sexta-feira, 13 de julho de 2012

LUIZ ROSEMBERG FILHO









 “ O espetáculo é o capital num grau tal de acumulação que se torna imagem.”

                              GUY DEBORD

       “SOBRE O CONCEITO DE ESPETÁCULO”

        Na epistemologia, saber e poder manusear, poder compreender, poder dispor. O saber está vinculado ao mundo prático, o qual não é somente condição de possibilidade para qualquer enunciado, mas também o lugar efetivo onde a enunciação pode ser produzida. Portanto, a investigação do saber como conceito epistêmico remete ao prático pois o saber revela-se em instância que vincula o homem ao mundo. Daí não aceitarmos o uso sensacionalista, massificador, retrógrado, tacanho – sendo o espetáculo a continuação da velha forma de se fazer política e cultura.
        E mesmo só sendo uma indução econômica e militar ao fascismo, sabe bem como cristalizar-se como mercadoria desejada, no lusco-fusco das imagens. O espetáculo é soberano. Inexpressivo, mas potente ideológicamente. Infinito como recomeços, age nos Partidos e meios de comunicação. Comovente se necessário, é uma expressão patética da indiferença pelo saber. Preexistente na política das guerras, e trapaceador na comunicação de massa sua glória é ser um culto ao idiotismo de “celebridades” fabricadas pelo capital acumulado.
        Digamos que a máquina de guerra do espetáculo age politicamente do cinema à TV, passando pela publicidade e mesmo pela fotografia. Poderoso e “rico” se afirma também como poder, atuando na política como necessário, para impor os seus abortos e Partidos vergonhosos, em pleno século XXI. E tal soma de irrealidades nos remete a quê? Só ao abismo do vazio como afirmação do espetáculo pobre e empobrecedor. O injustificável tornando-se razão soberana. O inexpressivo como interioridade do investimento. E, é só o que justifica o espetáculo: o dinheiro! Mas não é pouco? E o triunfo da técnica sobre as idéias, é o quê?
        Os ideólogos do banal, dizem que é a cristalização do progresso como obra de arte. Como pode lixo ser transformado em arte? Automatizado, o capitalismo volta a se transformar em fascismo, interiorizando a tacanhez truculenta da classe dominante. Digamos que o espetáculo faz parte dos discursos vazios apresentados ou defendidos, pelos meios de comunicação. Servindo para amedrontar e impor à ideologia dominante. Que com a globalização, passou a ser ostentação de uma infinidade de idiotas, e que no jogo da vida, empenharam-se a só fazer “sucesso”. E o que é o sucesso na ortodoxia do dinheiro? Talvez, uma reprodução de fascismos como base de formulações conservadoras necessárias à insalubridade das idéias. 
        E, é onde reina o espetáculo: na imobilidade forçada do outro, a consumir seu próprio lixo devidamente globalizado. Como afirma o sociólogo Zygmunt Bauman: “ Como todas as outras sociedades, a sociedade pós-moderna de consumo é uma sociedade estratificada.” Não havendo por tanto, espaços para o sonho, o prazer e à criação. Quão pesado nos é, viver num tempo de ignorâncias predatórias! Ora, que significado tem esse lastro anti-civilizatório da barbárie como espetáculo? Como se pode lucrar com a industrialização do horror? À luz dessas questões é que compartilhamos da superação do “complexo econômico colonial” arcaizante e ultra-egoístico, para reconstruirmos um saber inovador vinculado à nossa verdadeira história da luta de classes. Que se vá pensar e fazer o espetáculo em Hollywood, que ao invés de desaparecer segue privilegiando tiranias e lacaios vindos da publicidade e da TV.
        Digamos que a função primeira do espetáculo se afirma na substituição das idéias, e se realizando na erosão do saber dando primazia ao vazio ideológico do nosso tempo. E, ao reduzir tudo ao silêncio, torna-se absoluto como postura. E, é preciso repetir sempre que a falsidade reina em nosso sistema político e cultural. Não só como fraude, mas como verdade única do capital. E “como o melhor não se ilumina com palavras”, é preciso voltar a privilegiar no cinema, o movimento da linguagem que atua silenciosa na história. Ou seja, saber como revelar “o silêncio na palavra”. O silêncio-linguagem, articulado com um novo pensamento. É preciso reconhecer como falta, um pensamento mais justo para as imagens.
        Sem mudanças ficaremos com “Avatares”, “Cidades de Deus”, “Tropas de Elite”, “Se Eu Fosse Você XIV”, “Cilada.com”... e outras besteiras. E mais: em nosso país, digamos que o espetáculo é a única herança da guerra, reminiscente excedente do fascismo. E sua extensão vai da lucrativa indústria bélica, à velocidade da informação moderna marcada pelo progresso mediado pela desumanização da comunicação, tipo os programas religiosos na TV. Todos, verdadeiros lixo! Ora, como materializar a transformação desse mundo? Como dar significação à poesia? Que função tem a beleza? Seria possível uma desmaterialização do horror permanente?
        Ora, se o planeta não é nada em relação as dimensões do espaço, porque seríamos alguma coisa em relação ao espaço terrestre? Mas,insistimos! Queremos respostas para tudo. Como se tudo pudesse ser respondido nessa homogeneização medíocre em que se vive vendo a TV, e votando em Partidos-espetáculos descritos falsamente pela mídia como sendo diferentes entre eles. Na verdade, o espetáculo é um espaço artificial convenientíssimo as tantas manipulações do poder, a remodelar e ordenar fascismos.
        Ousaríamos até dizer que invasão e espetáculo estão intimamente ligados no desenlace fatal rumo à barbárie. Procurar suas origens, pará-se no capita através do qual tudo se justifica: Malafaias, Datenas, Ratinhos, The Partie, Amaury Jr... Ora se tudo é mercadoria, tudo tem seu preço. Quanto vale uma novelinha na TV, um time de futebol ou uma campanha eleitoral? Alguma diferença? Tudo e todos clichês visíveis de um Estado militarizado, a defender a burrice aliada a mesmice. Mas é justamente onde atua o espetáculo: numa espécie escancarada de ressurreição de fascismos. E que, o inchaço de inverdades é a supremacia do espetáculo.  E se é verdade que “o caos é o sagrado em nós”, como afirmava Heidegger, como fazer da linguagem uma rica experiência poética, permanente?
        Entre escombros e ruínas a história vai sendo vivida. Mas... poderia ser diferente? Respeitosamente falava o escritor Lima Barreto: “Neste país viçoso a mania das letras é perigosa e fatal. Quem sabe sintaxe aqui é como quem tem lepra. Cura-se! Isto é um país de cretinos! convença-se... letras, só as de câmbio...” Enfim, status aqui é só o da mediocridade sempre espetacularizada. Mas...é uma espécie de controle perverso do saber. O vazio opaco que antecede a morte. Uma total falta de lucidez a desmantelar resistências. Fantoches brincando de representar como se aqui fosse Hollywood, com a TV usando e abusando da sua não-expressividade, num reality-show formatando o espectador num pós-graduado em malandragem e alienação, vendido numa falsa Idade de Ouro. 
        Já o cinema, como sendo a nova indústria do cosmético, se afunda no seu próprio lodaçal. Conceito bastante interessante para um possível Oscar. Mas com isso, perdeu-se a singularidade de um cinema mais intenso e criativo a serviço da imaginação, da linguagem e da poesia como faziam Humberto Mauro, Glauber Rocha, Fernando Campos, Joaquim Pedro, Rogério Sganzerla... E como ainda fazem a duras penas Tonacci, Sergio Santeiro, Ana Carolina, Eduardo Coutinho, Fabio Carvalho, Isabel Lacerda, Ricardo Miranda... e alguns poucos mais. Já os afoitos, subservientes e oportunistas migraram para a TV, e seus muitos clichês. Não fazem mais cinema, e sim novelões e novelinhas medíocres! Asnos que pararam num tempo constrangedor e estéril, a consumir e produzir um aperfeiçoamento do coco como mercadoria do espetáculo. Pena... _____________________________________
                    Luiz Rosemberg Filho/Rô
                  Janeiro de 2011 a julho 2012 

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