quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

CLÓVIS CAMPÊLO









Atravessando a Abbey Road

ATRAVESSANDO A ABBEY ROAD

Clóvis Campêlo

No dia 8 de agosto de 1969, os quatro beatles se encontraram na Abbey Road para fazerem as fotografias mais famosas do mundo em todos os tempos. Uma delas, terminaria por ser escolhida para a capa do disco que levou o nome da hoje famosa rua londrina.
O autor das fotografias foi o escocês Iain Macmillan, amigo de John Lennon e Yoko Ono, que precisou apenas de dez minutos para clicá-las. A fotografia que findou ilustrando a capa do disco, a quinta da sequência, foi escolhida por Paul McCartney. Iain, o fotógrafo, morreria em 8 de maio de 2006, aos 67 anos de idade, vitimado por um câncer de pulmão.
Antes de chegar aos Beatles, porém, Iain conheceu Yoko em 1966, sendo por ela convidado para fotografar sua exposição no Indica Gallery. Através de Yoko Ono, chegou a John Lennon, que o convidou para fazer as fotografias do álbum. Apesar de ser amigo do fotógrafo e tê-lo indicado para fazer as fotografias, consta que Lennon reclamava insistentemente da demora (apenas dez minutos) e queria ir para o estúdio concluir a gravação, terminando logo “essas fotografias idiotas”. Explica-se: a ideia das fotografias tinha partido de Paul McCartney e entre eles, naquela época, havia uma “briga surda” pela liderança do grupo.
Consta, inclusive, que o disco, gravado na época do LP, havia sido dividido de uma maneira que cada lado contemplasse um dos músicos. Assim, o lado A, que ia de "Come Together" a "I Want You", foi feito para agradar a Lennon. É uma coleção de faixas individuais, enquanto que o lado B (para agradar a McCartney) contém uma longa coletânea de curtas composições que seguem sem interrupção. A sequência de juntar músicas inacabadas criadas por McCartney e Lennon em um enorme pout-pourri foi ideia de Paul, constituindo-se numa espécie de ópera dentro do disco. Lennon, porém, não gostava muito disso. Queria voltar ao velho e bom rock'n'roll dos tempo de Hamburgo.
Segundo os entendidos da música pop, porém, apesar foi no álbum Abbey Road, o último gravado pelo grupo, que George Harrison se firmou como um compositor de primeira linha. Após anos vivendo sob a sombra de John Lennon e McCartney, ele finalmente emplacou dois grandes sucessos com este álbum: "Here Comes the Sun" e "Something". Ambas as canções foram regravadas incessantemente ao longo dos anos, sendo que Something chegou a ser apontada pela revista Time como "a melhor música do disco" e como a segunda música mais interpretada no mundo, atrás somente de "Yesterday", também dos Beatles.
Voltando a fotografia da capa, porém, a fotografia escolhida conteria supostas "pistas"indicando que Paul estava morto: Paul está descalço (segundo ele, aquele dia fazia muito calor, e ele não estava aguentando ficar com nada nos pés), fora de passo com os outros, está de olhos fechados, tem o cigarro na mão direita, apesar de ser canhoto, e a placa do fusca, em inglês, "beetle", estacionado é "LMW" referindo se as iniciais de "Linda McCartney Widow" ou "Linda McCartney Viúva" e abaixo o "281F", supostamente referindo-se ao fato de que McCartney teria 28 anos se (if em inglês) estivesse vivo. Um contra-argumento é que Paul tinha somente 27 anos no momento da publicação de Abbey Road, embora alguns interpretem isso como ele teria um dia 28 anos se ele estivesse vivo.) Os quatro Beatles na capa, segundo o mito do "Paul está morto", representariam o Padre (John, cabelos compridos e barba, vestido de branco), o responsável pelo funeral (Ringo, em um terno preto), o Cadáver (Paul, em um terno, mas descalço - como um corpo em um caixão), e o coveiro (George, em jeans e uma camisa de trabalho denim). Além disso há um outro carro estacionado, de cor preta, de um modelo usado para funerais e eles andam em direção a um cemitério próximo a Abbey Road. Notem também que atrás do Paul tem um carro como se estivesse passado pelo mesmo lugar que ele está. Outra suposta pista seria que na contra-capa do álbum, ao lado esquerdo da palavra Beatles, haveria 8 pontos formando o número 3 (sendo então "3 Beatles"). O homem de pé na calçada, à direita, é Paul Cole, um turista dos EUA que só se deu conta que estava sendo fotografado quando viu a capa do álbum meses depois.
Nunca, amigos, beatlemaníacos ou não, uma fotografia foi tão badalada ou inserida de interpretações como essa. Acredito que nem mesmo o velho Iain, teria tido a intenção de provocar tanta celeuma ao clicar na sua máquina fotográfica. Mas, com ela, o grupo inglês encerrava a sua revolucionária carreira na música pop.
Acho inacreditável que, 46 anos depois, isso tudo ainda cause interesse e rebuliço. Ou serei eu que não consigo enxergar nada mais além dos Beatles?

Recife, dezembro 2015

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

ROBERTO ROMANELLI MAIA






MINHA BRANCA DE NEVE


ROBERTO ROMANELLI MAIA

 
 


Em meus sonhos passaram
Cinderela, Rapunzel, Gata Borralheira, Sininho,
Branca de Neve, Alice,
e tantas outras personagens
de contos de fada.

Todas elas povoaram
a infância de um menino que saía
pelo mundo
à procura de um pote
de ouro,
onde começava o arco-íris.

Época em que eu acreditava
em Papai Noel,
nos anões, gnomos, duendes,
elfos e nas fadas
e bruxas,
praticantes do bem
e do mal.

Sim, em meus sonhos, todos
estavam presentes,
dentro de mim,
despertando a minha fantasia e imaginação.

Princesas e príncipes
com os seus beijos plenos
de uma magia transformadora.

Capazes de fazer reviver
até quem dormia
o sono eterno.

Sim, em meus sonhos feitiços nasciam
para serem lançados e quebrados.

Numa tela invisível que,
a minha frente,
me fazia viver cada uma destas histórias.

Fazendo-me delas participar.

Nunca me esqueço
dos dias
e das noites em que,
sob o encantamento
de Alice, no País das Maravilhas,
e de Branca de Neve,
eu esperava o momento certo para ouvir,
de minha mãe, como tudo acabava.

Sempre através de uma história com uma  mensagem
de alegria,
de felicidade e de amor.

Sim, doce ingenuidade
um pouco perdida
com o passar dos anos.

De uma vida
onde a pele
do meu corpo e de minha alma
foi curtida pela vida.

Por tudo que ela trouxe
de bom e de mau.

Mas onde, apesar
de meu dia- a -dia,
a minha Branca de Neve
e a minha Alice, continuam presentes
no meu país das maravilhas.

Que, no fundo,
é um país,
que só a mim pertence,
pois eu o criei em meu coração!

Para todas elas viverem, enquanto eu viver,
dentro de mim.