quarta-feira, 13 de agosto de 2008
LIVRO DE SOLIVAN BRUGNARA
O Encantador de Serpentes, Livro de Poemas do Paranaense Solivan Brugnara
A poesia de Solivan Brugnara é diferente, especial, magnífica. Mantras, orações, blues elípticos? Tudo a ler. Também aqui e acolá tangerinas, pinturas, raios fúlgidos, sementes, frases para chaveiros, venenos gozosos. Diz ele: “Buda descansou à sombra de uma árvore/A árvore morreu/Mas a sombra ainda está lá” Taí um fragmento-apresentativo da poética de Solivan Brugnara. Já pensou? Algo zen, close translúcido. “Sou poeta porque gosto de lamber folhas em branco/Lembra leite materno”...salpica ele. Página de rosto. A poesia de Solivan Brugnara fala. Leva fé e bagagem. Como tudo é matéria prima para o fazer poético, os poemas dele dizem de uma ótica extremamente sensível. E ele pensa o mondo cane para redefini-lo sacro-sanscrito, finamente espiritual, em artes e criações purgando o verbo viver por um prisma humanista, contemplador, melhorado, claro. Essa é a dele. Poesia é tudo o que move. E o que verte sob o olhar do artista ourives da palavra fazendo o diferencial. A poesia de Solivan Brugnara é o que abrange o humanus mais infinitalmente telúrico no macadame de si mesmo. Fios desencapados da poesia pura e cristalina, na rota de fuga (ai a espécie!) feito um perene tear de granizos. Sim, somos todos serpentes (seres-entes) encantados na sua confeitaria de açúcares díspares. Nuances, contradições, ambigüidades, toleimas. Ele dá uma releitura de um mundo pueril no aprisco de suas inteirezas. E o nosso mundaréu de uma selva de cimento armado perdidinho. Ele, feito um sábio, um monge, recupera o aproveitável, destila, ventila, dá-se. Há encantários também. Quase salmos. A faca cega acordando, a mão trazendo o fotograma, a pincelada magna meio mantra, meio oração, meio moendas e engenhos d´almas. Foca sentidos. Coloca-nos frente a frente com véus indizíveis. Ficamos molóides quando o lemos. Voltamos para dentro de nós mesmos, e só nós sabemos o que é estar lá em revisitança. A sua fala interior, de uma maneira ou de outra, rebusca coisas que perdemos atrás de uma estrada de tijolos amarelos. Ele recupera andanças e paisagens, feito uma enorme roda-cotia de sabenças. A poesia nesse diapasão, mesmo assim, ainda às vezes transgride, fragmenta matizes, adota ritmos, quebra-os, desmonta andaimes íntimos de paisagens perdidas nas paredes da memória. Meio Belchior, meio Gonzaguinha, meio Tom Jobim, ele dá seu testemunho bem chão que é a nossa cara. Na enxovia do poema, a aleivosia de fluxos recorrentes (do in/consciente?). Prosopopéias e rapapés. Sal e vinagre também. Talvez mundos e fungos, ícaros e ácaros. E logo desperta a consciência inevitável de nosso desencarrilhamento existencial. Estamos todos perdidos? E o lado sentidor do poeta? A mão hábil, a olaria do ser, a sofrência e a perda. Rocambole de idéias. Cortes. Nódoas da vida, nichos dela, jazidas de construções epigramáticas. Para o poema, tudo é; vetor e orgânico, ralo e lirismo, organismo sensorial de entregas e resultantes diletas de. Criar é se afirmar como ser. A coletânea O Encantador de Serpentes mostra o poeta em fibra e lucidez, recodificando signos ficantes de um mundo insano. Pois não é que ele tem jeito próprio, peculiar, estilo e vertente. Vida louca? Olha o rock do Cazuza. Um peregrino que sonda o calibre das palavras, os flancos delas, os cabimentos e os universos em movimentos. Compõe poemas. Edifica, transmuta, corrói quando soa feito um templo nas nuvens e deposita-se num mosaico de letramentos e livramentos. Arames da memória, pensares (talvez por falta de peças de reposição para o ser tão pouco humano nesses tempos tenebrosos), torpedos poéticos com tons de cítaras, harpas, tudo num embonitamento fora de série. Quando não irônico ao pé da letra. Foi o que li/vi (senti) de muito gostosamente lê-lo nessas novas paragens. Todo poeta res/pira pelo círio ardente de suas próprias criações-colheitas, em livros-testemunhos. Os loucos herdarão a guelra, numa futura Atlântida pluridimensional entre pirâmides marinhas, oásis cósmicos, cavaleiros trovatores, campos de lavandas náuticas. O que virá do passado nos surpreender no quartzo-róseo do futuro? Poetas dão testemunhos de cismares enluados, radares edificantes, revisões e tabuleiros, incensos e recolhimentos, pois na versalhada do viver/crer/ser, quer no baratinado surgimento das idéias, quer entre cabides de pregos, sempre haverá a voz que canta no deserto, a voz que soa na montanha, a voz que edita no mosteiro, a voz que imprime em livro os cânticos dos verdes campos do Paraná. Solivan Brugnara dá seu testemunho em alto estilo. Sensível e conferidor de resultados do verbo viver, mostra asas de resistências na sensibilidade aflorada, dentro de sua ótica madurada a depurar poemas muito além dos estúpidos que fermentam impropriedades. Ele sabe o que faz. Ele faz bem. Ele é do ramo. Árvore que viça poemas. E assim se enlivra, livrando-se do que cria muito bem feito um liquidificador do que capta e dilue em versos, dizendo mais coisas maravilhosas dessa vida do que nós mesmos captamos na correria da sobrevivência sacrificial. Afinal, o sol é grátis, a poesia é seqüela de labirintos, e escrever é dar um registro de luz. Solivan Brugnara pintou mais um livro.
BOX:
Livro Encantador de Serpentes, Autor Solivan Brugnara, Francisco Beltrão, Paraná, 2007 E-mail do autor: solivan90@hotmail.com
Editora: Calgan Editora Gráfica Ltda
RESENHA:
Silas Correa Leite - E-mail: poesilas@terra.com.br Site
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