quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A MUDANÇA PELO VOTO


A MUDANÇA PELO VOTO
Até que ponto o voto é um instrumento de mudança nas sociedades ditas democráticas? Há séculos o sistema representativo pôs em xeque a hegemonia feudal e determinou o fim do absolutismo monárquico. Da mesma forma consolidou o modelo político burguês através da composição “montesquiana” de poder.No regime democrático, o voto adquiriu a importância capital de instrumento de manifestação da soberania popular. Entretanto, esta é uma visão parcial, pois, reduz a participação política apenas ao processo eleitoral. Uma tomada de posição que envolva a busca por resultados é uma escolha política: uma greve, uma reunião comunitária, uma passeata, podem ser instrumentos muito mais efetivos de mudanças que uma eleição. Portanto, não basta escolher um ou outro candidato se as próprias condições em que se dará a escolha são insuficientes para determinar uma transformação. É preciso sim, a conscientização de que toda mudança é uma tarefa coletiva e exige o esforço conjunto por objetivos comuns. A participação popular no processo político brasileiro, quando não exercida por meio da dominação das elites, sempre foi tratada como um caso de polícia. No Brasil já existiu voto de cabresto, voto censitário e somente na década de 30 as mulheres passaram a ter este direito. Palmares, Canudos e hoje o MST, são exemplos históricos de resistência e expressão da vontade popular. A historiografia oficial dá pouca importância a esses movimentos exatamente por registrá-los (e estigmatizá-los) sob a óptica dos detentores do poder.O didatismo das campanhas pelo voto consciente esbarra na insuficiência da própria mídia jamais ter sido utilizada como um instrumento de formação política (quando ela não está afinada exatamente com os interesses escusos que denuncia), afinal o que é ser consciente numa sociedade caracterizada pela troca de favores, em que vale ser “amigo do rei” para se obter o máximo de vantagens possíveis? Talvez a noção mais exata de nossa realidade esteja expressa no pensamento do filósofo francês J. P. Sartre: A “palavra” democracia tem um sentido que caiu por si mesmo em desuso. Etimologicamente, é o governo do povo. Ora, é evidente que, nas democracias modernas, não há povo para governar, porque o povo não existe: havia um povo no Antigo Regime e em 1793; não há mais povo atualmente, porque não se pode chamar de povo homens completamente individuados pela divisão do trabalho, sem outra relação com outros homens que a profissional, e que, a intervalos de cinco, seis, ou sete anos, fazem um ato bem preciso que consiste em ir apanhar um pedaço de papel com nomes impressos e enfiar esse papel numa urna. Não considero que haja poder do povo nisso.
CAETANO PROCOPIO

Um comentário:

telescopionegro disse...

muito bom esse texto,para refletir com muito carinho.