quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

LEO CAVALCANTI


Leo Cavalcanti cria pop transcendental a partir de máscaras Publicidade
MARCUS PRETO/FOLHA DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO

Com o lançamento, hoje à noite, de "Religar", primeiro álbum de Leo Cavalcanti, podemos considerar encerrado o ano que coroou a guinada paulistana para o centro criativo da música brasileira. Leo vem se unir a Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Karina Buhr, Luisa Maita, Thiago Pethit e outros estreantes que, nem sempre nascidos na cidade, trabalharam nutridos pela cena que nela se instalou. E acabaram por construir, em 2010, discos importantes para o que será o Brasil da próxima década.
Esteticamente, "Religar" (DeleDela; R$ 20, em média) não se parece com nenhum dos supracitados --o que o torna um filho legítimo da geração que não organiza movimentos homogêneos, mas se une para colaborar uns com as diferenças dos outros.
Produzido em nove meses de estúdio por Leo e mais Décio 7 e Cris Scabello, o disco se caracteriza pela grandiosidade dos arranjos, compostos por sobreposições de guitarras, alaúdes, beat box, violinos, castanholas, trompetes, bandolins, cellos e programações eletrônicas. "Gravamos todas as músicas ao vivo, depois picotamos esse material [no computador] e fomos colando as camadas de instrumentos, os coros", diz. "Grande parte dos arranjos já nasceram na hora da composição, a partir da batida do meu violão."
A tal batida de violão vem da linhagem percussiva de Gilberto Gil, Djavan e Lenine. Leo atribui o estilo ao passado de percussionista, quando, aos 14 anos, era músico nos shows do pai, Péricles Cavalcanti, e do grupo infantil Palavra Cantada.
Caroline Bittencourt/Divulgação
O cantor e compositor Leo Cavalcanti, 26, em foto de divulgação de seu primeiro álbum, que se chama "Religar"
IOGA
O conteúdo das letras também distingue Leo dos colegas da cena. No texto que escreveu sobre o CD, seu parceiro Tatá Aeroplano o classifica como "pop transcendental" --o que dá uma boa dica a respeito da temática geral.
Leo cita como principal agente motivador de suas músicas a "necessidade de trabalhar com as questões do ego, entender a estrutura da mente, identificar as nossas máscaras e os escuros que evitamos tanto olhar".
Ele conta que foi tomando intimidade com tais assuntos a partir da ioga, que pratica há seis anos, e do interesse por ciências holísticas.
Todo esse repertório já vem sendo testado desde 2007, quando estreou uma temporada de shows no Grazie a Dio, na Vila Madalena. Ali, chamou a atenção principalmente pela impactante performance, que incluía figurinos andróginos e marcação cênica. No show de hoje, não pretende recorrer a nada disso. "Naquele começo, queria estabelecer um roteiro marcado. Com as mudanças que vieram com o disco, tenho vontade de trabalhar a espontaneidade e a liberdade."

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