segunda-feira, 16 de setembro de 2013

ROBERTO ROMANELLI MAIA







SEMPRE ENCONTRAREMOS UMA
FLOR SE SOUBERMOS PROCURAR
 
Roberto Romanelli Maia
Escritor, Jornalista e Poeta



O jardim da praça estava deserto!
 
Ao notar um banco vazio me sentei para sentir o perfume das plantas e das flores e observar os passantes que traduziam em suas faces, de forma clara e transparente,  o que estão vivenciando.
 
Dizer que me sentia no melhor dos mundos não seria verdadeiro pois quando se reflete demais sobre os acontecimentos do dia e sobre aqueles que impactam nossa vida a curto, médio e longo prazo, tudo parece ser menos alegre e luminoso e a própria luz em nosso interior esmaece um pouco.
 
Surpreendi-me; saí de um estado de puro êxtase e de uma quase anestesia com a chegada, próximo a mim, de um menino, idade aproximada de 7/8 anos, que talvez cansado de brincar sozinho, parou na minha frente.
 
Suas palavras, repletas de alegria, soaram como aquelas vindas de um anjo:" veja o que encontrei, disse ele!"
 
Na sua mão trazia uma flor,  com suas pétalas já caídas, prestes a fenecer.
 
Sorri, talvez com um sorriso pálido, e voltei a me concentrar no livro que estava a ler. Mas o menino não se fez de rogado; sentou-se ao meu lado, como se quisesse me transmitir algo superior, que ainda não tinha sido revelado.
 
Ele levou a flor ao nariz e declarou com autêntico estranhamento:
 
Sinta, o olor é ótimo, e ela é bonita também... Por isso a apanhei nesse jardim: ela é sua.
 
Claro  que a flor à minha frente estava morta ou morrendo, pois não apresentava mais nenhuma de suas lindas cores vibrantes.
 
Não se via mais o laranja, o amarelo, nem o vermelho, mas eu senti que não poderia deixar de recebê-la e de pegá-la em minhas mãos.
 
Então, agradeci e disse-lhe que a aceitava de coração.
 
No entanto, percebi que ao invés de colocá-la na minha mão, ele a segurou no ar, sem que percebesse de imediato a razão.
 
Observando melhor  a face do menino, Só  então pude notar, pela primeira vez, que o garoto era cego e que, consequentemente,  não podia ver o que tinha em suas mãos.
 
Minha voz sumiu.
 
Lágrimas desceram pelo meu rosto, revelando-se ao sol, enquanto lhe agradecia por ele ter escolhido a mais bela e a melhor flor daquele jardim.
 
Ele sorriu para mim e disse apenas: de nada.

Afastou-se e então voltou a brincar, sem perceber a importância do que tinha feito e do significado que esses momentos, vivenciados por mim, teriam em meu dia.
 
Sentei e pus-me a pensar como ele teria conseguido me enxergar embaixo daquele velho carvalho que se escondia no jardim da praça.
 
Percebi que certos acontecimentos em nossa vida não necessitam de explicações e que aquele menino, dentro de seu coração, tinha  sido abençoado com uma verdadeira visão divina.
 
Entendi, através dos olhos de uma criança cega, que nós, humanos, esquecemos que o problema não está no mundo, e sim dentro de nós.
 
Caí em mim, agradecendo a Deus por todos os momentos em que mesmo tendo sido cego, pude ver e sentir a beleza da vida,  apreciando-a dentro de minhas limitações.
 
Encontrei dentro de minha alma, através dessa experiência única, a certeza de que cada segundo é só meu, mas que também posso compartilhá-lo com outros a quem quero bem.
 
Mas que, sem dúvida, cabe a mim saber vivê-lo com autenticidade, naturalidade e sabedoria.
 
Só então levei aquela flor, aparentemente sem maiores atrativos, às minhas narinas, e pude então sentir a plenitude da fragrância de uma bela rosa, tão única e especial.
 
Pude de fato, pela primeira vez em muitos dias, sorrir de forma plena, enquanto do outro lado da praça aquele garoto, com outra flor em suas mãos, estava certamente prestes a mudar a vida de outro ser humano, que necessitava dessa flor em sua vida.
 
Sim, através dessa flor descobri que ainda existem Verdades e Princípios definitivos e eternos.
 
Que o verdadeiro amor está na maneira como enxergamos as coisas; e que basta olharmos com carinho para os outros e para o que está a nossa volta, que tudo ficará menos triste e mais alegre, saudável, feliz e reconfortante...
 
Até mesmo uma flor que morreu ou que está morrendo....

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