, ao Papa João XXIII, idealizador da reforma da Igreja com o Concílio do Vaticano dos anos 60.
A escrita pasoliana é muito original e dotada de uma grande sensibilidade na apreensão dos gestos insólitos do homem do povo, dos párias da vida.
***
Fonte:
http://setarosblog.blogspot.com/2009/06/teorema-de-pier-paolo-pasolini.html