quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

CLÓVIS CAMPÊLO









Atravessando a Abbey Road

ATRAVESSANDO A ABBEY ROAD

Clóvis Campêlo

No dia 8 de agosto de 1969, os quatro beatles se encontraram na Abbey Road para fazerem as fotografias mais famosas do mundo em todos os tempos. Uma delas, terminaria por ser escolhida para a capa do disco que levou o nome da hoje famosa rua londrina.
O autor das fotografias foi o escocês Iain Macmillan, amigo de John Lennon e Yoko Ono, que precisou apenas de dez minutos para clicá-las. A fotografia que findou ilustrando a capa do disco, a quinta da sequência, foi escolhida por Paul McCartney. Iain, o fotógrafo, morreria em 8 de maio de 2006, aos 67 anos de idade, vitimado por um câncer de pulmão.
Antes de chegar aos Beatles, porém, Iain conheceu Yoko em 1966, sendo por ela convidado para fotografar sua exposição no Indica Gallery. Através de Yoko Ono, chegou a John Lennon, que o convidou para fazer as fotografias do álbum. Apesar de ser amigo do fotógrafo e tê-lo indicado para fazer as fotografias, consta que Lennon reclamava insistentemente da demora (apenas dez minutos) e queria ir para o estúdio concluir a gravação, terminando logo “essas fotografias idiotas”. Explica-se: a ideia das fotografias tinha partido de Paul McCartney e entre eles, naquela época, havia uma “briga surda” pela liderança do grupo.
Consta, inclusive, que o disco, gravado na época do LP, havia sido dividido de uma maneira que cada lado contemplasse um dos músicos. Assim, o lado A, que ia de "Come Together" a "I Want You", foi feito para agradar a Lennon. É uma coleção de faixas individuais, enquanto que o lado B (para agradar a McCartney) contém uma longa coletânea de curtas composições que seguem sem interrupção. A sequência de juntar músicas inacabadas criadas por McCartney e Lennon em um enorme pout-pourri foi ideia de Paul, constituindo-se numa espécie de ópera dentro do disco. Lennon, porém, não gostava muito disso. Queria voltar ao velho e bom rock'n'roll dos tempo de Hamburgo.
Segundo os entendidos da música pop, porém, apesar foi no álbum Abbey Road, o último gravado pelo grupo, que George Harrison se firmou como um compositor de primeira linha. Após anos vivendo sob a sombra de John Lennon e McCartney, ele finalmente emplacou dois grandes sucessos com este álbum: "Here Comes the Sun" e "Something". Ambas as canções foram regravadas incessantemente ao longo dos anos, sendo que Something chegou a ser apontada pela revista Time como "a melhor música do disco" e como a segunda música mais interpretada no mundo, atrás somente de "Yesterday", também dos Beatles.
Voltando a fotografia da capa, porém, a fotografia escolhida conteria supostas "pistas"indicando que Paul estava morto: Paul está descalço (segundo ele, aquele dia fazia muito calor, e ele não estava aguentando ficar com nada nos pés), fora de passo com os outros, está de olhos fechados, tem o cigarro na mão direita, apesar de ser canhoto, e a placa do fusca, em inglês, "beetle", estacionado é "LMW" referindo se as iniciais de "Linda McCartney Widow" ou "Linda McCartney Viúva" e abaixo o "281F", supostamente referindo-se ao fato de que McCartney teria 28 anos se (if em inglês) estivesse vivo. Um contra-argumento é que Paul tinha somente 27 anos no momento da publicação de Abbey Road, embora alguns interpretem isso como ele teria um dia 28 anos se ele estivesse vivo.) Os quatro Beatles na capa, segundo o mito do "Paul está morto", representariam o Padre (John, cabelos compridos e barba, vestido de branco), o responsável pelo funeral (Ringo, em um terno preto), o Cadáver (Paul, em um terno, mas descalço - como um corpo em um caixão), e o coveiro (George, em jeans e uma camisa de trabalho denim). Além disso há um outro carro estacionado, de cor preta, de um modelo usado para funerais e eles andam em direção a um cemitério próximo a Abbey Road. Notem também que atrás do Paul tem um carro como se estivesse passado pelo mesmo lugar que ele está. Outra suposta pista seria que na contra-capa do álbum, ao lado esquerdo da palavra Beatles, haveria 8 pontos formando o número 3 (sendo então "3 Beatles"). O homem de pé na calçada, à direita, é Paul Cole, um turista dos EUA que só se deu conta que estava sendo fotografado quando viu a capa do álbum meses depois.
Nunca, amigos, beatlemaníacos ou não, uma fotografia foi tão badalada ou inserida de interpretações como essa. Acredito que nem mesmo o velho Iain, teria tido a intenção de provocar tanta celeuma ao clicar na sua máquina fotográfica. Mas, com ela, o grupo inglês encerrava a sua revolucionária carreira na música pop.
Acho inacreditável que, 46 anos depois, isso tudo ainda cause interesse e rebuliço. Ou serei eu que não consigo enxergar nada mais além dos Beatles?

Recife, dezembro 2015

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

ROBERTO ROMANELLI MAIA






MINHA BRANCA DE NEVE


ROBERTO ROMANELLI MAIA

 
 


Em meus sonhos passaram
Cinderela, Rapunzel, Gata Borralheira, Sininho,
Branca de Neve, Alice,
e tantas outras personagens
de contos de fada.

Todas elas povoaram
a infância de um menino que saía
pelo mundo
à procura de um pote
de ouro,
onde começava o arco-íris.

Época em que eu acreditava
em Papai Noel,
nos anões, gnomos, duendes,
elfos e nas fadas
e bruxas,
praticantes do bem
e do mal.

Sim, em meus sonhos, todos
estavam presentes,
dentro de mim,
despertando a minha fantasia e imaginação.

Princesas e príncipes
com os seus beijos plenos
de uma magia transformadora.

Capazes de fazer reviver
até quem dormia
o sono eterno.

Sim, em meus sonhos feitiços nasciam
para serem lançados e quebrados.

Numa tela invisível que,
a minha frente,
me fazia viver cada uma destas histórias.

Fazendo-me delas participar.

Nunca me esqueço
dos dias
e das noites em que,
sob o encantamento
de Alice, no País das Maravilhas,
e de Branca de Neve,
eu esperava o momento certo para ouvir,
de minha mãe, como tudo acabava.

Sempre através de uma história com uma  mensagem
de alegria,
de felicidade e de amor.

Sim, doce ingenuidade
um pouco perdida
com o passar dos anos.

De uma vida
onde a pele
do meu corpo e de minha alma
foi curtida pela vida.

Por tudo que ela trouxe
de bom e de mau.

Mas onde, apesar
de meu dia- a -dia,
a minha Branca de Neve
e a minha Alice, continuam presentes
no meu país das maravilhas.

Que, no fundo,
é um país,
que só a mim pertence,
pois eu o criei em meu coração!

Para todas elas viverem, enquanto eu viver,
dentro de mim.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

TOMADA





O Tomada dia 16 de Junho lança pela gravadora MZA o EP digital "Tomada", com 6 músicas e dia 23 de Junho lançamos a versão Deluxe com dois video.
Abraço 
Pepe 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

CONTINENTAL COMBO NO MIS.......



No próximo final de semana (29 a 31.05) o Museu da Imagem e do Som - MIS SP, realiza um evento muito especial em comemoração ao aniversário de 45 anos. Com grande prazer o Continental Comboparticipa desta festa se apresentando no sábado 30.05. as 15hs na área externa do museu, entrada free. Neste show a banda comemora também 10 anos do lançamento do 1º álbum ( Monstro Discos). Parte da apresentação será dedicada a este disco, que ainda vai contar com participação de Fabio Golfetti ( Violeta De Outono).

FAÇA DOAÇÃO



Milhares de pessoas precisam de um doador de medula óssea para se curarem!

A chance de um doador compatível é de 1 a cada 100.000 cem mil pessoas! Por isso quanto mais pessoas se cadastrarem, maiores as chances de encontrarmos um doador! E se for você? Emoticon smile

Procure o hemocentro mais próximo. O processo de doação é muito simples. Será retirada pela sua veia uma pequena quantidade de sangue (10 ml) e preenchida uma ficha com informações pessoais. Serão feitos os testes de compatibilidade, e se você for um doador, será procurado pelo REDOME.

Saiba mais aqui: http://goo.gl/Zz8ABx

Vamos juntos encontrar um doador para o Marco!
ENVIADO POR NIA T. MARQUES/SP 01511 29056564

quarta-feira, 20 de maio de 2015

RECITAL EM BIRIGUI/SP



COMECE O SÁBADO COM MÚSICA AO VIVO!
Participe como solista, grupo ou apreciando - Só comparecer!
Rua tupi, 389 - Centro
3642-2899

No último sábado In Cantus estará realizando um encontro musical. Gratuito!
10:00h
Neste sábado 23/5 apresentarão ao violão:
Jéssica Bso – "Eu sonhava" de Vicente A. Ferreira
Paulo Henrique – "Estudo n.6" de Clodoaldo Santos
Beatriz dos Santos - "El sueño de la muñeca" de Agustin Barrios
Murilo Pedro – "Valsa" de F Carulli
Anelise Camargo – "Simone" de Vicente A. Ferreira
Clodoaldo santos – "Op1, andante" de F. Sor
Grupo: Da Capo Acoustic Guitar – I"ntrodução e vairações sobre Amor de Toureiro" de Othon G. R. Filho
Ualan Vinícíus – "My heart will go on" de James Horner - "Violoncelo"
Thiago Zullu - "In Dreams" - Howard Shore - "Flauta Transversal"
Obs. Músicos e amadores ou não que queiram participar entrar em contato pelo inbox.

terça-feira, 19 de maio de 2015

segunda-feira, 18 de maio de 2015

ANA MAE BARBOSA/LIVROS



Lançamentos da Cortez
9 de junho, a partir das 19 horas no
Centro Universitário Maria Antônia. 
Rua Maria Antônia, 294 - Vila Buarque, São Paulo - SP, 01222-010
Telefone:(11) 3123-5200


Ana Amália Barbosa propõe novos paradigmas quando o tema é levar cultura a crianças com necessidades especiais no livro 'Além do Corpo'


O novo livro da Cortez Editora, Além do Corpo – uma experiência em Arte/Educação, apresenta experiências culturais de aprendizagem em que a doutora em Artes pela USP, Ana Amália Barbosa, assim como as crianças participantes, desafiam as limitações de seus corpos. A obra levanta uma bandeira incomum: levar cultura para crianças com necessidades especiais, que muitas vezes sofrem privação cultural, já que o atual sistema de ensino não está preparado para lidar com essa situação. O lema de Ana Amália é fazer com que a criança se situe socialmente rompendo limitações físicas.
A autora se comunica através dos movimentos dos olhos e boca, que transmite seus gestos para um programa de computador. Ana Amália, que sofreu um AVC e perdeu todos os movimentos, excetos os mencionados acima, leciona para os alunos da Associação Nosso Sonho. Na obra, é possível conhecer alguns dos exercícios feitos em sala de aula, como por exemplo a atividade baseada nas performances de Yves Klein (1928-1962), figura importante no cenário artístico europeu. As crianças, depois de verem o vídeo, utilizando apenas fraldas ou short, pintam seus corpos com a cor que escolhem e, usando o corpo como pincel, imprimem movimentos em uma grande superfície de papel.
Fotografias em cor das atividades, passeios e aulas, permeiam as páginas de Além do corpo e convidam o leitor a refletir sobre o que pode ser uma experiência cultural no desenvolvimento cognitivo das crianças. O método de Pesquisa usado foi a Metodologia de Pesquisa Artística em Educação.
Sobre a autora
Ana Amália Tavares Bastos Barbosa nasceu no ano de 1966, no Recife. Artista plástica e arte/educadora, é licenciada em Arte Plásticas pela FAAP/SP e doutora em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Realizou diversos cursos nos Estados Unidos, destacando-se: História da Arte, na Texas University at Ausin; Design, na School of Visual Arts, e Litografia, na Columbia University, em Nova York. Em 2002, como sequela de um acidente vascular cerebral de tronco, adquiriu a síndrome do locked in, ficando tetraplégica, muda e disfágica, porém inteiramente consciente e com a cognição plenamente preservada. Atualmente desenvolve seu pós-doutoramento no Instituto de Artes da UNESP, em São Paulo.

Ensino de artes visuais entre as décadas de 20 e 50 é tema do
livro de Ana Mae Barbosa 'Redesenhando o Desenho'

Livro aborda o ensino do desenho no Brasil durante ditadura do Estado Novo
A Cortez Editora lança Redesenhando o Desenho – educadores, política e história, de autoria da educadora Ana Mae Barbosa, pioneira em arte/educação e criadora do primeiro Doutorado na linha de pesquisa sobre o tema no Brasil. A obra trata do ensino do Desenho e das Artes Visuais no País durante o período compreendido entre 1922 e 1948.
A autora relaciona o ensino do desenho à política e à história, já que no período analisado, professores eram perseguidos durante a ditadura do Estado Novo, cenário este, que interferia no contexto do ensino da arte no Brasil.
O livro é dividido em três capítulos: Virada Industrial, que destaca, entre outros personagens, Theodoro Braga, filósofo, pintor e educador que dedicou-se a pesquisas culturais no Norte do País; Virada Modernista, movimento que evidencia educadores como a poetisa e pintora Cecília Meireles e Edgar Sussekind de Mendonça que escreveu um dos primeiros livros sobre Educação em Museus. Por fim, o livro examina a Formação Modernista dos Professores de Arte no Brasil, Esta parte conta com um texto inédito de John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano, expoente da educação progressiva, que explica o sentido do desenho como técnica e criação. O livro interessa não só a educadores, mas também aos estudantes de Pedagogia, Artes Visuais e Design. O trabalho de pesquisa, que foi financiado pelo CNPq, levou mais de 10 anos entre entrevistas, consultas em acervos nacionais e internacionais, como o do Teachers College da Columbia University, da University of Central England, da Universidade de Miami, do IEB/USP ,de Museus e Jornais.
Sobre a autora
Ana Mae Tavares Bastos Barbosa, Professora Titular do Departamento de Artes Plásticas da Universidade de São Paulo, atua no Doutorado em Arte-Educação que criou na USP e no Mestrado e Doutorado em Design, Arte e Tecnologia da Universidade Anhembi Morumbi. Foi presidente da International Society of Education Through Art (1990-93) e Diretora do Museu de Arte Contemporânea da USP (1987-93). Publicou vinte um livros sobre Arte e Arte-Educação, entre eles os últimos Tópicos Utópicos (Com-arte, 1998) a Imagem no Ensino da Arte (Perspectiva 2007) Abordagem Triangular no Ensino das Artes e Culturas Visuais (Cortez, 2010). Recebeu a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico (2005), o prêmio Edwin Ziegfeld nos Estados Unidos (1992) e o Prêmio Internacional Herbert Read (1999). Em 2001 foi escolhida para dar a Studies in Art Education's Lecture, distinção conferida pela primeira vez a um estrangeiro nos 50 anos de existência da Associação Americana de Art Education.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

BB KING



B.B. KING SE JUNTANDO AOS OUTROS DEUSES DA GUITARRA.


  B.B. KING morreu. Acordei com essa notícia passada pela minha irmã  hoje pela manhã. Lágrimas vieram inundar-me os olhos já cinquentões. Parece que parte de mim sentiu o golpe porque cresci ouvindo blues/chôros/música erudita/bossa nova, tudo que eu considerasse belo e essencial pra mim,para minha formação musical e literária. Mas BB KING assim como MUDDY WATTERS e tantos outros, expressam a natureza melancólica do BLUES, bem ao estilo do que os nossos compostores negros antigos expressavam os choros e os sambas.Mas as lágrimas cultivadas em meu rosto brotaram as recordações que me vieram a mente quando ouvia BB KING enquanto eu namorava quando jovem ainda,e as perdas que tive, perdas de pessoas ,amigos que amavam os blues de BB KING.Amigos poetas que se foram, mais antigos que eu,que sempre me recomendavam ouvir BB KING, visto que eu eu já havia comprado e me fascinado com ERIC CLAPTON/HENDRIX ,esses caras todos,os quais minha geração foi reverenciar no limiar dos anos 80. Ainda em 1980, convidei o guitar-hero MARCOS ZAMBON para descermos em Bauru/SP, para comprar discos em vinil de BB KING/STONES/JEFF BECK...Naquela época,me lembro que ZAMBON estava sendo influenciado pelo jazz e pela guitarra de E. VAN HALEN,mas ouvia blues á beça.Talvez BB KING tenha sim, adotado alguns licks de seus predecessores,como dizem,mas os refez ao seu estilo,o que o consagrou - JOHN LENNON dizia, que quase sempre "se furtava notas e melodias" de artistas mais antigos. O timbre, os riffs de BB KING serão sempre inesquecíveis, porque constituem sua MARCA, seu registro, sua assinatura magistral -tal como observamos em DAVID GILMOUR/KEITH RICHARDS/STEVIE HOWIE/HENDRIX/JEFF BECK/CLAPTON...Siga em paz, mestre querido!!! BLUES É LÁGRIMA, mas também é festa; ritmo, sensualidade, ginga, que BB KING tenha se juntado a outros deuses da guitarra no céu em festa com sua chegada,é o que penso.
everi rudinei carrara .editor do site telescopio.vze.com/pianista/poeta/advogado.

LEANDRO GARCIA


quarta-feira, 22 de abril de 2015

WALDO LUÍS VIANA






     A CORRUPÇÃO SOB CONTROLE
 
                     "Quem ama o dinheiro nunca estará farto 
de dinheiro, quem ama a abundância nunca terá vantagem."
Eclesiastes 5:9                                                                 

Waldo Luís Viana*

Parece ser consenso que a corrupção é um mal, sobretudo transformando-se em problema prioritário dos países em desenvolvimento. Muitos antropólogos e economistas, porém, desejaram ultrapassar esse eventual consenso, procurando colocar o problema como objeto de pesquisa.
         Existe corrupção quando um indivíduo coloca ilicitamente interesses pessoais acima dos das pessoas e ideais que ele está comprometido a servir. É um comportamento desviante dos deveres formais de uma função pública devido a interesses privados de natureza pecuniária, visando a melhoria do status individual ou de um grupo fechado.
         Muitos pesquisadores, desvestidos de preconceitos, concordam que, em certos casos, a corrupção é até benéfica. Ela introduz, em países pobres, mecanismos de mercado, competição e alocação de bens segundo a capacidade dos cidadãos de pagar. Com a corrupção, os bens e serviços podem ser alocados de modo mais eficiente. Quando ela ocorre, pode contribuir para a alocação de bens e se torna socialmente útil. Do mesmo modo, quando a burocracia é rígida, ultracentralizada, ineficiente, desonesta e quase intransponível, ela encarrega-se de estabelecer um mercado paralelo pelo qual a população possa conseguir alguns benefícios. Em suma, se o sistema vigente é ruim, a corrupção é benéfica.
         Pelo contrário, quando a corrupção é generalizada, surgem  ceticismo, desconfiança, cinismo e apatia nos povos. Subornos e propinas são socialmente aceitos e se tornam graves quando se tornam parte da ritualística dos poderes públicos. Contaminam os políticos, autoridades do executivo, legislativo e judiciário bem como a polícia. No Brasil, inclusive, existem grupos típicos de corrupção, que são os agiotas, traficantes de drogas e milicianos, que são grupos paramilitares que exploram os subúrbios pobres em nossas cidades. Já os traficantes alimentam os subornos e as propinas nos aparelhos policiais regionais, contribuindo para que a repressão às drogas seja soberanamente inútil.    
         No entanto, a corrupção passa a ser especialmente prejudicial e tóxica, quando contamina os mecanismos de governo e gera males públicos. Nesse contexto, os ricos e privilegiados aumentam o próprio poder à custa da exploração da máquina pública e dos pobres. Do mesmo modo,  assistimos aos empreiteiros desonestos a receber contratos em troca de subornos, incentivando os empreiteiros não corruptos a imitá-los para sustentar os próprios negócios. Por outro lado, nessa atmosfera, os cidadãos pagarão preços muito altos por bens e serviços, enquanto os funcionários públicos irão procurar usar a própria autoridade para criar dificuldades para vender facilidades.
         Particularmente, nosso país foi prejudicado pelo patrimonialismo herdado do espírito colonialista português, que instituiu um sistema clientelista de compadrio e nepotismo na máquina pública. Apesar de todas as nossas instituições de controle, nossa burocracia é contaminada por esses valores distorcidos, a ponto de nossos políticos medirem o próprio poder pela capacidade de nomear afilhados.
         A corrupção brasileira, contudo, chegou ao paroxismo com o aparelhamento completo da máquina pública pelo partido que está no poder. Os cargos de confiança foram distribuídos entre os companheiros e o resultado está aí: as empresas públicas tornaram-se ineficientes e pacientes de uma corrupção sistêmica. A operação lava-jato, capitaneada pelo ministério público, o judiciário e a polícia federal, demonstrou que nenhum negócio na Petrobras poderia ser resolvido sem subornos, propinas, aditivos licitatórios e superfaturamentos para as empreiteiras. Nesse contexto, sabe-se que outras estatais copiaram o mesmo modelo, com o objetivo de financiar os custos políticos de permanência do partido no poder.
         Nossas instituições formais favorecem os ricos, porque, mesmo apanhados com a “boca na botija”, podem pagar caros advogados para defendê-los e, através da chicana jurídica e das brechas das leis produzidas pelos próprios políticos que são seus ventríloquos, adiar quaisquer punições. Nesse sentido, o “mensalão” levou sete anos para produzir punições e presume-se que o “petrolão”, que envolve o comando dos principais executivos das empreiteiras nacionais, deverá gastar muitos anos para ser julgado.
         Nesse cenário, parece que a corrupção seria impossível de ser mitigada e atingir um nível tolerável e controlável pela cidadania. Os países que conseguiram controlá-la dotaram seus governos de notáveis atividades de busca de informações: os cadastros financeiros dos funcionários públicos e suas famílias podiam ser examinados à vontade; quaisquer “recursos inexplicáveis” tinham de provar que foram adquiridos por meios legais e o ônus da prova passou a recair sobre o funcionário suspeito.
         A corrupção tem verdadeira alergia à sã concorrência, preferindo o monopólio, o cartel e o conluio. A lei brasileira de licitações contém brechas  que contaminam os sistemas de aquisição e venda de serviços. Tudo pode ser objeto de aditivos contratuais e superfaturamentos, enquanto os que frequentam a máquina pública por mandato acham que podem se apropriar do dinheiro público, porque afinal “esse dinheiro não é de ninguém”.
         Nesse sentido, é preciso convencer os políticos de que serão mais aceitos e populares se combaterem, de fato, a corrupção. Devem “ser educados” para entender a onda popular contra ela, que tem sido moda em nossas cidades. Também devem ser aperfeiçoados os mecanismos de penalidades, que possam dissuadir as elites corruptas de manter seus imorais procedimentos. Romper a cultura de corrupção em nosso país significa não dar tréguas aos corruptos em sua habitual tranquilidade para roubar e combater o cinismo, que toma conta verticalmente o espírito da Nação, tornando os golpes de corrupção populares, desde os mais pobres até os mais sofisticados representantes das elites, compreendendo aí, políticos, autoridades, banqueiros e empreiteiros.
         Se convencermos nossos políticos de que bom mesmo é ser honesto, de que o Brasil ganhará eficiência e poder em suas instituições e empresas, capacidade de competir internacionalmente e que poderá construir uma burocracia profissional, livre dos arreglos, das propinas e comissões indevidas – poderemos acreditar que seremos ainda um grande país.
         Mas se os céticos predominarem, com aquela mentalidade de que a corrupção é um mal inextirpável e que nada quanto a isso poderá ser feito, o clima de podridão governamental e social será multiplicado, criando externalidades negativas, como o desperdício de bens e recursos, além de manter imensa desigualdade social, com o tempero da violência e opressão dos mais pobres.
         O Brasil, portanto, vive um grande dilema: ou reduz a corrupção a níveis toleráveis (porque o coeficiente zero de corrupção é humanamente impossível) ou submergirá na escuridão da recessão, da ineficiência e da perda de credibilidade internacional – que é o que parece estar ocorrendo ainda hoje.
___________
*Waldo Luís Viana é escritor, economista e poeta. Esse artigo baseou-se no brilhante livro do economista Robert Klitgaard, “A Corrupção sob Controle”, publicado no Brasil por Jorge Zahar Editor, 1994.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

FERNANDA TAKAI, NA MEDIDA DO IMPOSSÍVEL



FERNANDA TAKAI, NA MEDIDA DO IMPOSSÍVEL

Recebo o novo cd da cantora FERNANDA TAKAI, chama-se "NA MEDIDA DO IMPOSSÍVEL" - desde a capa,se percebe que o trabalho de FERNANDA sempre pautou pelo bom gosto e a simplicidade, certo toque oriental orientando a sensibilidade da cantora. Cercada de músicos excelentes e de parcerias fundamentais - a produção ficou por conta do marido e guitarrista JOHN ULHOA - o álbum é dedicado á mãe de FERNANDA. Difícil dizer qual a melhor canção do disco - a voz de FERNANDA TAKAI é sempre envolvente, precisa, charmosa, pequena e preciosa como uma jóia rara. Eu gostei especialmente de COMO DIZIA O MESTRE,do talentoso e hoje injustamente esquecido cantor e compositor BENITO DE PAULA, com arranjo perfeito de JOHN na guitarra,uma releitura bastante criativa; A POBREZA (PAIXÃO PROIBIDA), antigo sucesso da jovem guarda de LENO E LILIAN, ficou perfeita na voz de FERNANDA,uma bela melodia, com letra romântica, demonstrando certa indignação social, poderia ser tocada em rádios pelo Brasil a fora,melhor que funks e outras porcarias que se infestam por aí - MON AMOUR,MEU BEM,MA FEMME, sucesso brega, também possui uma releitura graciosa de FERNANDA ,e ZÉLIA DUNCAN, o contraponto de timbre grave da voz de ZÉLIA,contrasta e  brilha ao lado da suavidade de FERNANDA; a música AMAR COMO JESUS AMOU é um clássico da cantoria das igrejas católicas, que possui o dueto entre FERNANDA E o padre FÁBIO DE MELO,revivendo antigo sucesso do padre ZÉZINHO; achei LIZ uma bela composição, apropriada para a voz de FERNANDA, com uma melodia marcante pra ficar ; PARTIDA é composição de FERNANDA, uma grata surpresa para os fãs, em rítmo mais cadenciado, lembra-me algo da sonoridade do também maravilho álbum ISOPOR (pato fu), com efeitos (programações eletrônicas de JOHN) se destacam mais uma vez. O fato é que qualquer música ou até qualquer ruido parece ficar perfeito na voz de FERNANDA TAKAI, impossível não se tornar seu fã, não se tocar pela sua interpretação doce, clara,essencialmente pop e despojada.Quando o cd acaba, você se surpreende querendo mais -poderia ser um álbum duplo,e teria sido melhor ainda. Na medida do impossível, vamos ficando mais fãs, acreditando mais no pop,na sensibilidade, no talento, na simplicidade, na beleza dos sons.
everi rudinei carrara: escritor/editor do site telescopio.vze.com/músico profissional.