sexta-feira, 7 de março de 2008

A IMAGEM DA ARTE


A IMAGEM DA ARTE
No mundo moderno, se as imagens tornaram mais sedutoras que a realidade, por outro lado, a realidade, muitas vezes, parece mais delirante que a fantasia. Mas a arte inventa ou transforma imagens para construir pensamentos. A filosofia, a literatura, a arquitetura, a arte têm nos ensinado que produzir um pensamento, uma obra é sempre um debruçar, muitas vezes obsessivo, sobre escritos e trabalhos alheios, como Cézanne no Louvre. É uma condição indispensável saber lidar ou se apropriar do discurso do outro. Elaboramos discursos através de outros discursos. Flaubert, por exemplo, que desejava escrever um livro sobre o nada, para escrever um romance lia e consultava mais de mil livros. Para construir uma imagem o artista precisa saber ver e ler com dedicação o pensamento do outro e entender as conseqüências de suas próprias reflexões. Ou melhor dizendo, é indispensável uma relação mais íntima com as imagens que foram depositas na história, para se construir uma imagem mas afinada com as condições da arte de nosso tempo. A revolução tecnológica alterou as nossas relações com a natureza e com o outro. Passamos a viver mergulhados numa segunda natureza constituída de máquinas e imagens, que basta ao artista escolher uma imagem e designar como arte. A velocidade da máquina alterou a paisagem e a compreensão do mundo. Mas a partir do final do século passado, vem sendo subestimada essa cultura que desejava criar imagens para dar significado ao espaço moderno, como queria a Bauhaus, em favor de uma cultura crítica, que duvida da ideologia do progresso tecnológico e quer interrogar o sentido das imagens e das paisagens que nos cerca, como propõe uma facção da chamada arte contemporânea. Passamos de uma era moderna para uma era pós-moderna. E a realidade da imagem, da forma, do que é físico e do que é imaterial é vista com outros olhos, outros modelos de conhecimento. Temos de saber conviver também com a multiplicidade de teorias como: A fenomenologia da percepção, a semiologia, a poética da forma e do espaço... Sem falar no conjunto de imagens que fazem a história da arte. Temos consciência de que a percepção não é natural, ela é filtrada por diversas óticas, diversas teorias, condicionadas até pela sociedade e pela psicologia. O homem é um ser sensível e um ser inteligível, ele é dominado por sistemas de signos e só percebe aquilo que seu repertório permite interpretá-lo. Os elementos de definição de uma imagem ou os significados de uma obra de arte podem não ser aquilo que se percebe num primeiro instante. Se a construção de uma obra de arte, atualmente é mais fácil com a tecnologia e os novos meios, a tarefa do artista é fazer da imagem um lugar de reflexão dotado de uma poética, que desperte nos sujeitos que olham a capacidade intuitiva e a capacidade reflexiva. A imagem da arte é a materialização de uma idéia e uma imaginação, é necessário ainda uma relação de pensamento e de intimidade com a matéria. Existe a técnica e existe a poesia, da mesma forma que existe o sonho e a realidade, o passado e o futuro. A memória. A criatividade (se podemos falar em criatividade) se alimenta do sonho e da imaginação, sem negar os cerimoniais da razão. Há uma relação entre o lógico e o afetivo. Aliás, o que se busca é um equilíbrio entre o lógico e o afetivo, a técnica e a poesia. Por trás de uma obra de arte há sempre um sonhador, há sempre uma história pessoal onde se mistura razão e sentimento. Mas a arte é a configuração ou a imagem que ela assume e não o discurso sobre ela.
Almandrade/BAHIA

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