quinta-feira, 5 de junho de 2008

O ETERNO MUTANTE EXPOSTO PARA A CÂMARA


O eterno mutante exposto para a câmera
Documentário ‘Loki?’ mostra vida de Arnaldo Baptista
Ricardo Schott
Lóki?, documentário sobre o ex-mutante Arnaldo Baptista, que está sendo feito desde 2004 – antes mesmo da volta do grupo – e deve estrear mês que vem, deixa qualquer fã do músico em compasso de espera. O material selecionado para a edição final do filme, produzido pelo Canal Brasil e dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, já soma três horas de duração, e pode virar um seriado a ser transmitido pelo canal, ou um longa menor para ser exibido em cinemas e festivais. Enquanto a banda continua sem Arnaldo, a memorabilia do músico, com ou sem Mutantes, recebe sua melhor exposição.
– Recuperamos material que estava indo para a lixeira – revela o diretor.
Fontenelle achou, no depósito da TV Cultura, uma imagem raríssima dos Mutantes dividindo o palco com os Novos Baianos, em 1969, num programa chamado Jovem urgente.
– Eles cantaram Banho de lua (sucesso de Celly Campello). Temos também um clipe de lançamento do Loki? (primeiro disco solo, de 1974), exibido no Fantástico, com Arnaldo cantando Será que eu vou virar bolor?, tocando piano num caminhão.
A idéia surgiu quando Fontenelle e o produtor André Saddy produziram um especial com Arnaldo para o programa musical do Canal Brasil Luz, câmera e canção, em 2004, na época do lançamento de seu último solo, Let it bed. O projeto foi crescendo e culminou numa ida do diretor, do produtor e da co-produtora Isabella Monteiro para assistir ao show de retorno do grupo, no Centro Cultural Barbican, em Londres, em maio de 2007. É o ponto no qual o filme começa.
– O filme é sobre o Arnaldo, mas os Mutantes permeiam a história. Não daria para falar dele sem falar da banda – garante Saddy, que não esconde a condição de admirador. – O rock nacional é o Arnaldo, deve tudo a ele. Nossa idéia foi resgatar sua genialidade.Um lado exposto em Loki? é o do Arnaldo pintor. A equipe pediu ao ex-mutante que pintasse um quadro que simbolizasse sua vida. A elaboração da tela aparece no filme, entremeada com depoimentos de Tom Zé, Lobão, Liminha, Lucinha Barbosa (mulher de Arnaldo) e Sean Lennon (filho do ex-beatle e fã dos Mutantes). O músico adorou a experiência.
– Me pedem músicas, mas nunca tinham me pedido para pintar um quadro – brinca Arnaldo. – Foi como se alguém filmasse a gravação de um disco.
Um dos depoimentos mais tocantes é o de Sérgio Dias, guitarrista (até hoje) dos Mutantes e irmão de Arnaldo. Dois anos antes do retorno do grupo, Sérgio disse querer voltar a tocar com o irmão e até pediu desculpas a Arnaldo.
– Lucinha comentou que isso ajudou na volta dos dois ao convívio, já que a declaração foi ao ar no Luz, câmera e canção – lembra Saddy.
Rita Lee, ponto sensível na vida de Arnaldo, não quis falar, mas está bastante presente. Autorizou todos os usos de imagens e de fonogramas e surge no quadro de Arnaldo quando ele pinta uma moça loura e escreve na tela: "Sinto muito".
– Depois ele troca os olhos azuis do desenho por olhos castanhos, parecidos com o da Lucinha – conta Fontenelle, que gravou depoimentos reveladores de Arnaldo sobre a ex-mulher. – Ele faz um mea-culpa, diz que deveria tê-la entendido mais e comenta que, antes da Rita, a figura feminina para ele ainda era a mãe. Mas fala disso com leveza, sempre brincando.Enquanto Arnaldo pinta e escreve – seu primeiro livro, Rebelde entre os rebeldes, saiu há poucos meses pela Rocco – os Mutantes, com Sérgio e Ronado Leme (bateria) da formação clássica, e Bia Mendes nos vocais, iniciam turnê. Fãs antigos da banda, o diretor e o produtor acreditam que tudo está como deveria.
– O Sérgio tem o direito de recomeçar. Talvez não seja como eu gostaria que fosse, mas ele tem esse direito – conforma-se Saddy.

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