terça-feira, 29 de setembro de 2009

ENSAIO SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL


Ensaio sobre o Aquecimento Global
Dib Curi
Não se mede a civilização pela tecnologia e pelos bens disponíveis no mercado, mas sim, pelo respeito à Vida.Na antiguidade, as pessoas explicavam os fenômenos naturais através de mitos. Os mitos eram estórias de grande simbolismo sobre a origem do mundo. Na Grécia, o aparecimento do ser humano era explicado pelo mito de Prometeu, considerado o pai da humanidade.Conta-se que Prometeu, apaixonado por sua criação, roubou o fogo dos deuses para dá-lo aos homens. O fogo simboliza, entre outras coisas, a inteligência e o poder dos engenhos. "O fogo forneceu à humanidade um meio de construir armas e subjugar os animais. O fogo propiciou a fabricação de ferramentas com que cultivamos a terra. Com o fogo aquecemos nossa morada e nos tornarmos independentes do clima. Criamos a arte da cunhagem das moedas, o que facilitou o comércio." Com o fogo, o ser humano transformou a natureza. Veio, muito mais tarde, a Revolução Industrial, as máquinas e as cidades, discípulas das máquinas, movidas pelo fogo. As chaminés das indústrias, o asfalto e os carros nos engarrafamentos são os maiores ícones do fogo. O Aquecimento Global é a sua principal consequência.Passando pela madeira, carvão, pólvora e petróleo, o fogo modificou o mundo e a nós também. O fogo brando que nos aqueceu e nos fez progredir se transformou em labaredas descontroladas de novas ambições, de desejos insaciáveis e de medos sem medida. Nos tornamos hiperativos para atingir o que desejávamos e evitar o que temíamos. Consumistas irracionais, logo imitaríamos o fogo a arder e a consumir tudo ao nosso redor.Na antiga Grécia, havia uma certa repulsa aos homens que dedicavam todo o tempo de suas vidas ao trabalho para acumular metais e moedas. Foram chamados de negociantes (neg-ócio - negação do ócio). Segundo os gregos, estes homens não trilhavam seu próprio destino, mas se moviam apenas por conveniências ou em busca de vantagens pessoais.Atualmente, bilhões de pessoas são obrigadas à hiperatividade e ao oportunismo, reféns do sistema econômico criado pela visão gananciosa dos homens de "negócio". Para estes homens, o sentido da Vida está na competição que assegura um domínio baseado numa miragem de poder. No prolongamento deste delírio da vaidade, o objetivo social seria apenas o de gerar empregos para os outros. Para tal, seria preciso educá-los para serem operadores dos empregos necessários. No fim, a Vida, obra máxima da poesia universal, foi escravizada por uma centena de cães famintos por ossos enterrados, que seguem a esburacar a Terra toda para construir seu grande "esqueleto" final, educando todos para o mesmo tacanho objetivo.Por outro lado, na antiguidade, o ócio criativo era muito valorizado. Sem um excesso de ambições, desejos, medos e ansiedades, o ser humano poderia olhar mais para sí mesmo. Através da busca da harmonia interior, ajustava-se melhor à trilha de seu próprio destino, descobrindo a justa medida do seu Ser. Tal era o único caminho para uma cidadania ética, vocacionada e criativa.E por falar em justa medida, depois do seu furto, Prometeu foi chamado à presença do grande Zeus que lhe acusou de causar grande dano à humanidade, pois deu o fogo, mas não a justa medida do seu uso. Antes de ter descoberto a verdade sobre sí, o ser humano tinha sido dotado de um poder que poderia levá-lo à extinção.Lembro-me de uma frase do senador Sarney: "O poder corrompe". Na verdade, seja por que motivo for, a desmedida atiçou a ganância muito antes de expandir a sabedoria. Não precisaríamos de tanta correria por desenvolvimento econômico se a riqueza, o poder e a cultura que temos fossem melhor distribuídos.A causa do Aquecimento Global está dentro de nós. A responsabilidade é desta rotina civilizatória que insistimos em seguir sem questionar, porque cada um é obrigado a negociar as vantagens pessoais que levará no processo. Enquanto cada qual tenta se salvar, todos juntos vão naufragando e se intoxicando na fumaça do efeito estufa.As chamas desta luxúria desenvolvimentista parecem ter saído do controle. O mundo se aquece e nos sufoca de várias maneiras. É preciso, urgentemente, repelir as idéias de maior produtividade, que estão reduzindo as pessoas a meros parafusos de engrenagens frívolas e indiferentes. Estas engrenagens estão esmagando os nossos melhores valores, nos desviando de nós mesmos e aquecendo a biosfera, emporcalhando a natureza e desrespeitando a Vida. É preciso lembrar sempre que a "Civilização" se mede pelo respeito à Vida e não pela tecnologia e pelos bens disponíveis no mercado...
Dib Curi é editor do Jornal Fórum Século XXI
http://www.forumseculo21.com.br

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