terça-feira, 25 de outubro de 2011

ARNALDO BAPTISTA


Arnaldo Baptista volta aos palcos só com piano: ‘É um lado mais íntimo meu’

Por Gabriel Nanbu | Container Conteúdo – qua, 12 de out de 2011 12:02 BRT
yahoo


Arnaldo Baptista, o cérebro criativo dos Mutantes, retornou ao palco após 30 anos de hiato, com duas apresentações comoventes do show "Sarau Benedito". No sábado (8) e no domingo (9), munido apenas da voz e um piano de cauda, o músico revisitou canções de sua carreira (solo e com os Mutantes) no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Ele foi recebido calorosamente pelo público e contou ao Yahoo! que se surpreendeu com a experiência.

Foto: Fabio Heizenreder

"(A apresentação) com piano foi um lado mais íntimo meu. Eu não tinha ideia de como iria me portar no palco, e foi gostoso", disse o roqueiro, que atualmente trabalha em seu próximo disco solo, "Esphera", no sítio em que vive, em Juíz de Fora (MG).

Nas duas apresentações, pequenas e intimistas (o teatro do Sesc Belenzinho possui 392 lugares), o músico foi prestigiado por um público na faixa dos 30 anos, que teve de disputar os poucos ingressos disponíveis, esgotados em apenas quatro horas. Eram pessoas que nem haviam nascido na época de lançamento de seus principais discos. Ainda assim, cantaram hinos como "Balada do Louco", "Ando Meio Desligado" e "Será que eu vou virar bolor?".

Com a voz um pouco fraca no começo do primeiro show (um tanto, talvez, pelo nervosismo da estreia), o mutante foi crescendo no decorrer da apresentação. Ele brincou com a plateia, fez caretas, tocou "Blowin' in the Wind", de Bob Dylan, e terminou o show ovacionado.

Arnaldo concedeu uma entrevista ao Yahoo! e falou sobre os shows em São Paulo, música e vida.

Você parecia um pouco nervoso em seu primeiro show em São Paulo. Como foi realizar a apresentação nesse formato intimista?
Eu, idealista, estava pensando em fazer um show com amplificador valvulado, mas, para isso, seriam necessários bateria, contrabaixo e guitarra. Só com piano e voz, tornou-se algo mais íntimo. Eu não tinha ideia de como iria me portar. É gostoso porque cada show é muito diferente do outro. Gostei do resultado. É uma experiência nova para mim, nunca havia tocado nesse formato.

As letras ficam mais evidentes só com piano e voz.
Sim. Em shows dos Mutantes, o público ficava berrando entusiasmado. Nesses últimos, houve uma espécie de silêncio. A plateia ficou muito atenta. O show vendeu rapidamente, e parece que o público gostou.

Grande parte do público nem tinha nascido quando o Mutantes acabou. A que se deve essa renovação de seus fãs, na sua opinião?
Não sei se estou certo, mas acho que a conexão com o público tem a ver um pouco com a segunda infância que eu tive. Depois de eu cair (Arnaldo despencou do quarto andar de um hospital psiquiátrico em 1982 e teve sequelas), tive de aprender a falar e a entender a vida com o lado infantil. Acho que compartilho isso com esse público. Isso me deixa entusiasmado.

Você pretende levar o show "Sarau Benedito" a outros lugares?
Sim. É só uma questão de acertar. Está em aberto.

Como você compõe, atualmente?
Faço bastante coisa no piano. Não é sempre que consigo fazer muitas músicas. Às vezes, fico três dias sem produzir nada. Mas, às vezes, parece que abre uma torneira e faço duas ou três músicas numa sentada. Muita gente me pergunta o que me inspirou a escrever a "Balada do Louco". É como comparar a beleza de uma miss com o da Audrey Hepburn. Não dá para fazer igual. O que me inspira a compor varia muito em função do que eu tenho ao meu alcance no momento. Hoje, sou levado a compor muito em função de pintura (Arnaldo também é artista plástico).

Como vai ser o "Esphera", seu próximo disco?
Ele vai tentar abranger a totalidade do meu lado musical. Se por um lado, tem uma música que fala sobre um gatinho brincando com cetim, mais infantil, também existe uma canção como "Here Comes the Devil", que fala sobre algo mais espiritual. É difícil prever o que será o "Esphera".

O Sérgio Dias (irmão de Arnaldo) ainda faz shows ao vivo com Os Mutantes. Você chegou a vê-los no Rock in Rio?
Eu não sabia o dia e acabei não vendo. Vi o Frejat e outras coisas, mas não gostei muito. Não tinha instrumentos Gibson. Não tinha amplificadores valvulados. Isso me fez achar os shows um pouco decadentes.

Você encararia um festival grande?
Eu, pessoalmente, penso em tocar sozinho: banda de um homem só. Se conseguir estruturar, posso fazer um show com guitarra, contrabaixo e bateria, mas isso envolve um pouco de trabalho logístico, e eu ainda não estou pronto. Por isso, estou tentando o piano agora, mas um dia vou levar adiante essa ideia.

Desperta algum sentimento em você quando toca músicas dos Mutantes?
Fico muito contente com o fato de o público saber as letras, mas eu simplesmente sei de cor essas músicas. Às vezes elas entram na minha mente. Foram tantas vezes que as toquei que nada me evoca lembranças ou pessoas.

Muita gente vê a ‘Balada do Louco’ um espelho de sua própria experiência de vida. Você se considera feliz, como diz a letra?
Eu me sinto feliz por estar pesquisando constantemente. Um exemplo disso é eu tocar só com o piano, algo que fazia e casa, mas não imaginava levar a um show. Isso, para mim, é importante, porque eu consigo estudar até onde consigo chegar com esse instrumento. Vou descobrindo minha própria capacidade. Em termos gerais, creio que também sou feliz. Estou do lado de pessoas que eu amo.

O que diria a sua ex-companheira de Mutantes, Rita Lee, se a encontrasse hoje?
Ah, pra falar faz anos e anos que não falo com a Rita Lee. Eu prefiro não pensar no que não aconteceu, porque eu não tenho ideia mesmo. Acho que nem falaria nada de profundo. Mas não gostaria de falar sobre isso agora.

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