terça-feira, 5 de outubro de 2010

NURSERY CRYME


Análise do álbum – Nursery Cryme

Álbum estupendo que trouxe consigo algumas novidades importantes. Saem Anthony Phillips e John Mayhew e entram, respectivamente, Stephen Hackett ( na época ) e Phil Collins. Troca-se um excelente guitarrista de climas por outro excelente guitarrista, digamos assim, completo. E, no caso da batera, um baterista limitado por um monstro da percussão. A capa do álbum também chama bastante atenção, cheia de detalhes e referências, percebe-se de cara uma certa ironia e sarcasmo quando observa-se uma enfermeira jogando criquet com a cabeça de pessoas ao invés de bolas. A banda que já havia mudado muito do primeiro para o segundo disco, neste, achou sua identidade e ficou melhor, muito melhor! Vejamos as músicas.
THE MUSICAL BOX
Essa música já começa extremamente misteriosa e instigante ao som de violões acústicos e o Peter Gabriel contando uma história estranhíssima sobre uma enfermeira que arrancou a cabeça de um menino com uma marreta de criquet. Desenvolve-se calmamente acompanhando a narrativa com intervenções de uma flauta transversa e do teclado. Tanto o trabalho vocal solo como os de apoio são belíssimos. A incursão da bateria já é de tirar o fôlego, bem colocada. A história segue cada vez mais bizarra mostrando o menino Henry agora como um fantasma dentro de uma caixa de música que alimenta intenções românticas em relação à enfermeira Cynthia.

Até que em determinado momento uma guitarra marcante acompanhada de uma bateria firme e de um teclado irrompem no meio dos violões e aceleram completamente a melodia. Muito lindo! Aquela história intrigante ganha agora um aspecto intenso e visceral, que se acalma aos poucos, até que inicia um novo momento acústico acompanhado de um vocal delicado e cuidadoso. Tudo estoura quando é revelada a verdadeira intenção do fantasma, possuir a donzela. Teclado totalmente casado com uma guitarra nervosa e bateria imponente anunciam a voz.

She's a lady, she's got time
Brush back your hair
And let me get to know your face
She's a lady, she is mine
Brush back your hair
And let me get to know your flesh

Ele não está para brincadeiras, quer tocar a moça!
Gabriel recita esse trecho com propriedade acompanhado de um backing de mr.Collins demonstrando que chegara para marcar época.

Introduz-se um órgão lindo e Henry angustiado implora para ser tocado. Aí o estouro é total! Ele grita, grita, grita! Os instrumentos nervosos acompanham seu desespero e a música se encerra com um solo de guitarra simplesmente deslumbrante. Clássico!!!

FOR ABSENT FRIENDS

Introduzida por violões, surge uma novidade, um voz bela, cativante e extremamente melodiosa conta-nos uma história triste sobre as perdas de entes queridos. Já de cara, Phil Collins deixa-nos emocionados com tamanha sensibilidade, ainda mais quando se desenvolve um lindo dueto com o vocalista principal. Melodia sensível e tocante. Depois da excitação da música anterior, essa dá uma acalmadinha no coração.

THE RETURN OF THE GIANT HOGWEED


Uma guitarra entra dilacerando, acompanhada de um teclado, um baixo e uma bateria inquietos. A seguir sobressai-se uma voz agressiva contanto a terrível invasão e ameaça de uma....planta....Sensacional! Instrumental totalmente alucinado com a bateria e o teclado fazendo misérias. Novamente o dueto de vozes encanta pela afinidade. A história segue com várias ameaças da natureza, enquanto o baixo sola alto e libera as estripulias da percussão. A guitarra dá o seu recado juntamente com a flauta transversa. Até que tudo se acalma. É a vez do maravilhoso teclado fazer um interlúdio e preparar o que vem a seguir. Um solo extremamente original e curioso da guitarra, enquanto os outros instrumentos fazem o seu papel esperando o final da história onde a voz anuncia a vitória da Mãe Natureza. Os instrumentos em uníssono irrompem lindamente e tudo termina de forma estupenda. AVANTE!

SEVEN STONE


Um órgão inicia essa canção que me lembra muito o Trespass por sua espiritualidade. Linda de morrer! Seven Stone conta a história das escolhas aleatórias que fazemos na vida e suas conseqüências. Lirismo puro embalando por uma melodia absolutamente fantástica. O teclado dessa música me emociona profundamente e me faz captar o seu âmago.

Despair that tires the world
Brings the old man laughter
The laughter of the world only grieves him
Believe him
The old man's guide is chance

Peter Gabriel canta essa estrofe com esmero e eu quase choro, que poesia!
O teclado é o guia, onde se destacam também a flauta transversa e o maravilhoso trabalho vocal do Gabriel impostando a voz aqui e largando um falsete ali, passando o máximo de emoção ao ouvinte. A música encerra-se absolutamente melancólica, com o piano tecendo notas como um lamento. Que coisa linda!

HAROLD THE BARREL

Um homem tentando o suicídio é o tema dessa música que já demonstra um dos grandes talentos do Peter Gabriel, qual seja imitar ou criar diversos tipos de vozes para seus personagens. Novamente os instrumentos acompanham a história curiosa de Harold, não sem brilhantismo, pelo contrário, viradas de bateria e um piano eletrizado conduzem a história com segurança e bom humor. Dá uma aliviada na emoção da música anterior.

ARLEQUIM

O que chama a atenção nessa canção é a extraordinária combinação de vozes anunciando a chegada do outono. Melodia bem melancólica, porém cativante. Instrumental básico com violões, teclado e bateria a serviço da melodia. Impressionante como as vozes de Gabriel e Collins casam com perfeição. Muito bonito!
THE FOUNTAIN OF SALMACIS

A introdução dessa música é uma das coisas mais lindas já produzidas pelo rock progressivo. De cara, já fico totalmente comovido e maravilhado para escutar uma história mítica sobre o nascimento de um ser hermafrodita.
Guitarra, teclado, baixo e bateria, até hoje eu não entendi como, criam uma atmosfera absolutamente mágica nessa introdução ( quero fazer um parêntese aqui para dizer que sou totalmente apaixonado por histórias míticas, talvez daí, também, a minha devoção por essa música e pelo Genesis ). Peter Gabriel com entonação trovadoresca narra, com perfeição, o nascimento, o drama e o ocaso deste ser curioso e trágico. O baixo acentuado assegura a emoção enquanto o teclado e a bateria dão show. A guitarra por enquanto parece que aguarda seu momento de entrada triunfal fazendo uma melodia intermitente. E lá vem novamente aquela introdução para me emocionar! O vocal não descansa me embriagando com esse namoro misterioso entre um hermafrodita e a fonte de Salmacis. E de repente, eis que aparece a guitarra gritando em solo espetacular acompanhado pela bateria enlouquecida. O baixo e a flauta transversa não deixam por menos e entram com tudo. Por trás o teclado rege toda a sinfonia e lá pelas tantas mostra sua cara com um solo empolgante. Até que finalmente Salmacis seduz o ser fantástico. Um solo de guitarra carregado de sentimentalismo. Novamente sinto a emoção tomar conta de mim e o desfecho se faz com o trovador anunciando solenemente.

Both had given everything they had
A lover's dream had been fulfilled at last
Forever still beneath the lake

O pobre ser sabia que seu destino não poderia ser outro.
Tudo se encerra como começou, instrumentos produzindo puro lirismo, poesia em forma de música.
Essa vai fundo no coração!
JORGE ALENCAR

Um comentário:

ivampiro disse...

Raramente alguem expressou tão bem o que sinto quando ouço genesis, parabens pelo bom gosto!