terça-feira, 4 de agosto de 2009

EDITORA GLOBO LANÇAMENTOS


RAINHA ALBEMARLE
OU O ÚLTIMO TURISTA

Diário de viagem do filósofo à Itália mostra um Sartre e uma Itália diferentes
rainha_albemarle_grd.jpgA rainha Albemarle ou o último turista – fragmentos, de Jean-Paul Sartre (192 pp.), é um diário de viagem inacabado escrito pelo filósofo francês durante e logo após uma visita à Itália no outono de 1951. Seu texto foi estabelecido e anotado por Arlette Elkaïm-Sartre –filha adotiva de Sartre, que também responde pela apresentação – e traduzido por Júlio Castañon Guimarães.
O subtítulo, fragmentos, se explica não tanto pelo texto ser constuído de pequenas partes esparsas, mas porque Sartre, envolvido em seguida em outros projetos, principalmente políticos, deixou o livro inacabado, sem formar um todo orgânico. Mas isto não importa, porque é perfeitamente coerente com o projeto em si. Como explicita a “Apresentação”: “Esse [recente] desejo de escrever em liberdade logo se volta para a própria Itália. Em Roma, Nápoles e Capri, ele toma notas, essencialmente descritivas, em suportes improvisados. [Depois] em Veneza, continua a escrever em um caderno, escolhendo as palavras para fazer a presença da cidade vibrar – [o relato] assume [então] a forma de um diário, com um tom que permanecerá nas versões posteriores – mistura de emoção e ironia”.
Ironia, tratando-se de Sartre, se entende. Emoção, entende-se menos, pois esse é o homem que tentou juntar literatura e filosofia, narração e tese. Mas A rainha Albemarle ou o último turista revela um Sartre diferente, que quer respirar mais livremente depois de dois anos exaustivos dedicados ao livro sobre Jean Genet, e antes do início de seu engajamento político direto, que se avizinha e que ele naturalmente adivinha.
A Itália é o cenário ideal para isso. Primeiro, porque Sartre a ama. Segundo, porque a Itália é a Itália, o mais caloroso e colorido dos países europeus, e ao mesmo tempo o mais cheio de história e de arte, o que estimula os sentidos mas também a inteligência desse turista incomum. Nas palavras da “Apresentação”: “A propósito de tudo o que se oferece a seus olhos, uma moita, um postigo fechado, a echarpe de uma passante, o Turista [...] busca o segredo das coisas, [enquanto] o Tempo – um dos grandes temas destas páginas – é apreendido emocionalmente e pelo intelecto de modo simultâneo; [toda] descoberta é logo narrada e transmitida à intuição do leitor com sua coloração subjetiva, pelos meios sutis e diretos da literatura, sem que intervenha a argumentação própria da filosofia”.
Não falta, porém a história: o subtítulo, O último turista, explica-se então por três motivos: ele é o turista da última estação do ano, pois viaja no outono (e pode assim ver o país como os turistas do verão não poderiam); ele é o último de uma longa linhagem de intelectuais e artistas europeus que, a começar por Montagne, fizeram uma espécie de peregrinação estética e existencial à Itália; por fim, ele é uma testemunha do fim da História, pois à época, com o início da Guerra Fria, parecia certo que, ou a Revolução Mundial extinguiria a Era da Burguesia, ou o mundo acabaria numa guerra nuclear.
Mas como o mundo ainda não acabou, pode-se por ora viver a experiência rara de juntar inteligência e prazer viajando pela Itália com Jean-Paul Sartre como guia turístico.
Ficha técnica:
Título: A rainha Albemarle ou o último turista – fragmentos
Autor: Jean-Paul Sartre
Editora: Globo
Gênero: Diário de viagem
Capa: Warrakloureiro
Preço: R$ 33,00
Número de páginas: 192
Formato: 14 x 20,5 cm
ISBN: 978-85-250-4705-2

Nenhum comentário: