segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

PASCHOAL MOTTA




POEMA NECESSÁRIO / 100

Belo Horizonte, janeiro, 2010



Edição

Phrasis Assessoria Texto Consultoria

Seu texto em melhores mãos depois das suas

paschoal.motta@gmail.com



Esta centésima edição é enviada 2.901 endereços com poemas de ANDERSON BRAGA HORTA e homenageia a BRANCA BAKAJ (Rio de Janeiro) e a JOSÉ GERALDO PIRES DE MELLO (Niterói), ambos residentes em Brasília-DF.


AÉREO



O melhor de mim

está solto no vento.

Mãos, raízes, searas

e outras nuvens que invento.



Ai, o melhor de mim

no vento é que está.

Utopias, pandorgas

que menino avento.



Entretanto maduro

para todos os ares,

os semeio, e mais colho

aurassóis: cata-vento.



E, arando brisas, onde

me lamento, aí canto.

Pois o melhor de mim

frutifica no vento.


(Exercícios de Homem, Comitê de Imprensa do Senado, 1978)





ÓRFICA



I



Que ser é esse de que o céu se espanta?



O corpo esquartejado

levam-no os rios, bebem-no os mares,

vai com o vento nos ares.

Faz-se terra na terra.

Torna-se nada em todos os quadrantes.



Mas a cabeça canta.



II



Que corpo é esse arcaico

animado de um fogo

entre o sagrado e o laico?

Corpo que se destroça,

fogo que se levanta.



III



Ai, o corpo se esfaz em limo, em lama.

As pernas, extintas, erram por seiva.

As mãos, arrancadas, crispam-se por frutos.



Mas a cabeça

canta!



(Quarteto Arcaico, EGM, Jaboatão dos Guararapes, 2000)




TELEX



Para Rumen Stoyanov



A POESIA É A FONTE EM QUE ATIVAMOS A SEDE.



A POESIA É O ALIMENTO QUE IMPEDE A SACIEDADE.



A POESIA É O ESPINHO QUE NOS PROTEGE DA FLOR.



MAS A POESIA É FLOR, OU PROMESSA DE FLOR.



A POESIA É A ROSA QUE INVENTAMOS PRÉVIA.

A POESIA É O NADA NOS-CRIADOR QUE MODULAMOS.

A POESIA NÃO É A REDE, NEM O MAR, MAS O LANÇAR DA REDE AO MAR.

A POESIA É O PLÁGIO DO NÃO VISTO.

ATENÇÃO:

A POESIA É UMA EXPLOSÃO CONTROLADA.



(Cronoscópio, Civilização Brasileira, Rio, 1983)





TANGENTE



No Mar Encoberto

p l á c i d o

ideiaemoção (palavra) =

a c (s)

b’ r o

cego(s) na superfície. Nas

entrepalavras verde-

(rasgada agora crespa)

-lucila a água fluidíssima.

Sobrejacente a

nave navega, nada.



(Cronoscópio, Civilização Brasileira, Rio, 1983)







SONETO ANTIGO



Tanto, tanto de amor me eu tenho dado,

hei-me em tantas fogueiras consumido,

que fora de esperar no peito ardido

nada me houvera de ilusão sobrado.



Porém quanto mais sonhos hei nutrido

deste manancial inesgotado,

mais o tenho, no peito, avolumado:

que mais forte é amor, se dividido.



E se o destino tenho marinheiro,

volúvel me não chamem, ou perjuro:

que do amor sou apenas passageiro,



em porto inda o mais doce, não aturo,

e no mesmo travor do derradeiro

já prelibando estou o amor futuro.



(Soneto Antigo, Thesaurus, Brasília, 2009)







POETA VERSÁSTIL, PRODUTIVO E PRESENTE



Anderson Braga Horta nasceu em Carangola, MG, em 1934. Reside em Brasília desde 1960. É poeta, contista e ensaísta. Seus livros Altiplano e Outros Poemas, Marvário, Incomunicação, Exercícios de Homem, Cronoscópio, O Cordeiro e a Nuvem, O Pássaro no Aquário (saídos entre 1971 e 1990) e outros até então inéditos foram enfeixados em Fragmentos da Paixão – Poemas Reunidos (Massao Ohno, S. Paulo, 2000), ganhador do Prêmio Jabuti 2001. Além disso, publicou Pulso (Barcarola, S. Paulo, 2000), Quarteto Arcaico (EGM, Jaboatão, 2000), Antologia Pessoal (Thesaurus, Brasília, 2001), 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (Galo Branco, Rio, 2003) e Soneto Antigo (Thesaurus / FAC, 2009).

Em prosa, pela Thesaurus / Fundo da Arte e da Cultura: A Aventura Espiritual de Álvares de Azevedo: Estudo e Antologia (2002), Sob o Signo da Poesia: Literatura em Brasília (2003), Testemunho & Participação: Ensaio e Crítica Literária (2005), Criadores de Mantras: Ensaios e Conferências (2007) e os contos de Pulso Instantâneo (2008).

Traduziu e publicou Traduzir Poesia (Thesaurus, 2004). Em parceria, traduziu ainda, entre outros: Poetas do Século de Ouro Espanhol / Poetas del Siglo de Oro Español, com Fernando Mendes Vianna e José Jeronymo Rivera; estudo introdutório de Manuel Morillo Caballero (Thesaurus / Consejería de Educación y Ciencia de la Embajada de España, 2000); Poetas Portugueses y Brasileños de los Simbolistas a los Modernistas, org. de José Augusto Seabra (Instituto Camões / Embaixada de Portugal em Buenos Aires / Thesaurus, 2002; versão para o espanhol, com Rodolfo Alonso, José Jeronymo Rivera, José Antonio Pérez, Kori Bolivia, Manuel Graña Etcheverry, Rumen Stoyanov e Ángel Crespo; notas sobre os poetas brasileiros por José Santiago Naud); Victor Hugo: Dois Séculos de Poesia, com Fernando Mendes Vianna e José Jeronymo Rivera (Thesaurus, 2002); O Sátiro e Outros Poemas de Victor Hugo, também com FMV e JJR (Galo Branco, Rio, 2002); Antologia Pessoal de Rodolfo Alonso, com José Augusto Seabra e José Jeronymo Rivera (Thesaurus, 2003); Contos de Tenetz, antologia de Yordan Raditchkov, com Rumen Stoyanov (Thesaurus / FAC, 2004); História dos Ideais, de Eduardo Mora-Anda (Thesaurus, 2006); Antologia Poética Ibero-Americana, com Fernando Mendes Vianna e José Jeronymo Rivera, org. de Pavel Égüez (Cuiabá, 2006).

SOBRE O POEMA NECESSÁRIO / 99



─ ELMAR CARVALHO. Belos poemas. A Poeta Elza Beatriz tem muito talento e criatividade.

─ ASTRID CABRAL. Contente de restabelecer contato com você. Obrigada por enviar os belos poemas de Elza Beatriz. Nutro grande admiração pela poesia dela.

─ RONALD CLAVER. O poema é sempre necessário, e este 99 é belíssimo e muito necessário. Viva Elza!

─ JORGE FERNANDO DOS SANTOS. Belíssimos poemas, os da Elza Beatriz.

─ ELENICE BARATELLA. Superobrigada pelo presente. Não conhecia a pérola: Elza Beatriz. Estou, sem exagero, encantada com os poemas. Diria que além da sutileza drummondiana, uma pitada da melancolia da grande Cecília Meireles. Obrigada pelo valioso presente. Tratarei de garimpar os livros dela.

─ FRANCIRENE GRIPP. Eu gosto muito da poesia de Elza Beatriz! É preciso que seus poemas sejam lidos por muitas pessoas!

─ MARIA LÚCIA SIMÕES. Fiquei comovida com o Poema Necessário 99. Recordar, lembrar com toda emoção a grande poeta que é Elza Beatriz é agradecer a Deus tê-la conhecido. Conversamos apenas uma vez em casa de Yeda Prates e ligeiramente. Mas sua obra poética é minha velha amiga. Sabia de sua história de vida tão triste. Quando ela morreu e Yeda me contou, rezei para que estivesse enfim, com o coração em paz.

─ CLODOMIR MONTEIRO. Meu terno amigo. Minha dívida contigo vai além de minha possibilidade de pagá-la. Aumenta a cada novo Poema Necessário e este 99 que recebo. Este está também primoroso com poemas da Elza Beatriz.

─ JOTA DANGELO. Abri hoje o meu e-mail e fiquei comovido. Tive vontade de chorar. Lembrei-me de Elza Beatriz, minha quase-vizinha no Santo Antônio, uma fazedora de versos inesquecíveis. Obrigado pelo presente desta manhã.

─ MARIA PIEDADE BARRETO (Pitucha) Gostei muito da poesia da Elza Batriz. Valeu!

─ ARICY CURVELO. Sua crônica está muito boa. Atingiu-me. Estive refletindo como se conhece uma pessoa, corresponde-se, depois de algum tempo as obrigações e trabalhos criam lacunas e espaços em branco... De repente, você fica sabendo que aquela pessoa faleceu. Assusta verificar quão depressa um ser humano passa e se vai.

─ JOSÉ CAETANO CARVALHO. Gostei da seleção de poemas da Elza Beatriz. Poeta de valor! Destaque para Partilha. Obrigado pelas emoções.

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