quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

ADRIANA MANARELLI


Teia
(Adriana Manarelli)


Me recordo
O olho celeste
E a prata e a lavanda e a alfazema
Que por mais preciosa
Nenhuma joia hoje
Terá maior valor.
Minhas tripas são de uma pulsação de fogo e gelo
E somente meu cacho de mogurim
Para sempre em mim
Perdurou.

Beldade?
Entulhos, pocilga
Escaramuças, larvas
Do pó ao pó.
Enquanto essa carne patética se alimenta
O coração, Paganini, te arrebenta.

Toda manhã o olho escaldante e minha flor de maio
São minhas primevas relações.
Espasmos banais que nanam as queimaduras expostas
De primeiro grau
Dessa rede ancestral
Vínculo vital de centúrias feminas
Vibram o núcleo do qual posso me fartar
Com a única célula indivisível.

25/ 12/ 2011- TELA: CHAGALL

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